domingo, 21 de setembro de 2008

Paulson, Brady e Ásia

As receitas acabam por ser basicamente iguais desde que as economias se financializaram com o excesso de recursos que os países menos desenvolvidos produtores de petróleo, de produtos industriais (China) e aforradores (como o Japão ou mesmo a Europa) começaram a aplicar as suas poupanças nos mercados internacionais, diga-se, Estados Unidos:
  • Anos 70 e 80 - A primeira salvação dos bancos dos EUA - a acentuada subida do petróleo constituiu uma brutal transferência de recursos dos países consumidores para os produtores que usaram essa "liquidez" não para investir no seu desenvolvimento mas para se endividarem e realizarem aplicações no mercado financeiro norte-americano. A queda do petróleo no início dos anos 80 correspondeu ao refluxo desses recursos e à Crise da América Latina. Bancos norte-americanos estavam "cheios" de obrigações emitidas para financiar a dívida da América do Sul e foram salvos pelo designado Plano Brady que em conjunto com o FMI e Banco Mundial basicamente compraram essa dívida e venderam-na depois com desconto, as Brady Bonds. Assim nasceu a primeira história, demasiado grande para falir.
  • 1997 - A crise no sudeste asiático que lançou promissoras economias como Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia e Malásia no caos com início em Julho de 1997 com o colapso do baht tailandês. Nesse ano, a assembleia anual do FMI foi em Hong Kong e lembro-me da tensão entre esses países, especialmente a Malásia, e a banca norte-americana. George Soros foi violentamente atacado pelo presidente da Malásia, o que o obrigou a fazer uma conferência de imprensa a explicar-se - todos tinha demasiado presente o que Soros tinha feiro ao Banco de Inglaterra na crise do mecanismo cambial europeu em 1993. O apoio à banca norte-americana veio depois, mas o FMI foi obrigado a reflectir e a corrigir três aspectos:

i) Não chega olhar para o défice público, é preciso olhar também para a
balança de pagamentos e sobretudo para o seu perfil de maturidades de
financiamento - essas economia dependiam de financiamentos de curto prazo;

ii) a livre circulação de capitais não é boa em termos absolutos e não sobrevive
com taxas de câmbio fixas - como aliás já se tinha visto na crise de 1993 no
mecanismo cambial europeu;

iii) os programas de estabilização têm de levar em
conta as dores da população para que uma crise financeira não se transforme numa
crise política.

O FMI nunca mais foi o mesmo. Paul Krugman foi o primeiro a dizer que aquelas economias era Tigres de Papel

  • 1998 - A crise russa e de alguns países da América do Sul - O 'hedge fund' Long Term Capital Management colapsa por exposição à dívida pública russa. O fundo era gerido por um prémio Nobel e por um ex-administrador da Reserva Federal. O ambiente desse ano na assembleia geral do FMI em Washington era de velório. Mesmo assim a Reserva Federal salvou alguns bancos gastando cerca de 4 mil milhões de dólares a salvar instituições financeiras - a segunda história, demasiado grandes para falirem

Vivemos a terceira história demasiado grandes para falirem.

4 comentários:

Anónimo disse...

Creio que a Helena se está a esquecer do escândalo das "Savings & Loans", no tempo de Ronald Reagan (salvo erro).

Esse caso vem descrito em alguns livros de John Kenneth Galbraith (creio que em "A short history of financial euphoria").

As Savings & Loans eram pequenos bancos locais que se dedicavam a empréstimos hipotecários e que estavam muito regulamentadas, por forma a só poderem investir nesse setor e nunca falirem. Depois a administração de Reagan resolveu desregulamentá-las, para que elas pudessem investir noutras coisas. O resultado foi a falência generalizada dessas companhias, que tiveram que ser todas "limpas" pelo contribuinte norte-americano.

Luís Lavoura

Helena Garrido disse...

Caro Luís Lavoura,
Tem toda a razão. Deveria ter referido a crise das "Saving & Loans". Embora, s enão esrou errada, essa crise tenha sido mais local que global. Não?

Anónimo disse...

Certo, foi uma crise local (apenas dos EUA). Mas custou uma data de massa aos contribuintes americanos, mesmo assim. E deveria ter servido de aviso às autoridades americanas.

Luís Lavoura

Helena Garrido disse...

De facto tem toda a razão. Mas as autoridades norte-americanas pareceram imunes a vários avisos. Esperemos que não o sejam a este.