Primeira página: "Jovens qualificados em risco de viver pior que os pais"
Página 19: "Jovens com empregos mais precários e salários em queda"
Página 20: "Uma geração qualificada que vive pior do que os pais"
Começo por fazer uma declaração de interesses: sou subdirectora do Jornal de Negócios. Tenho por isso responsabilidade por esse trabalho que foi obviamente feito com toda a seriedade.
A minha discordância:
- JPC começa por dizer que "o primeiro e o terceiro título dizem coisas diferentes: o primeiro anuncia uma possibilidade, o segundo afirma um facto". E questiona "Onde está a verdade?". Não existe razão nesta critica porque: a) O primeiro título é o da primeira página do jornal, não contradiz em nada o de dentro, é apenas mais recuado porque titula todo o trabalho que vai das páginas 19 a 21 e não generaliza o que não é generalizável uma vez que: b) O segundo título, mais afirmativo, titula uma reportagem em que são revelados quatro casos. O título sintetiza exactamente esses quatro casos: qualquer um deles vive pior que os pais.
- "Segundo o jornal, as estatísticas do INE (que não tive oportunidade de confirmar) revelariam que, em 2007, o salário médio dos jovens entre os 25 e os 34 anos representaria 87% do salário médio nacional contra 96% em 1999", escreve JPC. Os dados são do INE e não há nada a dizer. Concordaremos que nesse período aumentou o número de licenciados e era de esperar que a percentagem do salário médio, no mínimo, se mantivesse.
- Acrescenta que: "Esses dados referem-se à totalidade dos jovens, não aos mais qualificados". Claro, por isso é que o título da primeira página opta pela expressão "em risco" e o título do trabalho onde estão esses dados sintetiza o quadro que os números dão: precariedade e salários em queda...
- ...Os salários em queda merecem também a critica de JPC: "A queda dos salários relativos não implica a queda dos salários reais em termos absolutos". Tem toda a razão. O salário médio nacional aumentou entre 1999 e 2007 e para dizer que o salário caiu em termos absolutos e nominais é preciso verificar se essa subida do "bolo" foi inferior à queda da "fatia", ou seja, se a queda de nove pontos na fatia não foi compensada pela subida no salário médio. E essa conta o Jornal de Negócios não faz. Os dados que fornecemos aos leitores do Jornal de Negócios não permitem concluir que o salário caiu mas permitem concluir que o salário em percentagem do salário médio caiu, ou seja, comparativamente a 1999 ganham relativamente menos. O que está explícito no texto mas não no título. O título não mente, está incompleto.
Por tudo isto não me parece que nós, Jornal de Negócios, tenhamos merecido as criticas que JPC nos faz.
À margem diria que não parece que existam dúvidas quanto às dificuldades que os recém-licenciados enfrentam nos dias que correm. Todos conhecemos histórias.
4 comentários:
Cara Helena,
embora discorde de outros pontos da sua análise, queria só fazer um pequeno comentário que, ao que parece, passou também ao lado do JPC:
Comparar 1999 com 2007 para daí chegarmos a comparações intergeracionais não faz sentido porque
1. Há sempre flutuações, e aqui estamos a comparar um pico com um ano de "crise" que vem depois de outros 5 anos de "crise". Uma escolha muito enviesada à partida. (Claro que haveria que ver se os jovens são beneficiados/perjudicados em relação à média... mas acho que é consensual que estando numa situação de maior insegurança no mercado de trabalho, sejam mais perjudicados em tempo de crise).
2. Não conheço ninguém que tenha tido um filho aos 8 anos de idade. E isto também é importante devido às flutuações. O período de uma geração é suficiente para se fazer uma comparação estrutural em vez de uma comparação conjunctural.
Caro Miguel,
Tem toda a razão. As análises de geração exigem pelo menos 25 anos. Mas o trabalho do Jornal de Negócios não pretendeu fazer essa análise - que posso tentar ver se é possível fazer. O título da geração - vivem pior que os pais - está numa reportagem que mostra isso. Dir-me-á que são excepções. É possível mas creio que existem muitas - e aí não tenho argumentos para a segunda critica: enviesamento por estarmos a olhar para um período de crise. Sim, é verdade. Mas isso significa que isto está a acontecer agora o que não significa que seja estrutural.
Cara Helena, esta conversa dava panos para mangas, mas gostava apenas de fazer-lhe notar o seguinte:
1. Quatro pessoas não fazem uma geração. Não conhece um só jovem bem integrado no mercado de trabalho?
2. É absolutamente falso que os jovens de hoje vivam em média pior do que viviam os seus pais quando começaram a trabalhar.
3. É totalmente errado acreditar-se que os jovens licenciados enfrentem maiores dificuldades do que os não licenciados.
Não acho que o JN cometa mais erros que o resto da imprensa (bem pelo contrário) mas preocupa-me a facilidade com que se lançam quotidianamente na nossa imprensa alarmes infundados. Esse processo de deseducação é, a meu ver, gravíssimo.
Caro JPC,
Regressando ao nosso debate:
1. "Quatro pessoas não fazem uma geração"
- O título - "... vivem pior que os pais" titula a reporategem e a ela é fiel.
2. "É absolutamente falso que os jovens de hoje vivam em média pior do que viviam os seus pais quando começaram a trabalhar."
Não é isso que se diz. O que se diz que os jovens licenciados vivem pior que os pais hoje e não pior do que viviam os pais quando eram jovens. O confronto é com os pais que, como é exposto na reportagem, precisam de ajudar filhos que fizeram formação superior.
3. "É totalmente errado acreditar-se que os jovens licenciados enfrentem maiores dificuldades do que os não licenciados."
- O trabalho não faz um confronto entre licenciados e não licenciados, esse não é o tema.
O tema - dificuldades de emprego de jovens licenciados - é, como sab, preocupante, tendo merecido inclusivamente uma referência do Banco de Portugal. Foi isso que tentamos reportar.
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