sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Cortar a língua ao mensageiro...

... nunca resolveu problema nenhum. Criou problemas maiores, como aliás diz Fisher Sá Nogueira

A intervenção final do discurso de tomada de posse do presidente do Supremo Tribunal de Justiça, defendendo a criação de um "órgão com poderes disciplinares efectivos" para os jornalistas assim como o ataque - mais do que criticas - que fez aos media acabam por dar razão a quem critica o funcionamento da Justiça.

Como António Barreto que se pode ler e ouvir aqui e aqui

Posso concordar com parte do diagnóstico que Noronha do Nascimento faz. Por exemplo, quando se refere aos efeitos perniciosos da concorrência num tempo em que o quadro em que se movia o negócio dos media está a mudar sem que ninguém saiba bem em que sentido (veja-se o debate aceso nos Estados Unidos e ainda a reflexão que ali se faz sobre as ameaças aos direitos dos cidaãos e sobre a liberdade da informação.

Não posso concordar com a solução. Nos media, tal como noutros universos da vida portuguesa, não é por falta de entidades reguladoras que não se cumprem as regras e as leis. O sector dos media, bem pelo contrário, está bastante policiado. O problema é mais vasto.

Mas se o problema é a violação da lei, a quem cabe fazer cumprir a lei? A resposta a esta pergunta que acaba por nos levar a concluir que o ataque aos media de Noronha do Nascimento acaba por ser um ataque à Justiça.

Declaração de interesses: Sou jornalista. Como jornalista, profissionalmente obrigada e treinada para o distanciamento na descrição e análise dos factos, fiz aqui também esse esforço e com cuidados redobrados.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Áustria nacionaliza banco

A crise financeira acabou?

O governo austriaco nacionalizou o Hypo Group Alpe Adria, um pequeno banco regional mas com elevada exposição a países de Leste fora da Zona Euro e com risco de contágio a outros bancos do sistema, assim diz o governo de Viena.

As notícias apontam para uma intervenção directa do presidente do BCE. O Telegraph diz mesmo que Trichet obrigou a Áustria a nacionalizar o banco.

Mais pormenores no Alphaville

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Portugal e Espanha menos arriscados que a Irlanda

Os mercados financeiros colocam Portugal ao lado de Espanha e a Irlanda mais próxima da Grécia
» quando se avalia o risco destes países pela diferença entre a sua taxa de juro de longo prazo e a que é cobrada à Alemanha - as duas taxas medidas pela taxa de rendibilidade das obrigações do Tesouro a dez anos - é menos arriscado emprestar dinheiro a Portugal que à Grécia, Irlanda e até Itália.





Irlanda vs Portugal, Espanha e Grécia

O Orçamento do Estado da Irlanda:
» Salários da função pública reduzidos em 5% ( até ao limite 30 mil euros); 7,5% ( sobre valores até 40 mil euros - o que, se bem percebi, incide sobre os valores que vão dos 30 mil aos 70 mil euros) e 10% para os últimos 55 mil euros.
» O salário do primeiro-ministro será reduzido em 20% e dos ministros em 15%.

E muito mais que se pode ler aqui.

Em Portugal estamos na fase de discutir um rectificativo que é um formalismo - legitimar o que já está gasto como se verifica na emissão de dívida.

É pela história já construída e por aquela que se está a fazer neste momento que as agências 'rating' são depois mais "benevolentes" com os anglo-saxónicos.

As criticas que se fizeram às agências d e'rating' por se terem apressado a fazer alertas a países como Portugal deixando a Irlanda mais aliviada da pressão tem nesta história a sua explicação.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Os alertas do FMI

Na sua habitual linguagem cifrada, na sua análise à economia portuguesa aqui no Negócios, aqui e aqui, o FMI avisa:

» os salários da função pública não devem ser aumentados ou, se o forem, devem sê-lo pelos mínimos (os aumentos deste ano foram muito elevados)
» a actualização prevista para o salário mínimo é "desajustada", sinónimo de que não deve ser realizada
» a alteração à regra de actualização das pensões de reforma - por causa da inflação negativa - não devia ter ocorrido e vai ser paga a prazo - ou seja, terá de se ir buscar o poder de compra que se deu agora;
» o défice público, a dinâmica da dívida pública associada ao baixo crescimento e a dívida da economia em geral coloca Portugal numa situação especialmente frágil caso ocorra mais um choque financeiro externo (por ex., se o caso do Dubai se alastrar);
» o défice público tem de ser reduzido em média 1% ao ano;
» é preciso reduzir despesas com os salários da função públicas, com as transferências sociais e com a saúde;
» é preciso aumentar receitas fiscais o que pode passar pela subida do IVA.

Os alertas estão dados. Por muito que não se goste das regras do jogo, estas são as regras do jogo.

A França vai cumprir o limite dos 3% um ano antes do previsto, dizia hoje o FT. E a Alemanha pode já cumprir este ano.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Tratado de Lisboa - agora é a vez dos europeus

Entrou em vigor o Tratado de Lisboa.
Acabou o tempo que dura praticamente desde 2001 - ou até desde a primeira tentativa para preparar a UE para o alargamento que foi o Tratado de Amesterdão a 1 de Maio de 1999 - durante o qual a Europa apenas olhou para si própria.

Ladrões de notícias ou trabalho (dos outros)

Um trabalho da Atributor que encontrei via FT revela que 75.195 sites usaram pelo menos um artigo de jornais norte-americanos sem autorização de 15 de Outubro a 15 de Novembro, realizando receitas com isso - e, obviamente, sem os respectivos custos.

No sector dos media terá de se fazer alguma coisa. As receitas não podem ser públicas e os custos privados, isto é, das companhias que produzem as notícias.

O Google e o Yahoo estão no top dos viabilizadores deste negócio de proveitos sem custos. Os blogues representam apenas 10%.

Revela o FT que o estudo enquadra-se no encontro da "Federal Trade Commission" subordinada ao tema "Como pode o jornalismo sobreviver à era da internet".

A conferência pode ser seguida no Twitter

Não é apenas a sobrevivência do negócio que está em causa. Com o negócio está em causa o jornalismo com toda a sua técnica que garante o rigor e distanciamento contra a má-língua e a propaganda, como registei aqui citando Robert W. McChesney e John Nichols do Washington Post.

Por aqui obviamente que ninguém está preocupado com isso. Uns protagonistas políticos estão contentes com a propaganda, outros com a má-língua.

Jacques Sapir, visões (mesmo) diferentes

A ler a entrevista de Jacques Sapir no Público.
Perspectivas verdadeiramente diferentes do que se passa e de como se pode resolver alguns problemas. Eis a síntese de alguns dos seus diagnósticos e soluções. Discutíveis mas que vale a pena pensar sobre elas sem lhes colocar um rótulo e atirar para trás das costas.

BANCA
"(...) bancos foram salvos pelos governos e pelos bancos centrais, mas não mudaram as suas políticas. Reduziram o crédito concedido e estão a investir o dinheiro dado pelo Estado e emprestado pelos bancos centrais em especulação."
[Veja-se agora o caso do Dubai e os valores ali investidos por bancos europeus. ]

"A única política capaz de resolver isto seria a introdução de um maior controlo do sector bancário pelo Estado. Seja através da nacionalização, seja através da nomeação de uma espécie de supervisor. É um sistema que foi usado nos EUA e também em França durante os anos 30. A propriedade continua privada, mas nomeia-se uma pessoa com poderes efectivos para guiarem a política dos bancos. (...) NOs EUA chama-se 'czar' e já existe hoje no sector automóvel".
[Não estou certa que esta seja a solução. Portugal tem a CGD e não é por isso que o acesso ao crédito de PME's viáveis é mais fácil]


COMÉRCIO LIVRE
" [O comércio é] livre mas não é justo. (...) A produtividade chinesa está entre 30 e 40 por cento da produtividade da Europa Ocidental, mas os salários são dez vezes mais baixos. E isto é um problema. (...) E também temos de proteger famílias europeias das norte-americanas. Como é que podemos ter comércio livre quando um país pode desvalorizar a sua divisa em 20 por cento. Isto é exactamente o que os EUA estão a fazer."
[Sapir propõe tarifas até que os salários de países como a China igualem a produtividade, ou, implicitamente, que anulem as vantagens que os EUA obtêm quando desvalorizam a sua moeda cada vez que estão em crise - pois não sei se não será uma boa ideia]

MERCADOS FINANCEIROS
"E é preciso regular o acesso a determinados mercados. Actualmente, temos muita especulação. No petróleo, vamos de um valor de 35 dólares até 187 dólares por barril, o que está relacionado com a entrada de especuladores financeiros nestes mercados. Os mercados de matérias-primas têm de ser limitados aos operadores que têm efectivamente interesse em comprar ou vender esses produtos."
[O divórcio que hoje se verifica entre fluxos financeiros e reais exige que se adoptem algumas medias para os interligar de novo combatendo assim o risco de bolhas especulativas mas também a ameaça que são à criação de valor nas empresas - esta é uma ideia]