segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A (frágil) retoma


Tal como o INE, também o Banco de Portugal confirma que que a economia deixou de se afundar por causa do consumo privado.
O aumento do poder de compra, gerado com a acentuada descida das taxas de juro e queda do preço dos combustíveis permitiram esta recuperação do consumo - que pode mesmo ter aumentado em Julho.
A subida do poder de compra de quem está empregado superou a redução dos que perderam o emprego.
A curto prazo este poder de compra vai parcialmente desaparecer com a subida do preço dos combustíveis que se está já a verificar.
A subida das taxas de juro, com impacto nas famílias que compraram casa com crédito virá mais tarde.
A perspectiva de que o desemprego continue a aumentar, com uma nova vaga em Setembro, permite ainda antecipar que esta subida do poder de compra que está a alimentar a retoma seja insuficiente para compensar a quebra registada entre quem perdeu o emprego.
Os tempos e as dimensões m que se verificarem a subida dos combustíveis e das taxas de juro serão determinantes para evitar um novo afundamento da economia portuguesa.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Desabafos

Gostava mesmo muito que a Presidência da República não me estivesse a fazer assistir a isto:

1. Presidência da República teme estar a ser vigiada, no Público de 18 de Agosto pela manhã
"Como é que os dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem os assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? Estamos sob escuta ou há alguém na Presidência a passar informações? Será que Belém está sob vigilância?". diz membro da Casa Civil do Presidente

2. Presidência não comenta temor de estar a ser vigiada, notícia generalizada no dia seguinte, 19 de Agosto.

Numa história que começa aqui, no Público, com José Junqueiro e Vitalino Canas do PS a "uma eventual participação de assessores do Presidente da República na elaboração do programa do PSD". Diz Junqueiro: "Se isso se confirmar, se Cavaco Silva autorizar, há uma clara interferência na campanha eleitoral"

3. Afinal o Semanário foi o primeiro jornal a divulgar a colaboração de assessores do Presidente no programa do PSD como se pode ver na síntese de Paulo Querido.

4. E Manuela Ferreira Leite fez eco desse apoio dos assessores do Presidente no seu site Falar Verdade no dia 7 de Agosto.

O que leva a Casa Civil do Presidente da República de Portugal a revelar, dia 17 de Agosto, ao Público, que receia estar sob vigilância, por causa de um comentário feito por socialistas, dia 15 de Agosto, sobre a colaboração de assessores da Presidência no programa do PSD, que já estava nos jornais e no site da líder social-democrata desde dia 9 de Agosto?

Confesso que a última coisa que esperava era assistir a uma guerrilha entre a Presidência da República de Portugal e o Governo a pouco mais de um mês de umas eleições em que se corre o risco de não ter um resultado que garanta estabilidade governativa. Em plena e grave crise económica.

Questões como a possibilidade de um Governo estar a vigiar outros órgãos de soberania são demasiado graves para serem usadas como parecem estar a ser.

Gostava mesmo muito de não estar a assistir a isto.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Longo prazo - o desenvolvimento


A fonte é o último relatório das Nações Unidas.
Portugal foi o país do conjunto dos Quatro da Coesão que fez o maior progresso no desenvolvimento no período de 1980 a 2006 - boa parte concentrado entre os anos 80 e 2003, eras de Cavaco Silva e António Guterres.
Nos últimos anos voltou a registar algum, marginal, progresso.

domingo, 16 de agosto de 2009

Fim da crise? Qual fim?

"É demasiado cedo para decretar o fim da crise financeira"
Axel Weber, presidente do Bundesbank em entrevista ao Suddeutsche Zeitung e traduzida aqui.

Razões: o aumento do crédito malparado.
Um alerta que em Portugal já foi feito pelos presidentes do Santander Totta e BCP, em entrevistas ao Negócios.
E ainda pelo presidente do Deutsche Bank Josef Ackermann como já se tinha referido por aqui.

Enfrentamos um risco muito sério de um novo mergulho em recessão, a tal crise em W.

sábado, 15 de agosto de 2009

(Des)Poupança pública e privada

Retirada de uma intervenção de Michael Porter sobre Portugal.

Dedicada a todos quantos estiveram obcecados pelo défice orçamental (incluindo eu).
Hoje a situação pode ser um pouco diferente.
Mas a falta de poupança privada continua a ser mais preocupante que a pública.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A diferença entre perder e deixar de ganhar

"I-
Alguns dias antes da crise, um consultor financeiro lhe recomenda investir todas
suas economias, que somavam R$100mil à época, em ações. Seis meses depois, seu
portfólio estava avaliado em R$50mil, logo você perdeu 50% de sua reserva
financeira.
II- No início deste ano, um consultor financeiro lhe disse para
deixar todo o seu dinheiro – R$100mil – embaixo do colchão, já que a crise
estava tão forte que mesmo uma aplicação em renda fixa no banco seria arriscada.
Seis meses depois, você verifica que se tivesse investido na bolsa, estaria hoje
com R$150mil, logo você deixou de obter um ganho de 50% sobre seu
patrimônio.
Embora o prejuízo efetivo seja idêntico em ambos os casos, sua
percepção seria bem diferente se você estivesse no cenário I ou no II, não é
mesmo? No primeiro caso, você provavelmente estaria querendo esganar seu
consultor de investimentos; enquanto que, no segundo, suas chances de perdoá-lo
(“melhor pecar por excesso de zelo do que pela falta”) seriam bastante altas. Só
que isso não significa nada em termos reais, é só a percepção dos fatos, uma
ilusão: nos dois casos, sua perda foi de R$50mil ou 50% do seu patrimônio. Tão
simples quanto isso.
"
Toca Raul!!! usa este exemplo para criticar Paul Krugman - que disse que afinal não vamos ter uma grande depressão como a de 1929.
Discordo da crítica. A história que conta é óptima mas para ilustrar o valor que damos a quem gere o nosso dinheiro com extrema prudência.
As preferências são neste caso - como em muitos outros - assimétrias: preferimos não ganhar a perder.
E a banca ia pagando um preço muito alto por não ter ajustado a sua oferta a essas preferências - ou, mais grave ainda, por ter pensado que esta a respeitar essa preferência para si para os seus clientes.
Os banqueiros estiveram na última mais de uma década a avaliar mal o risco

terça-feira, 11 de agosto de 2009

TAP: racionalidades em conflito

A renovação da frota automóvel por parte da TAP é um interessante caso de conflito de racionalidades.

A racionalidade financeira recomendava que se substituíssem os carros - reduz os custos. (não há a alternativa de acabar com o direito a carro a quem já o tem).

A racionalidade económica e social recomendava que se mantivessem os mesmos carros dada a conjuntura em que vive a empresa - prejuízos e salários sem aumentos.

Consciente ou inconscientemente, a administração da empresa escolheu a racionalidade financeira. E reacendeu a instabilidade económica e social na empresa.

Qual teria sido a melhor escolha? Se a greve assumir a dimensão que os sindicatos afirmam - 70% dos trabalhadores - os prejuízos financeiros causados podem ultrapassar a poupança

domingo, 9 de agosto de 2009

A crise vista pela Rolling Stone


"The Great American Bubble Machine" na Rolling Stones. A máquina é a Goldman Sachs

A conjuntura...

... mostrada.

Liberdades - editorial e de oportunidades

A ERC deve merecer todo o nosso respeito institucional. Mas parece não o querer.
A decisão de limitar a liberdade editorial recomendando que se suspenda a colaboração, em colunas de opinião, de todos quantos constem das listas de candidatos às próximas eleições é:
  • levar a um tal limite a igualdade de oportunidades que, no limite, todos deveiam ter acesso aos espaços de opinião dos jornais, rádios e televisões
  • elevar a igualdade de oportunidades a um valor quase absoluto, acima da liberdade editorial e até, como salienta a Confederação de Meios, acima do direito ao trabalho.
  • No limite, para se respeitar o entendimento de igualdade de oportunidade subjacente à recomendação da ERC, assim que nascemos devíamso todos ser colocados no mesmo espaço para termos oportunidades iguais.

O que é mais assustador - além da incompreensão do que é a liberdade de imprensa e editorial e o que é, no limite, a liberdade individual - é saber que a ERC, como funciona, é o resultado do entendimento dos dois grandes partidos do regime, o PS e PSD.

Há muito a corrigir nos media, em Portugal, como no mundo em que há liberdade de imprensa. Mas não é por aqui.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Os prejuízos das Empresas do Estado

O Relatório de 2008 do Sector Empresarial do Estado foi divulgado hoje. Alguns pontos que vale a pena reter:
  1. Prejuízos globais ultrapassam os mil milhões de euros, mais 165% que em 2007. Mas podem ser explicados pela queda da bolsa com impacto na Parpública.
  2. Os prejuízos operacionais depois de subsídios - que medem a margem do negócio sem os efeitos financeiros - foram de 403,9 milhões de euros, contra 169,4 em 2007, mais 338,4%.
  3. Os Transportes - um clássico - e a Saúde - o que começa a afirmar-se - são os sectores que alimentaram estes prejuízos.
  4. Os subsídios concedidos pelo Estado diminuíram. Justificação no relatório: a queda deve-se à redução dos subsídios para investimento por causa do fim do QREN.
  5. O recurso a empréstimos aumentou 47,9%, subida que é explicada por três empresas: Parpública - sociedade financeira afectada pela queda da bolsa -, Refer - um clássico - e as Estradas de Portugal.

Os novos monstros começam a crescer.

Homens e mulheres

Terminando o domingo




Tirado de Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

A origem das perdas na banca

A perspectiva de perdas da banca agora com o crédito malparadoEncontrado aqui com fonte no relatório do BIS

domingo, 2 de agosto de 2009

A crise em W... ou em WW

This crisis has consisted of a series of earthquakes, with changing epicenters (...) Bad loans are the next wave. Banks that have fared relatively well so far will also be affected by this.”
O problema será o crédito malparado de empresas e consumidores. No segundo trimestre o Deutsche Bank colocou mil milhões de euros em provisões para perdas de crédito, contra os 135 milhões em 2008, no mesmo trimestre.
O presidente do Santander Totta Nuno Amado fez declarações no mesmo sentido na entrevista que deu ao Negócios - publicada na sexta-feira passada. Diz Nuno Amado que os próximos 18 meses vão ser ainda piores. Para a banca por causa do crédito malparado.
Esta promete ser uma crise em W. E esperemos que seja apenas um W. E não WW

A frase do dia

"Vou hoje, depois desta visita, começar as minhas férias, embora com muito trabalho devido ao número de diplomas que me acompanham para o Algarve (...) e que quase enchem um bom jipe".
Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva no Redondo