quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Presidente na TV II

A intervenção do Presidente da República foi muito importante.
Está lançada a contra-táctica sobre o fim da cooperação estratégica.

Cavaco Silva na TV

A intervenção do Presidente da República hoje às 20 horas gerou - e está a gerar - ao longo do dia as mais variadas especulações.

Será que o mesmo aconteceria em Maio, quando Manuela Ferreira Leite ainda não era líder do PSD?

sábado, 19 de julho de 2008

Estrutura, conjuntura e FMI

O debate sobre de "quem é a culpa da crise", do exterior ou do 'interior', leia-se Governo, assumiu nova energia com a análise do FMI e do Banco de Portugal.

Miguel Carvalho no A Pente Fino critica o texto de Sérgio Aníbal no Público por afirmar que "O FMI afasta, deste modo, a tese que tem vindo a ser defendida, nomeadamente pelo Governo, de que o abrandamento económico apenas é provocado pela conjuntura internacional".

Em contrapartida, Pedro Braz Teixeira no Abelhudo defende exactamente o contrário, afirmando que o FMI considera que a crise é interna, ou seja, a culpa é do Governo e não dos factores externos.

Comecemos pelo que diz o FMI logo no ponto 1 da sua análise:

Weaker global economic conditions underscore the importance of addressing
Portugal's long-standing challenges, building on recent achievements. The
deteriorating global economic environment is hampering Portugal's recovery, but
the fundamental problems restraining Portugal's economy are home-grown: wide
current account and fiscal deficits; high household, corporate and government
debt; and, a substantial competitiveness gap. Portugal has been living beyond
its means for many years, borrowing via the banking system from the rest of the
world, raising external indebtedness.

Mais adiante afirma
Growth will likely slow in 2008 to about 1¼ percent, and to about 1
percent in 2009, driven by weaker partner country growth, the international
financial turbulence, and higher commodity prices.
Concluindo:
1. A prevista retoma não se confirma devido às condições externas
2. O que condiciona um crescimento mais significativo em Portugal tem origem em problemas internos: mesmo sem crise Portugal tem um problema de excesso de endividamento e falta de competitividade que o impede de convergir.

Temos problemas conjunturais de origem externa e estruturais obviamente de origem interna.
O Governo doura a situação dizendo que tudo é externo.
A oposição enegrece a situação dizendo que tudo é interno.

América loves Keynes

Depois do pacote fiscal, a administração fiscal prepara-se para lançar um pacote de obras públicas.

Interessante a análise aqui.

Qualquer semelhança com o que se passa por aqui é pura coincidência.
Por lá diz-se - pelos menos alguns - que quanto mais depressa começarem as obras nas pontes, estradas e escolas melhor.
Por cá as obras não merecem assim tanta atenção.
E a economia norte-americana está bem mais endividada que a portuguesa, com a sua banca de rastos.

Sim, é verdade que eles têm o dólar. Mas nós temos o euro. O que não queremos é ficar sem as empresas em mãos portuguesas?

Obras públicas não se exportam

Os avisos de Cavaco Silva:

"Portugal não tem a mínima hipótese de crescer a uma taxa na ordem dos três
por cento e aproximar-se do nível de desenvolvimento da Europa comunitária,
reduzir significativamente o desemprego e de travar o seu endividamento
internacional se não aumentar significativamente a produção de bens e serviços
que podem ser comercializados internacionalmente", afirmou Cavaco Silva, em S.
Miguel de Ceide, Famalicão.
"Se não conseguirmos aumentar essa produção, podemos ter muitas belas palavras e muitas boas intenções, mas é grande a probabilidade de continuarmo-nos a afastar, como aconteceu nos últimos sete ou oito anos, da média de desenvolvimento da União Europeia", frisou.

O caminho da crise




Os indicadores coincidente do Banco de Portugal para a actividade económica e consumo expõem dramaticamente a queda da economia, aquilo que se apresenta como a inevitável recessão nesta segunda metade do ano.




quinta-feira, 17 de julho de 2008

Mais poupança, aconselha FMI

Given Portugal's external imbalances, household savings need to rise over time.
Ainda as receitas para o défice externo.
Recomendação do FMI na avaliação que faz à economia portuguesa no quadro do artigo 4º dos seus estatutos.

Aquele que foi classificado como excessivamente pessimista em Abril - eu própria cometi esse erro - acaba por se revelar hoje como o que estava mais perto do que se ia passar em Portugal ao prever na Primavera um crescimento de 1,3% para este ano. O Banco de Portugal prevê agora 1,2%.

E o FMI prevê que em 2009 o crescimento será inferior ao de 2008. É a primeira instituição a prever que Portugal não retomará no próximo ano.

Receitas (im)possíveis para o défice externo

Ainda a propósito do défice externo escreve João Pinto e Castro:

Acontece, porém, que o endividamento razoável das famílias pode conduzir a um endividamento irrazoável do país.

E defende que só o desemprego pode corrigir a situação. Não me parece que seja só essa a via de ajustamento. Aqui ficam outras:

1. Compra de activos por parte do exterior - empresas e imóveis passam a
ser detidas por estrangeiros. Sim, é verdade que se assistirá a um défice na
balança de rendimentos por via da transferência de lucros/dividendos para o
exterior. Mas, se essas aquisições aumentarem a produtividade das empresas e se
aumentarem as exportações o défice de mercadorias pode diminuir (Sim, há muitos
se's, pode haver desemprego mas não tanto quanto numa situação de recessão por
restrição de crédito)

2. Investimento Directo Estrangeiro em projectos de produção de
transaccionáveis/ produtos que se exportem. Mesmo efeito do caso anterior, com
a vantagem de serem novos projectos e que geram emprego e não desemprego.Compreende-se o esforço que governos sucessivos têm feito para atrais projectos de produtos "exportáveis". Com dimensão apenas se conseguiu até hoje a Autoeuropa. O Ikea é o mais recente mas sem peso.

3. Aumento da poupança interna - hipótese apenas parcialmente viável face ao peso que já pode ter o serviço da dívida.


É mais fácil ocorrer o primeiro caso - tem estado a acontecer - que o segundo. O investimento de estrangeiros em Portugal tem sido limitado. Mas qualquer um deles seria a via mais rápida de aumentar a produtividade, o único caminho de reduzir estruturalmente o défice externo, já que a qualificação leva tempo e tem resultados incertos.

O caso do desemprego pode ocorrer por restrição de crédito via quantidade ou preço e/ou pela incapacidade de fazer face ao serviço da dívida por parte das empresas.

A recessão em si não resolve o problema estrutural. Já tivémos várias que apenas reduziram o défice temporariamente. Em 2003, por exemplo, houve aumento de poupança, para logo a seguir começar a cair.

Cavaco Silva e o investimento público

O que pensam do défice externo Cavaco Silva e Vitor Constâncio.

Especialmente interessantes, no actual contexto político, as afirmações de Cavaco Silva a propósito do investimento:
"O ajustamento será tanto mais forte e penoso quanto mais o endividamento externo tenha sido encaminhado para a expansão do consumo ou para investimentos de baixa rentabilidade."

A preocupação com a rentabilidade dos investimentos públicos anunciados pelo Governo têm como referência essa racionalidade. O que justifica igualmente a mensagem de Manuela Ferreira Leite a esse propósito - pode não ter sido a melhor forma, já que transferir esses recursos para apoios sociais também não aumenta a rentabilidade.

Na verdade, os investimentos públicos realizados nos últimos dez anos parecem ter sido incapazes de aumentar a nossa capacidade de crescer mais rapidamente, isto é, a nossa produtividade.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Défice externo é importante?


O défice externo está a atingir uma dimensão que nos faz recuar ao segundo e último plano de estabilização do FMI em 1983.
Em 1982 o défice externo atingiu os 11,8% do PIB. Uma consequência de uma política expansionista no segundo choque petrolífero em 1979. Sem divisas, o país teve de recorrer de novo ao FMI, provocando-se uma recessão que levou ao reequilíbrio externo.
O PSD tem feito do défice externo o centro da sua preocupação. António Borges, agora vice-presidente do PSD, disse estar assustado com o endividamento externo. Uma das reacções às previsões de Verão do Banco de Portugal.
Mas será que o défice externo é um problema?
Sim, caso continuemos interessados em ter a propriedade de activos situados em Portugal.
Poucos se importam com o défice externo do Alentejo ou de Trás-os-Montes. Mas a quem pertencem boa parte dos activos que lá estão? E qual o nível de vida dos seus habitantes? Por exemplo, Trás-os-Montes vai ter uma auto-estrada sem portagem paga pelos contribuintes de todo o pais, ou seja, sobretudo Lisboa e Porto. Queremos nós depender da boa vontade de, digamos, alemães?
O actual Presidente da República Cavaco Silva considera que o défice externo é uma preocupação. Disse-o quando ainda não assumia o cargo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

Afinal do FMI foi... optimista

O governador do Banco de Portugal acabou de dizer aos deputados que a economia portuguesa deverá crescer este ano 1,2%, uma projecção marginalmente inferior aos 1,3% apontados pelo FMI no início da Primavera. E por todos apontada como muito pessimista - também cometi esse erro.

E há uma elevada probabilidade de ser ainda pior.

Algumas palavras de Vítor Constâncio:
"Temos de aproveitar" esta conjuntura difícil "para introduzir reformas estruturais que possam ser melhor percebidas". Isso significa "continuar a consolidação orçamental e não descer impostos".

"Qualquer expansionismo orçamental significaria reduzir o investimento ou aumentar o défice público, e como tal o endividamento".

"As únicas medidas de curto prazo são medidas de redistribuição do rendimento com reorientação da despesa pública".

Conjunturas

De regresso após uma longa interrupção.
Nada de diferente ... conjunturalmente falando... Os Estados Unidos continuam a limpar o lixo que o sistema financeiro fez. Com abalos por todo o mundo.

Por cá, José Sócrates amplia mézinhas que não evitarão a crise que se vai aproximando a passos largos. A produção industrial na zona euro caiu 1,9% em Maio, a maior quebra mensal em 16 anos.

O PSD procura o registo para fazer oposição. Primeiro a classe média, depois as obras públicas... sem que nenhuma orientação se perceba.

Em breve o Banco de Portugal vai revelar a sua visão revista das perspectivas para a economia portuguesa. Vítor Constâncio está no Parlamento.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Dia (muito) negro nas bolsas

Foi um dia negro para as bolsas do mundo e aterrador para Portugal.

Pessimismo com PSI20 a cair 4,7%. Em Espanha a queda foi de 2,29%. ~
Fuga para a segurança, diz o FT.

O que se está a passar?
Petróleo e banca?
E porque está o petróleo a subir tanto? - Não, por favor, explicações com 'especulação' não. Porque a questão é porque estão a especular, isto é, mais correctamente, a apostar na subida do preço do petróleo?
Banca? Há ainda muitos esqueletos de crédito sub-prime?

É fácil arranjar explicações. Mas, neste momento, receio que exista algo mais no horizonte que ainda não estamos a ver.