quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sócrates e Cavaco II

"Eu sempre me empenhei - e nunca contribui para alimentar esta polémica - numa relação com o senhor Presidente da República e com a Presidência da República que seja institucionalmente adequada e correcta"
José Sócrates, o garante da estabilidade

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Cavaco e Socrates - declaração de guerra


Acabou a guerrilha.
Está declarada a guerra entre dois titãs da política portuguesa.
Por causa de escutas que nunca existiram.
Cada um com a sua narrativa sobre o que aconteceu desde Agosto até agora.

E aqui a de Silva Pereira

O campo de batalha passou a ser público.
Cavaco Silva ganhou margem de manobra com a declaração que fez.
E Sócrates mostrou que vai entrar na batalha.
Assim foi a primeira batalha - em empate técnico.

Vamos ter tempos difíceis.

Gostamos mais de nós que os brasileiros

A auto-estima dos portugueses está entre os piores nos conjunto de 33 países... Mas o que "se gostam menos" são os japoneses.

E, por incrível que pareça, apesar de toda a alegria que nos transmitem, temos nós portugueses mais auto-estima que os brasileiros.

Um estudo do Reputation Institute (que não está online) e sintetizado pelo Economist (de onde retiro o gráfico).


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O novo governo

No "Prós e Contras" fica claro que não haverá coligações.

PS, sozinho ou acompanhado?

O PS pode estar entre a escolha de colher os frutos das reformas passadas sozinho e apostar numa maioria absoluta daqui a dois anos e a opção de não arriscar e garantir já uma solução governativa estável com o PP. Que não revelou com Durão Barroso tendência para desrespeitar a coligação.

PS e PP fazem a maioria. PSD e PP poderão ter mais votos que o PS sozinho se os resultados dos eleitores da Europa e Resto do Mundo não derem três deputados aos socialistas - nesta última condição ficam empatados.

A solução governativa mais estável seria uma aliança PS e PP. Como foi a do PSD com PP em 2002.

Mas José Sócrates pode preferir governar sozinho. E repetir 1987 - o ano da maioria absoluta de Cavaco Silva, depois de ter governado em minoria entre 1985 e 1987.

Pode não ser uma estratégia mal pensada. Depois dos efeitos violentos das reformas, o tempo pode ser de colher frutos. E se a economia ajudar, esses frutos podem ser ainda mais visíveis.


O que dizem os números dos resultados eleitorais?
O PS foi o único partido a perder deputados face a 2005. Todos os outros partidos vão estar na Assembleia da República com mais deputados, quando ainda falta apurar quatro deputados do círculo da Europa e do resto do Mundo.

O PS vê a sua representação parlamentar diminuir de 121 para 96 deputados– poderá ainda ter mais dois a três deputados quando apurados os votos dos residentes no exterior. Os votos no PS de 2005 parecem ter-se dispersado um pouco por todos os outros partidos, com o PP e o BE a atraírem mais eleitores que o PSD e o PCP.

O aumento mais expressivo é do CDS/PP. Com 21 deputados (12 em 2005), Paulo Portas regista o mais elevado número de mandatos desde 1987, quando esteve reduzido ao então designado partido do táxi, com quatro representantes no Parlamento. Em 1985 tinha tido 22 deputados que “desapareceram” com a primeira maioria absoluta de Cavaco Silva.

A segunda vitória cabe ao Bloco de Esquerda que em dez anos passa de dois mandatos para 16.

O PSD também acaba por alargar a sua representação parlamentar, aumentando o seu número de deputados de um mínimo histórico de 75 deputados em 2005 para (pelo menos) 78 deputados.

O PCP, que teve o aumento menos significativo, ganha apesar disso mais um deputado que em 2005, ficando com 16 deputados.

Com este desenho parlamentar a aritmética dos deputados determina que o PS apenas consegue uma maioria absoluta numa aliança com o PP. Se tal vier a acontecer, os outros partidos reduzem o seu poder.

domingo, 27 de setembro de 2009

Mata ou morre

A agressividade, a dramatização, a atitude do mata ou morre e até toda a história de ódios e paixões deste mandato tem esta vantagem: reduzir a abstenção.

Um outro factor: a hipótese de os pequenos partidos serem importantes no novo mandato.

Até ao meio dia tinham votado 21,9% dos eleitores.
Pedro Sales no Twitter: Em 2005 votaram 21,9% até ao meio-dia. Como temos mais eleitores registados, votaram mais 700 mil pessoas

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Um demissão, um tiro no pé

A decisão do Presidente da República de demitir Fernando Lima de assessor para a Comunicação Social é um autêntico tiro no pé.

Depois d eo Presidente ter dito que vai falar sobre segurança depois das eleições, dando-nos a entender que se está a passar alguma coisa de grave, o que significa demitir Fernando Lima?

O assessor do Presidente (agora ex-assessor) acompanha Cavaco Silva desde há mais de duas décadas e não faria nada sem o seu conhecimento.

Se informou a imprensa como fonte - e não "encomendou" - foi com o conhecimento do Presidente. È altamente improvável que tomasse uma iniciativa com esta gravidade sem o conhecimento do Presidente.

Tudo isto me recorda o lamentável caso do ex-PGR.

E, neste momento, já não sei se teria escrito isto.
O Presidente da República deve ser ouvido com atenção. Vamos esperar pelo o que nos tem a dizer depois das eleições. Ou Cavaco Silva resolveu actuar num domínio em que tem claramente desvantagem competitiva.

domingo, 20 de setembro de 2009

E se o Presidente...

... esteve mesmo sob vigilância?

Temos levado esse assunto com demasiada displicência.

Lendo o que escreveu o Correio da Manhã - e depois do que escreveu o Público em Agosto - vale a pena olhar para a hipótese de do Presidente ter mesmo estado sob vigilância.

Se assim for grande parte do comportamento do Presidente começa a fazer sentido, e há respostas para as questões e dúvidas que aqui coloquei.


  1. As dúvidas de Abril tinham de ser confirmadas - face à gravidade do problema o Presidente, dando prioridade à estabilidade do regime, tinha a obrigação se usar primeiro todos os meios antes de envolver as instituições - como PGR .
  2. A mais de um ano de eleições e em plena crise económica, gerar um problema de regime era bastante grave.

Continuo sem compreender porque decidiu o PR informar os meios de comunicação social - informar e não "encomendar" - quer em Abril de 2008 como agora em Agosto, esta última de forma bem clara - é preciso não esquecer que a notícia do Público refere "fonte da Casa Civil", expressão que em regra não é usada para referir aos assessores para a imprensa.

Hipótese para a sua opção de informar o público em geral em Abril de 2008: a) tentar resolver o problema por essa via, ou seja, tentar que quem quer que seja que tivesse colocado a Presidência sob vigilância ou escuta recuasse.

Parece-me que levei com demasiada displicência a notícia de Agosto de 2009 do Público.

Não me parece que o PR usasse uma arma como a da Segurança para combater o Governo.

Enfim, não tenho certezas de nada. Só hipóteses baseadas no que foi a prática de Cavaco Silva como primeiro-ministro. E se o Presidente suspeita estar sob vigilância o assunto tem de ser levado muito a sério.

sábado, 19 de setembro de 2009

"A pequena grande crise"

Vamos fazer de banqueiro central.

Um jogo giro - com poucas opções mas muito interessante - sobre a crise financeira.

Um dia lamentável...

... para o país

Como e porque é que o Presidente da República de um país, com os poderes que a Constituição lhe dá e legitimidade que tem, suspeita que tem a sua equipa sob vigilância há mais de um ano e não desencadeia os mecanismos institucionais para acabar com isso?

Como e porque é que o Presidente da República de um país, considerando que existe um problema de segurança no país, diz que adia a sua resolução uma semana?

Como e porque é que o primeiro-ministro de um país concorda com o Presidente e perante um problema de segurança diz que o importante é continuar a campanha eleitoral?

A irresponsabilidade tomou conta das lideranças políticas?

Se há de facto um problema de segurança - e ao que parece há mais de um ano - têm o dever de acabar com ele.

Só se nada disto não é para levar a sério.
Mais um caso dos muitos que já teve esta campanha eleitoral.
Politiquices perigosas.

Um dia lamentável...

...para o jornalismo

O caso (igualmente lamentável) da Presidência sob vigilância):
  • Um jornal, o Diário de Notícias, revela a fonte de uma notícia de outro jornal, o Público.
  • Um jornal, o Diário de Notícias, diz que a notícia de outro jornal, o Público, foi "encomendada"

O caso da compra de votos de militantes do PSD:

  • Um jornal, o I, afirma que a notícia de uma revista, a Sábado, foi comprada.

A ler

Roupa Pendurada

Este ambiente...

... de mata ou morre que se instalou entre os protagonistas políticos está a tornar a convivência muito difícil e o ar irrespirável

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

A política espectáculo

"É a primeira vez que o consigo entrevistar desde que é primeiro-ministro. Os Gato Fedorento conseguiram à primeira"
Maria Flor Pedroso, na entrevista que fez a José Sócrates na Antena 1

Uma extraordinária síntese da grande distância entre o que se diz e o que se faz.

Desde finais de Julho que, em nome do Negócios, pedi uma entrevista a todos os líderes dos cinco partidos representados no Parlamento.

Jerónimo Sousa do PCP e Francisco Louçã do Bloco de Esquerda rapidamente agendaram as entrevistas, conciliando as suas agendas com as prioridades do jornal.

Paulo Portas, do PP, Manuela Ferreira Leite, do PSD, e José Sócrates do PS não tiveram tempo, durante quase dois meses, para dispensar uma hora e meia do seu tempo para serem questionados sobre as políticas que propõem para o país.

Pode ser que até dia 23 de Setembro ainda tenham tempo.

E como se conhece pela orientação editorial do Negócios as questões seriam fundamentalmente sobre o conteúdo das políticas - o que fazer e como fazer. Como foram aliás as entrevistas feitas a Jerónimo Sousa e Francisco Louçã que podem ser aqui vistas parcialmente em vídeo.

Mas todos dizem - os três líderes - que querem falar de de política no sentido de policy e não de política no sentido de politics.
Mas todos dizem que odeiam a política espectáculo, o marketing político, o sound byte que lhes é exigido pelos meios em tempo real como as televisões e as rádios...

Não tenho nada contra os Gatos. Pelo contrário, sou uma grande fã e não perco um. Nem dos actuais, nem os passados. Espero até que o actual programa se mantenha. Quando não há Gatos o país fica pior.

Os Gatos, como as respostas rápidas às televisões e às rádios nos espaços públicos, não são suficientes para contextualizar uma política.

Enfim. Entrevistas de fundo parece que já ninguém quer. A classe política queixa-se do que parece gostar. E do que diz gostar não faz.

Lições para nós, jornalistas.