Vale a pena ler Pedro Lains a propósito da nacionalização da "Fannie e Freddie". Em linha com o que hoje escrevo no Negócios mas com a interessantíssima ligação ao caso português que é a CGD - a privatizar segundo defende António Borges ex-Goldman Sachs e, como tal, ex-colega de do secretário do Tesouro norte-americano Henry Paulson, hoje um autêntico socialista.
Claro que para avaliar os ganhos e perdas da privatização da Fannie e Freddie é preciso contabilizar o crescimento que gerou para a economia norte-americana por contraponto ao que teria gerado caso se tivesse mantido pública - subtraindo obviamente o valor que agora está a ser gasto para as salvar. Contas impossíveis sem pressupostos que serão sempre marcados pelas convicções de cada um.
Como contribuinte não gostaria de ver o meu dinheiro a salvar sociedades financeiras que não foram devidamente reguladas no passado - apesar de os meus impostos terem pago aos reguladores.
Privatizar sim mas com um Estado forte, com poder sobre quem regula. Um Estado com um poder superior aos regulados parece um sonho até mesmo nos Estados Unidos.
3 comentários:
António Borges!!!??? A coisa já me dá vómitos. Jardim avança!! Parte a louça toda, que isto já fede...
António Borges??? Quim Barreiros??? Júlio Isidro??? Um deles ainda vai ganhar um tacho no PPD-PSD.... Hilariante...
Deixo aqui o comentário que coloquei no blog de Pedro Lains, que refere.
Não me parece que a CGD seja um bom exemplo para confrontar-se com Fannie Mae e a Freddie Mac.
O derrube das financeiras norte-americanas estava anunciado desde 2003 quando os CEO´s de ambas foram despedidos mas continuaram ainda que formalmente subordinados a novos CEO´s. A crise das subprime veio derrubar o que já estava em estado periclitante.
Tudo aconteceu por uma conjugação de interesses a que não foram alheios ambos os partidos: republicano e democrata. Nada, portanto, que não pudesse acontecer se Fannie Mae e a Freddie Mac fossem empresas estatais. Não sendo, encostaram-se ao Estado; se fossem, já estavam encostadas.
A questão não está no encosto mas nas razões do trambolhão.
O desmoronamento acontece porque o laxismo na apreciação dos processos de concessão de crédito remunerava bastante bem os agentes de avaliação e os que lhes davam cobertura.
Em Portugal, o reforço das garantias reais, sobre os imóveis financiados, por garantias pessoais tem amarrado os tomadores dos empréstimos e segurado muitos contratos. Mas esta amarração tem os seus limites e o aumento das taxas de juro, a inflação e o desemprego podem rebentar o dique frágil.
A Caixa Geral de Depósitos não se tem distinguido dos outros bancos portugueses na forma como se comporta em matéria de concessão de crédito para habitação. Poderia, e deveria, ser diferente, mas não é.
As avaliações feitas pelos bancos, CGD incluída, levaram durante muito tempo a sobreavaliações com o intuito de ganhar quota de mercado. Este despique foi muito notório nas campanhas de publicidade. Sentindo-se escoradas pelas garantias pessoais (que em muitos casos degeneraram em casos pessoais dramáticos) descuraram as avaliações correctas dos prédios, embarcando frequentemente os tomadores de empréstimos em valores que não tinham a ver com os prédios em si mas com a compra fictícia de mobiliário, por exemplo, de modo a contornar a obrigatoriedade de entrada mínima.
De tudo resultou uma promoção artificial da procura e o aumento dos preços num mercado com stocks crescentes.
Que fez a CGD? O mesmo.
Até fez o mesmo na questão dos arredondamentos, obrigando o Estado a intervir quando poderia (e deveria a Caixa)promover a diferença.
A única diferença da CGD é contar com uma multidão de depositantes pacíficos e outros coagidos.
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