segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Os 'hedge funds' sem risco sistémico?

Não consigo perceber o que leva António Borges a dizer que os 'hedge funds' não têm risco sistémico:

“O modelo dos ‘hedge funds’ provou ser viável e não apresenta risco sistémico”, disse António Borges, na conferência organizada pelo Comité Europeu de Reguladores de Valores Mobiliários (CESR) para debater o futuro da regulação, que decorre hoje em Paris.

Em 1998 o 'Long Term Capital Management' teve de ser salvo pelas autoridades norte-americanas por causa do efeito dominó que teria na banca. Estava altamente endividado e não conseguiria pagar os seus empréstimos devido às perdas apuradas por aplicações em dívida russa.

Estava na altura a seguir a assembleia geral do FMI em Washington. Antes de se saber qual a decisão das autoridades, o ambiente era lúgubre.

Vários estudos do FMI na altura defenderam que era preciso integrar os 'hedge funds' no sistema, ou seja, era preciso supervisioná-los.

Hoje o tema volta de novo como se viu na Cimeira deste fim-de-semana em Berlim - e espero que passem finalmente a ser supervisionados porque têm de facto externalidades negativas que é preciso moderar.

É importante manter os 'hedge funds' - simplisticamente uma espécie de grupo de grandes investidores que juntam o seu dinheiro numa carteira que entregam à gestão de profissionais. Estes profissionais aplicam esses recursos e usam depois os títulos que adquirem como garantia para contrair empréstimos que por sua vez voltam a aplicar em títulos.

Mas obviamente que não pdoem funcionar, pela dimensão que alguns têm, sem regulação. Um 'hedge fund' não é propriamente um grupo de amigos que com meia dúzia de tostões aplicam as suas poupanças na bolsa.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A recessão e o jornalismo




Dia 14 de Novembro de 2008 a primeira página do Negócios:

"Portugal vai terminar 2008 em recessão"

o segundo título mais importante do Negócios no dia em que o INE publicou a estimativa rápida da evolução do PIB no terceiro trimestre. O trabalho estava fundamentado com as previsões da Comissão Europeia e alguns economistas da banca.

Estava o jornal na bancas com este título quando saíram os números do INE. Parecia que o Negócios se tinha enganado. O Instituto dizia que a economia tinha estagnado.

O primeiro-ministro manifestou nesse dia, em publico, o seu desagrado com o título de primeira página do Negócios.
Ainda que o texto estivesse inatacável - citava fontes credíveis como a Comissão Europeia.

Aos jornalistas disse: "A nossa economia resiste e continuará a resistir", afirmou José Sócrates, à margem de uma conferência promovida pela Caixa Geral de Depósitos.

Dia 9 de Dezembro o INE publica os dados finais do PIB do terceiro trimestre e afinal a economia tinha caído ligeiramente face ao trimestre anterior (menos 0,1%).

E dia 13 de Fevereiro o INE revela que o PIB caiu 2% no quarto trimestre face ao trimestre anterior.

De acordo com a definição simplista de recessão Portugal terminou o ano em recessão, como antecipou o Negócios usando apenas as regras jornalísticas - citando fontes como a Comissão Europeia. Fizémos o nosso trabalho e é pena que mesmo quando é feito com toda a seriedade o poder - qualquer poder - seja tão irascível.

Os governos têm o direito e até o dever de gerir as expectativas. Os economistas têm o dever de analisar tecnicamente a conjuntura. Os jornalistas têm o dever de informar como uns e outros lêem a realidade.

O que os governos não têm o direito é de querer que também os jornalistas façam gestão de expectativas. Se o fizessem não estavam a cumprir o seu dever de informar/ relatar o que se passa de forma tão rigorosa como lhes seja possível.

Ninguém está feliz com o estado de recessão agravada pela queda da inflação em que o país vive. Bem pelo contrário. Quem me dera que estivéssemos errados.

Declaração de interesses: Sou jornalista e assumo neste momento funções como directora-adjunta do Negócios.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

"Essas notícias são ridículas"...

... assim se manifestou um participante do fórum desta manhã da TSF.

O debate era o que podemos fazer para ultrapassar a crise, com uma condição, não falar do Estado.

E os motes: o restaurante inglês que - por causa da crise - adoptou a política de cada um pagar o que quer - e assim está a ser falado por todos nós - aumentou certamente a sua clientela e crise não há para ele.
E a cadeia hoteleira que se lançou também para cada um paga o que quer num dia específico.

Tal como aquela famosa notícia que percorreu o mundo de Larry Flint pedir também a ajuda do Estado americano, também estes são casos de 'marketing'. Interessantes, mas de 'marketing' como bem observava o ouvinte da TSF - e foi dizendo, sem que se quisesse ouvir, o responsável da cadeia hoteleira.

A crise como produto é um tema interessante. As operações de promoção que se fazem usando a crise são temas interessantes. Mas na perspectiva da criatividade dos gestores em conquistar clientes em tempos de crise.

Casos em que os media são usados sem sequer repararem.

Desculpas dos banqueiros ... só 15 vezes

O Times contou as palavras ditas pelos banqueiros do RBS e HBOS que estiveram no Parlamento inglês ontem respondendo pelo que fizeram nos seus bancos.
Afinal as palavras "sorry" e "apologise" foram ditas poucas vezes - cerca de 15.
Muitos menos que, por exemplo, "experiência", uma expressão que, convenhamos, é pouco apropriada para quem deixou cair os seus bancos.
As palavras mais ditas foram 'risk' , 'board' e 'banks' - inevitavelmente.

Banqueiros pediram desculpas acabou por ser a notícia.

Uma notícia quantitativa teria de ser qualquer coisa à volta do risco?

Proteccionismo, curto prazo, longo prazo

Questão colocada no Negócios. No momento em que escrevo tinham votado 201 pessoas - a esmagadora maioria defende o proteccionismo.

É um erro. A economia e a história ensinam que é um erro.

Mas quando leio argumentos tão fortes como os de João Rodrigues e Paul Krugman. Não deixo de ter dúvidas.
Enfrentamos o habitual conflito entre o curto prazo e longo prazo?
É verdade que uma política orçamental expansionista nos Estados Unidos - consumidores e devedores - corresponde a fazer pagar impostos aos americanos pelo crescimento dos outros - uma parte do estímulo vai para o resto do mundo. Mas esse resto do mundo consome depois produtos americanos.

Um modelo estático - que olhe apenas para os efeitos de primeira ordem - não me parece que apanhe o impacto global de uma política orçamental. Ganham os outros mas ganham também os americanos.

No caso português, o proteccionismo ainda faz menos sentido. Como economia fechada seríamos indiscutivelmente mais pobres.

O Presidente da República falou sobre isso hoje (ontem).:

E o que escreveu há dias sobre Willem Buiter sobre "Buy American" e "British jobs for British workers"... o caminho para a depressão.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Queremos um banqueiro que seja banqueiro

It is time for banks to behave like banks

No FT com uma violência mais do que justificada.

Criticar o comportamento totalmente irresponsável dos banqueiros não é ser contra o capitalismo. É salvar o capitalismo.

Não nos devemos envergonhar nem sentir que nos estamos a deixar arrastar pelos sentimentos da inveja por criticar os salários e prémios milionários que recebem - e insistem em continuar a receber apesar de alguns só existirem porque foram salvos pelo Estado - que tanto criticaram e tanto conseguiram condicionar e limitar.

O argumento de que sem esses salários não se consegue atrair os melhores - bom com esses salários não se conseguiu atrair os melhores como a situação em que vivemos o demonstra.
E já agora, qual será o emprego alternativo que têm?

Nós já temos um 'bad bank'

Lembram-se da Finangeste? Criada para ficar com o crédito malparado das crises de 1973/74, 1979 e da Revolução. O nosso 'bad bank'.

Pois ainda existe:
Em 2007 teve lucros de 19 milhões dee euros explicados por "outros resultados de exploração"- Não se consegue saber o que é. E apesar dos custos de pessoal terem sido da ordem de 1,5 milhões de euros.
Aqui o relatório e contas anual de 2007 - ou seja, duas folhas, uma com o balanço, outra com a demonstração de resultados. E o semestral de 2008 aqui.
Pelo que se pode ver nas contas e na lista de venda de imóveis já vai fazendo algum trabalho de 'bad bank'.

Pequenos sinais de início do fim da crise

Há sinais de maior oferta de crédito às empresas nos Estados Unidos mas ainda com a procura a cair, como se pode ver aqui.

Também na área do euro começam a existir sinais de alívio, com os bancos a dizerem que estão a restringir menos ao crédito, segundo os últimos dados dos inquéritos aos bancos.

Em Portugal ainda não existe nenhum sinal. Os bancos continuam a afirmar que pretendem restringir ainda mais o crédito.

O Negócios tem hoje um trabalho sobre este tema. (link não disponível)

São os pequeníssimos sinais de retoma, ainda limitados aos EUA e grandes países da área do euro.

Um hamburguer no twitter

O herói do twiiter ou como ofereceram um hamburguer à Alberta:
Uma grande história esta que Paulo Querido aponta, tão bem contada por Pedro Aniceto. :-)

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Sobre a vida (e morte) do jornalismo 4 [e fim]

E estamos condenados a esta miséria?
Sinceramente, acho que sim. (...)
termina jmf num post de leitura obrigatória para quem é jornalista ou se interessa pelo tema pela recomendação de leitura que faz.

Não sou tão pessimista. Mais, não considero que se esteja num estado de "miséria".
  1. O jornalismo e os jornalistas integram o sistema, não estão fora dele. São um dos vectores de peso e contra-peso do equilíbrio de poderes de uma sociedade. Reflectem as suas qualidades e defeitos.
  2. O jornalismo vive momentos de fortíssimos abalos, determinados pelas alterações tecnológicas. É uma das actividades mais abalada pela velocidade da informação e ainda não encontrou o seu novo quadro de actuação no novo mundo. Como conjugar a velocidade de informação com a notícia?
  3. O jornalismo, como muitas outras actividades afectadas pela internet, está a ser em grande parte dirigido pela procura - dar às pessoas o que elas querem. E hoje é muito fácil saber o que as pessoas querem. Para quem defende a liberdade individual de forma absoluta, isto não é um problema. Mas passa a ser um problema quando "o que as pessoas querem" tem efeitos adversos na sociedade - externalidades negativas, como lhes chamam os economistas. Por isso deve existir a regulação, com sensatez.

Sobre a vida (e morte) do jornalismo 3

Acresce ao que já se disse o facto de hoje em dia as redacções serem uma espécie de voz do dono. (...)
continua jmf.

O que merece a minha discordância:
  1. Começo pela contradição de jmf com o seu primeiro post. Se os media publicam e republicam o que uns e outros escrevem - o que se observa factualmente - não se pode verificar, pelo menos na totalidade, essa "voz do dono" através da "luta entre grupos de media, seja através da supervalorização de notícias e personalidades do grupo, seja pela exclusão das dos grupos adversários".
  2. Mas sim, também me parece que é possível comprovar factualmente que órgãos de comunicação do mesmo grupo tendem a dar relevo às notícias produzidas dentro do grupo. Daí não se pode concluir que sejam a "voz do do dono". Todos os grupos trabalham no objectivo de integração de redacções - a famosa turbina informativa que produz notícias para várias plataformas, tv, rádio, papel, online - é o sonho de qualquer grupo de media.
  3. Do ponto de vista puramente jornalístico - à luz do princípio da confirmação da informação antes de a transformar em notícia - é racional que se confie mais em notícias produzidas pelo grupo.
  4. Quanto à questão do papel das redacções e directores na defesa dos interesses empresariais do grupo - tese defendida por todos os partidos que assumem o poder - parece-me manifestamente exagerado tudo o que se diz sobre essa matéria. Se assim fosse, dado o poder que o Estado tem na economia portuguesa, nenhum órgão de comunicação se atreveria a publicar notícias desfavoráveis a um qualquer Governo.
  5. Sim, eu conheço a tese de "criticar para obter o que se quer, ou criticar porque não se obteve o que se quer". A minha experiência diz-me que na esmagadora maioria dos casos, as acusações dos protagonistas do poder não têm qualquer fundamento e parecem ser muito mais estratégias para condicionar a informação.
  6. Dito isto, há com certeza condicionalismos impostos pelo facto de os media serem também empresas. Mas esses condicionalismos, sobre os quais já escrevi numa análise para o caso do jornalismo económico, não danificam o dever de informar e a obrigação de servir os leitores. Nem violam princípios básicos de deontologia.

Sobre a vida (e morte) do jornalismo 2

As redacções portuguesas estão hoje repletas de gente profundamente impreparada. (...)
E não se pense que isto se aplica apenas aos jovens estagiários. Nada disso. Pela escala acima, incluindo editores e mesmo directores, é uma desgraça. Não é apenas o factor juventude - embora também o seja -, mas acima de tudo o factor cultura. Cultura, no sentido mais lato do conceito, mas também mera cultura jornalística. E cultura cívica, principalmente.
escreve jmf no seu segundo post, a ler.

Correndo o risco de ser acusada de estar a defender a corporação:
  1. ...gente profundamente impreparada, não posso concordar. Há hoje nas redacções jornalistas muito mais preparados que no passado, quando se tratam de matéria técnicas.
  2. ... falta de cultura cívica, assim é se incluirmos aqui a leviandade com que algumas matérias parecem ser tratadas. Nomeadamente as que envolvem direitos individuais. Esquecemo-nos frequentemente que não estamos e nunca devemos julgar ninguém. Que, por muito que confiemos numa fonte, quando a acusação ou critica se dirige a alguém, temos o dever de o ouvir.
  3. ... falta de cultura cívica, sem querer desculpar-me, diria que todos nós padecemos desse mal. A leviandade com que criticamos, por exemplo, a classe política é reveladora. Como professora de jornalismo enfrento frequentemente afirmações de jovens alunos sobre a política que são aterradoras, autênticas conversas de café. (que, obviamente, tento corrigir).

Sobre a vida (e morte) do jornalismo

"Um dos aspectos mais curiosos da cobertura jornalística do caso Freeport é a demissão total dos jornalistas (...)
Tudo é publicado e republicado, permanentemente, sem qualquer filtro (...)
A publicação de tudo, sem critério, é a negação do jornalismo. (...)
O pior é que a maioria dos jornalistas está convencida do contrário."
escreve jmf, com selecção feita por mim, no seu primeiro post titulado "A morte do jornalismo" e que vale a pena ler.

Mas também criticar.
  1. Porque as generalizações conduzem sempre ao erro, não me parece que se tenha estado perante a "demissão total dos jornalistas". Há no "caso Freeport' informação nova que foi descoberta por jornalistas. Exemplo: José Sócrates estava no grupo de suspeitos.
  2. "Tudo é publicado e republicado (...) sem qualquer filtro". È uma realidade mas não se aplica apenas ao "caso Freeport". Tem sido uma das consequências do acesso imeadiato à informação, transformada com a internet, em mercadoria que todos passam de uns para outros. É fácil numa pequena busca verificar como há artigos iguaizinhos uns aos outros sem que se consiga perceber facilmente quem é o primeiro autor ou mesmo quem são as fontes, como já assinalei aqui em Jornalista Google.
  3. Alguns jornais internacionais têm contornado essa "cópia" linkando para as notícias dos seus concorrentes, com o alerta de que não são resposnáveis por essas notícias. Parece-me a melhor solução: dá ao leitor acesso a informação sobre o tema que não está validada pelo jornal.
  4. Um dos pontos mais complicados da republicação é ó órgão de informação estar a validar informação que não confirmou. Ou seja, é uma manifestação de confiança no media concorrente - está a dizer, nós confiamos no que o nosso concorrente está a dizer. E, desse ponto de vista, é uma negação do jornalismo.
  5. O critério - ou a ausência dele, como diz jmf - não é puramente jornalístico. O critério resulta da conjugação da existência de elevada procura por uma determinada informação com a ausência de meios para confirmar notícias já dadas e assim proceder à sua selecção. E, mesmo quando se conclui que a informação de outros órgãos não é confirmada pelas fontes do jornal, muitos correm o risco de avançar, à mesma, com ela. Porquê? Não parecem existir prémios para os mais credíveis.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O mistério BCE

As taxas de juro historicamente baixas, com a habitual excepção da área do euro.

O Banco de Inglaterra baixou a sua taxa de referência para 1%, o valor mais baixo desde que foi fundado em 1694.

O BCE não baixou hoje a sua taxa de referência mas admite que voltar a descer dos actuais 2% para 1,5% em Março. Nesta fase coloca de parte a possibilidade da taxa zero, já em vigor nos Estados Unidos.

O BCE continua um mistério - ou resistente a olhar para a realidade, em ser pragmático. Com o tempo que a decisão de Frankfurt leva espalhar-se por toda a economia e conhecendo o estado de calamidade para que estão a caminhar a esmagadora maioria das empresas, já deveria ter neste momento descido mais as taxas de juro.

Para exemplificar: apesar do BCE ter iniciado a descida das taxas de juro a15 de Outubro , em Portugal, as famílias que tiveram a revisão de taxa de juro em Novembro viram a sua prestação auementar significativamente porque a média da Euribor em Outubro foi extremamente elevada.
E, neste momento, quem tem a sua taxa apenas revista semestralmente e teve o azar de ter a revisão em Novembro ainda está a pagar uma elevadíssima prestação. Só em Junho, a esmagadora maioria das pessoas em Portugal estará a beneficiar das actuais muito mais baixas taxas de juro

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Porque não viram a crise, os jornalistas de economia?

Vale a pena ler ainda que só parcialmente aplicado em Portugal.

Por aqui fizémos entusiasmadas - ainda que incompreensíveis - notícias sobre titularizações, compras de acções a crédito e a euforia de todos comprarem casa.

Jornalista Google

Nos últimos dias andei a fazer um levantamento dos despedimentos anunciados em Portugal em buscas pela blogosfera - sim, fazendo de jornalista Google.

Deparei-me com um conjunto de textos todos iguais mas em sítios diferentes sem que conseguisse encontrar:
  1. As fontes originais do levantamento
  2. O texto original

Nem todos os textos eram de meios de comunicação social.

A cópia está generalizada como actividade jornalística?

As agências noticiosas eram, até há uns anos, a única fonte não primária - isto é, a única fonte já intermediada - que usávamos, sem necessidade de confirmação. Hoje parece não ser assim. Qualquer informação googlada ou ouvida, vista ou lida noutro meio é usada como absolutamente fidedigna.

E assim podemos estar a transformar uma informação menos rigorosa ou mesmo errada em "informação".

Um outro exemplo:

O mesmo verifiquei no caso do processo contra o BPP que marcou a última semana. As fontes do Negócios - que tinham de facto informação - garantiam que o processo do Ministério Público estava numa fase muito preliminar não sendo possível ainda configurar o crime. Foi exactamente isso que o Negócios transmitiu aos seus leitores.

Mas vi, li e ouvi vários órgãos de comunicação social afirmarem quais eram os crimes.

Poderia ter concluído duas coisas:

  1. Têm melhores fontes que nós - hipótese provável, já que os jornais de economia raramente têm - excepção feita ao tempo presente - casos de polícia
  2. Confiar nas nossas fontes e ignorar o que os nossos colegas dizem.

Optámos pela segunda hipótese. E assim fomos um dos únicos a não dizer os crimes em causa. (Obviamente que poderíamos sempre dizer os crimes prováveis com base nos Códigos).

Foi uma boa decisão? Do ponto de vista do rigor da informação, sem dúvida que sim. Do ponto de vista do que exigem os consumidores de informação, não sei. Ou, mais directamente, se um caso como este se repetisse várias vezes, como não existe o factor de validação no mercado, quem dá menos passos em frente pode ser o mais prejudicado.

Usando linguagem económica, há falhas de mercado no mercado da informação. Falhas que premeiam a quantidade de informação e podem castigar o rigor e a qualidade - até pelo tempo que esses atributos por vezes levam a ser obtidos. E que, como consequência, podem retirar do mercado quem oferece informação rigorosa e de qualidade.