terça-feira, 27 de maio de 2008
A raiva... nos combustíveis
Em Londres assistimos à contestação das transportadoras rodoviárias.
Em Espanha os pescadores estão no segundo dia consecutivo de paragem, em França vamos na segunda semana.
O presidente francês, que avançou com ajudas de 110 milhões de euros, sugeriu a suspensão do IVA sobre os combustíveis. O governo espanhol diz-se atento à proposta francesa.
Em Portugal, o ministro Manuel Pinho, pede à Comissão que apresente medidas concretas ao nível europeu para enfrentar o problema a curto prazo. Comissão que já se mostrou contrária à ideia de Sarkozy
A situação complica-se na Europa. A velocidade a que se está a dar a subida do petróleo pode mesmo requerer medidas de emergência. O tema já não é se se baixa ou não o ISP.
Os combustíveis podem acender a raiva acumulada com a subida do peço dos alimentos, com a incerteza no emprego, com o aumento das taxas de juro... A classe média europeia está a ser submetida a demasiadas pressões.
O problema bem colocado
Combustíveis e PSD
A questão que se coloca é: como se compensava a curto prazo essa descida de receitas fiscais - já em queda a do ISP por causa da redução do consumo?
Existe sempre o argumento de um aumento da receita - como aliás já defendi aqui - por via do regresso de quem está a abastecer em Espanha - as grandes transportadoras de mercadorias. Aqui sim poderíamos ter a curva de Laffer no seu melhor. E que inspirou o choque fiscal proposto pelo PSD de Durão Barroso.
O problema é este: e o que se faz a seguir, quando o preço do combustível, mesmo com impostos mais baixos, ultrapassasse de novo o preço espanhol? Baixava-se de novo o imposto? Estas corridas de combate ao vizinho através de impostos - não me lembro da terminologia técnica aplicada especialmente às políticas proteccionistas - acabam sempre mal. São insustentáveis a longo prazo.
Neste momento temos já o início de uma contestação a atravessar fronteiras: França, Espanha , Itália, Grécia e Portugal.
domingo, 25 de maio de 2008
O terceiro choque petrolífero
Olhando para o passado, vivemos o terceiro choque petrolífero.
Desta vez a razão está nos mercados financeiros. Tudo o resto de que se fala, como a tensão no Médio Oriente, a falta de refinarias, os biocombustíveis e o aumento da procura da Índia e da China já se conhecia.
Se assim for, só a estabilização dos mercados financeiros com o regresso dos biliões de biliões às bolsas, pode trazer alguma calma aos mercados do petróleo e das mercadorias.
Combustíveis mais caros - França
Sarkozy enfrenta já uma greve de pescadores a quem, aparentemente, o ministro das Pescas terá já prometido apoios que permitem reduzir os custos do gasóleo para 40 cêntimos por litro.
E ainda dos agricultores e dos transportadores.
Em França é a Total que controla o mercado.
sábado, 24 de maio de 2008
Combustíveis mais caros- Espanha
O sector não pede subsídios mas sim melhor regulação e combate a práticas 'anti-dumping'.
A gasolina em Espanha está já acima de 1,2 euros.
Combustíveis mais caros - Reino Unido
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Desemprego dos jovens e jornalismo
Primeira página: "Jovens qualificados em risco de viver pior que os pais"
Página 19: "Jovens com empregos mais precários e salários em queda"
Página 20: "Uma geração qualificada que vive pior do que os pais"
Começo por fazer uma declaração de interesses: sou subdirectora do Jornal de Negócios. Tenho por isso responsabilidade por esse trabalho que foi obviamente feito com toda a seriedade.
A minha discordância:
- JPC começa por dizer que "o primeiro e o terceiro título dizem coisas diferentes: o primeiro anuncia uma possibilidade, o segundo afirma um facto". E questiona "Onde está a verdade?". Não existe razão nesta critica porque: a) O primeiro título é o da primeira página do jornal, não contradiz em nada o de dentro, é apenas mais recuado porque titula todo o trabalho que vai das páginas 19 a 21 e não generaliza o que não é generalizável uma vez que: b) O segundo título, mais afirmativo, titula uma reportagem em que são revelados quatro casos. O título sintetiza exactamente esses quatro casos: qualquer um deles vive pior que os pais.
- "Segundo o jornal, as estatísticas do INE (que não tive oportunidade de confirmar) revelariam que, em 2007, o salário médio dos jovens entre os 25 e os 34 anos representaria 87% do salário médio nacional contra 96% em 1999", escreve JPC. Os dados são do INE e não há nada a dizer. Concordaremos que nesse período aumentou o número de licenciados e era de esperar que a percentagem do salário médio, no mínimo, se mantivesse.
- Acrescenta que: "Esses dados referem-se à totalidade dos jovens, não aos mais qualificados". Claro, por isso é que o título da primeira página opta pela expressão "em risco" e o título do trabalho onde estão esses dados sintetiza o quadro que os números dão: precariedade e salários em queda...
- ...Os salários em queda merecem também a critica de JPC: "A queda dos salários relativos não implica a queda dos salários reais em termos absolutos". Tem toda a razão. O salário médio nacional aumentou entre 1999 e 2007 e para dizer que o salário caiu em termos absolutos e nominais é preciso verificar se essa subida do "bolo" foi inferior à queda da "fatia", ou seja, se a queda de nove pontos na fatia não foi compensada pela subida no salário médio. E essa conta o Jornal de Negócios não faz. Os dados que fornecemos aos leitores do Jornal de Negócios não permitem concluir que o salário caiu mas permitem concluir que o salário em percentagem do salário médio caiu, ou seja, comparativamente a 1999 ganham relativamente menos. O que está explícito no texto mas não no título. O título não mente, está incompleto.
Por tudo isto não me parece que nós, Jornal de Negócios, tenhamos merecido as criticas que JPC nos faz.
À margem diria que não parece que existam dúvidas quanto às dificuldades que os recém-licenciados enfrentam nos dias que correm. Todos conhecemos histórias.
A Galp e os combustíveis
- As análises que o Jornal de Negócios tem feito, comparando as cotações internacionais da gasolina e do gasóleo, revelam que os preços dos combustíveis no consumidor têm aumentado menos que os do mercado mundial onde eles se formam. O que perpectiva novas subidas.
- A Galp tem obviamente uma posição dominante no mercado que lhe permite ser a líder na definição de preços. O mais simples dos jogos retirado da Teoria de Jogos permite chegar a esta conclusão: os concorrentes ganham mais se seguirem o aumento dos preços da Galp do que através da conquista de quantidade de clientes.
- A definição do preço de mercado está enviesada para a alta devido ao poder de mercado da Galp.
- Mas, e voltando ao ponto 1, a Galp parece estar a aumentar menos os preços do que o determinado pelos custos - estes definidos pelas cotações internacionais.
- No entanto, apesar de ter decido aumentar o preço de novo, recuou.
Só posso concluir que aqui tem de haver "gato". Não sei o que vai dizer a Autoridade da Concorrência de diferente do que já disse no passado. Há uma recomendação de 2004 ainda parcialmente por cumprir.
Que isto sirva, pelo menos, para começarmos a dar mais valor à concorrência.
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Combustíveis, o que fazer?
Aqui ficam sugestões:
- Transportes públicos ao serviço das pessoas: organizar rapidamente um inquérito que permita conhecer melhor a procura de transportes - em duas semanas consegue-se fazer isso - e ajustar a oferta à procura de forma integrada - um trabalho a estar concluído em Setembro, quando se inicia o próximo ano lectivo. Teodora Cardoso chamou a atenção para este importantíssimo problema. Quem anda de transportes públicos sabe como servem pouco as pessoas. Uma tarefa para o Ministério de Mário Lino.
- Facilitar a abertura de bombas de gasolina: as barreiras à entrada neste sector são elevadíssimas. Vale a pena revisitar a legislação e avaliar para que serve cada regra. Todas as que não sirvam o objectivo da segurança estão a mais e devem desaparecer. Não faz sentido limitar o número de bombas de gasolina.
- Baixar o ISP: a última das medidas, esgotadas as anteriores. Uma medida que reúne condições para aumentar a receita de ISP se conseguir acabar com a vantagem de abastecimento em Espanha por parte das grandes empresas de transporte.
Se conseguíssemos adoptar as duas primeiras medidas seria uma grande vitória.
terça-feira, 20 de maio de 2008
Teixeira dos Santos e os combustíveis
Ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos na Câmara de Comércio Luso-espanhola
O ministro das Finanças conhece a história económica. Sabe o erro que se cometeu quando se quis evitar o efeito da subida dos preços do petróleo nos anos 70 e quando António Guterres fez o mesmo em 1999, antes das eleições. Teixeira dos Santos estava nas Finanças com Sousa Franco quando viu Guterres fazer aquela promessa que depois se pagou com impostos.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Combustíveis no convite ao disparate
Ministro da Economia, Manuel Pinho
A pressão que está a ser feita ao Governo para combater a subida do preço dos combustíveis é o melhor caminho para se fazerem disparates.
Espero que não.
Mas lembro o que fez António Guterres e Pina Moura nos combustíveis - mantiveram o preço, criaram um défice só porque se convenceram que a subida era transitória.
E lembro ainda a falta de mercado na electricidade, em que o designado "défice tarifário" não é mais que preços abaixo de custo pagos com os impostos de todos.
É preciso não cair na tentação de limitar a subida do preço dos combustíveis.
O cigarro também apanhou Zapatero
Sócrates e Teixeira dos Santos
Disse José Sócrates:
«Estamos perante uma boa notícia»(...)«Mas, além da taxa de desemprego homóloga, desceu também a taxa de desemprego em cadeia. No anterior trimestre, Portugal registou uma taxa de desemprego de 7,8 por cento e agora registou uma taxa de 7,6 por cento».
A taxa de desemprego caiu no primeiro trimestre, o desemprego diminuiu e o emprego subiu como se pode ver aqui no INE. E como já tinha antecipado de alguma forma o ministro das Finanças quando cortou na uinta-feira a previsão de crecsimento para a economia portuguesa:
Disse Fernando Teixeira dos Santos:
Quanto ao desemprego o ministro prevê que após uma taxa de 8%, em 2007, este ano o desemprego recue para os 7,6% e que vá "continuando a baixar gradualmente" nos próximos anos. Posso ainda acrescentar, pelo que ouvi via televisão, que o ministro fez o seguinte raciocínio: como a economia teve um bom desempenho em 2007, o desemprego vai reduzir-se. Ou seja, concluo eu, se a economia abrandar lá mais para o fim do ano o desemprego poderá subir, mas isto já o ministro não admite. (São aparentemente três trimestres de desafasamento entre a evolução do PIB e o do emprego).
Neste confronto, é lamentável que o primeiro-minitro tivesse optado por falar apenas no desemprego e na inflação e deixasse as más notícias para o seu ministro das Finanças. Foi demasiado explícito este distanciamento.
Nós e o Governo
Um comentário que subscrevo na (quase) totalidade. Como diz quem comentou "o que se faz no país reflecte-se na economia, as políticas do governo são uma pequena parte(...).
1. Por isso não vale a pena esperar medidas do Governo que possam salvar o país da crise que já está em andamento. Por essa razão - somos todos que fazemos a economia - mas também porque o Governo está bastante condicionado e tudo o que fizer será pago e bem pago também por nós a seguir às eleições de 2009 como escrevi aqui.
2. O meu quase vai para políticas que condicionam a iniciativa individual. O excesso de regulamentação é uma delas, a mais grave. Qualquer ideia que se tenha para produzir um pouco mais esbarra com alertas do tipo, olha que não podes fazer isso sem estar devidamente autorizado.
3. Concordo inteiramente que está generalizada uma atitude de desresponsabilização. Não se pensa que não pensar na empresa onde se trabalha é contribuir para o nosso empobrecimento.
4. Por último, a ideia de que o Governo é o culpado, este ou outro, é alimentada pela própria classe política.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
E Portugal afunda, assume o Governo
Acelerar o investimento é a medida que Teixeira dos Santos aponta para contrariar este acentuado abrandamento da actividade económica em Portugal. Entre essa actuação deu relevo à execução de investimentos financiados pela União Europeia. E as exportações, espera-se serão o motor do fraco crecsimento esperado para este ano.
O ano de 2008 começa muito mal para os portugueses.
Sem margem de manobra no Orçamento do Estado, com a banca altamente endividada tal como as empresas e as famílias, não se consegue sequer perceber como é que se pode esperar um dinamismo do investimento por iniciativa privada.
Economia portuguesa afunda-se
A estimativa rápida do INE revela que o PIB em Portugal aumentou 0,9% no primeiro trimestre deste ano, face aos primeiros três meses do ano passado. No último trimestre de 2007 o aumento tinha sido de 1,8%, o que significa uma queda de 50% no ritmo de crescimento do PIB.
Os bancos previam 1,7%. É o mais baixo crescimento da Zona Euro, onde a subida (a 15) foi de 2,2%.
Face ao trimestre anterior a produção caiu 0,2%.
Aparentemente o contágio está a ser muito rápido ou Portugal está com problemas específicos - um deles um aperto no crédito e aumento de taxas de juro mais significativo que nos restantes países da Zona Euro.
Sócrates, o cigarro e o exemplo
Perante a publicidade aos seus cigarros fumados, José Sócrates pede desculpa, diz que não sabia que não se podia fumar e promete que vai deixar de fumar. Porque tem de dar o exemplo.
Já não sei o que é pior. Ter-se transformado em notícia três cigarros fumados pelo primeiro-ministro. Ou o primeiro-ministro ter prometido que vai deixar de fumar.
Mais uma vez sublinho que não estamos numa espécie de Lei Seca do tabaco - embora isto já se aproxime desse tempo dos Estados Unidos, só que agora com o tabaco.
E o que é isso do primeiro-ministro dar o "exemplo"? O que espero de um primeiro-ministro é que governe bem o país. Não preciso de um primeiro-ministro que me dê "exemplos".
Querer pessoas perfeitas no poder é como reivindicar "reis Sol". É passar atestados de menoridade aos cidadãos, é dizer que são incapazes de conviver com protagonistas do poder que dão imagens humanas, com defeitos e qualidades, aquilo que toda a gente é. Quem lidera um Governo, numa democracia, é um de nós em nosso lugar.
A falta de tradição democrática revela-se nestes pequenos pormenores, nestes 'chinfrins' porque o primeiro-ministro fuma... Uma tristeza.
terça-feira, 13 de maio de 2008
Muito feio... muito não notícia
Muito não notícia, o que por vezes fazemos e escrevemos, nós jornalistas
Sei que não é consensual a minha posição e desde já declaro que sou fumadora.
Mas é notícia o primeiro-ministro fumar num voo fretado? Sim, foi o seu Governo que aprovou a lei - contra a qual escrevi. Mas isso impede-o de fumar onde pode? Fumar não é ilegal, é proibido em determinados espaços desde que não existam condições de ventilação.
Enfim.
Crise do BCP segundo Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves
Perdão de dívidas a filho de Jardim Gonçalves Goes Ferreira: "Nunca foi chamado à minha atenção por terem decorrido em período anterior ao meu mandato. Nunca tive qualquer intervenção nesses dois processos".
Financiamento para compra de acções próprias: Teixeira Pinto diz que proibiu essas operações. "Por princípio não concordo com financiamento para comprar acções do banco".
Pequenos accionistas: nunca teria feito a campanha para atrair pequenos accionistas se fosse presidente. "O próprio conselho de administração da altura, se soubesse o que se sabe hoje, teria feito de forma diferente". (...)"Conseguiram resolver-se uma quantas situações".
Financiamento de off-shores: "Não tenho presente, quase estou em condições de garantir, não houve nenhuma decisão sobre financiamento a 'off-shores' no tempo em que assisti às reuniões da administração na qualidade de secretário da sociedade" (...)"Seguramente esse tipo de decisão não consta de nenhuma acta de reuniões a que eu tenha presidido".
Jardim Gonçalves no Parlamento (à tarde):
Perdão de dívidas ao filho: "Todo esse mundo de decisão de crédito, seja a quem for – empresas ou particulares – era algo que passava pelos serviços do banco. Ninguém tinha poder para, individualmente, decidir créditos".(...)"Se houve uma ou outra empresa que falhou, que não estava na lista, eu não tenho nada a ver com isso". "nunca tive intenção de esconder o que quer que fosse de um familiar meu"
Financiamento para compra de acções próprias:
Pequenos accionistas: "O banco nunca enganou ninguém" (...) "Muitos clientes gostaram porque lhes deu bom dinheiro durante anos". A campanha "vantagem accionista" teve como objectivo "persuadir e isso não é obrigar (...) e cada um decide por si, as pessoas são maiores de idade". "Essa figura de pequenos accionistas com problemas não existe (...) há é clientes que podem, num determinado momento, ter um problema que tem de ser analisado pelo banco"
Financiamento de off-shores: Recusou falar no assunto por estar sob investigação. Se há mais off-shores, disse, tem de se esperar pelas investigações.
Saudades do que nunca tivémos, comissões de inquérito parlamentar à americana, com consequências e questões difíceis de responder.
Ninguém sabia de nada. O que, acreditando na palavra dos banqueiros que estiveram á frente do maior banco privado português, é muito grave. Entre saberem o que se afirma que fizeram e não saberem, não sei de facto o que é mais grave.
segunda-feira, 12 de maio de 2008
O presidente, a política e os jovens
Ouvi pela manhã alguns destes jovens dirigentes e, obviamente, compreendi o desinteresse dos jovens. Não existia qualquer diferença entre o que diziam e o que dizem os partidos com os adultos.
Na relação académica que tenho com os jovens - têm em torno dos 20 anos - é com grande dificuldade que combato a ideia generalizada típica de conversa de café de que os políticos são péssimos - e mais não digo porque todos adivinham os lugares comuns.
Hoje os jovens preferem pertencer a movimentos cívicos - muito mais que os adultos - a integrarem partidos políticos. Aí, nos partidos, em regra encontramos pessoas que reflectem pouco, têm poucas convicções... Apenas pensam em tácticas com o objectivo único de progredirem na vida - os dos partidos do poder. Os que não têm ambições de poder criticam tudo. Obviamente com algumas honrosas excepções.
Mudar isto não é fácil. Porque tudo está contaminado pelos partidos. Infelizmente.
O sub-prime português
Mas a banca portuguesa está a sofrer com os efeitos da crise sub-prime. O impacto é visível no Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito: a banca está e vai continuar a estar mais exigente na concessão de crédito e vai cobrar taxas mais elevadas. Além disso, está a adoptar uma política de restrição de crédito mais significativa que os restantes países europeus.
Reflexos do elevado endividamento. A banca andou a endividar-se para satisfazer a procura de crédito dos portugueses. Hoje está a pagar um preço mais elevado para se financiar e, obviamente, reflecte essa situação nos clientes "agarrados" ao seu banco pelo dinheiro que devem.
Durante muito tempo não se compreendeu a razão de não existirem diferenças de taxas de juro - isto é, 'spreads' diferenciados em função do risco o que significaria taxas mais elevadas para Portugal porque os seus bancos tinham maior risco. Hoje percebe-se a razão: o mercado estava cego em relação ao risco. Depois deste abalo o mercado ficou hiper-sensível ao risco.
O efeito da sub-prime poderá ser muito mais grave em Portugal que em países como os Estados Unidos onde pode ser suficiente limpar prejuízos para que tudo volte a ser, basicamente, o que era.
quinta-feira, 8 de maio de 2008
Quanto ganhou afinal Paulo Azevedo?
1. "Remuneração Total – Decréscimo de 12,1% relativamente a 2006"
2. "Os valores reportados e devidamente explicados no relatório anual de Governo das Sociedades de 2007 da Sonae SGPS reflectem transacções1 resultantes das alterações de função ocorridas a partir de 3 de Maio de 2007 de Belmiro de Azevedo (Sonae SGPS), Paulo Azevedo (Sonaecom) e Ângelo Paupério (Sonae Distribuição), mas que não têm qualquer impacto no custo anual da equipa executiva da Sonae SGPS" (negrito da minha responsabilidade).
Esta é uma reacção ao trabalho realizado pelo Jornal de Negócios e aqui referido onde se conclui que Paulo Azevedo ganhou mais que Belmiro de Azevedo em 2007 e com um significativo aumento. Resultados que se basearam no que é revelado pelo Relatório sobre o Governo da Sociedade:
"Em 2007, a remuneração dos Administradores Executivos da Sonae reflecte as decisões
tomadas, no que respeita ao pagamento antecipado dos Panos de Prémio de Desempenho
Diferido, em aberto, de Belmiro de Azevedo (na Sonae), Paulo Azevedo (na Sonaecom) e
Ângelo Paupério (na Sonae Distribuição), como resultado da alteração das suas funções
executivas no Grupo Sonae, a partir de 3 de Maio de 2007. Esta decisão de pagamento
antecipado, realizada por motivos legais e fiscais associados à transferência de planos em
aberto entre empresas, foram tomadas após discussão com a Comissão de Nomeação e
Remuneração, e após aprovação por parte da Comissão de Vencimentos das respectivas
empresas."
Não é fácil perceber o que está afinal errado.
1. Razões para alterações todas as empresas têm.
2. Se está contabilizado como custo na demonstração de resultados importa pouco se o dinheiro saiu ou não.
Concluo que quanto mais se luta pela transparência mais as empresas parecem esforçar-se por ficarem opacas. E quando se confrontam com o que se comunica sobre elas ficam em estado de choque e tentam corrigir. Enfim. Até em empresários que nos parecem ser os melhores do país caem nódoas.
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Ainda Bob Geldof e Angola
O título que o Jornal dá, ao optar por revelar a posição do BES que classificou de "injuriosas" as afirmações de Geldof, já são menos negativas para Ricardo Salgado.
Angola... meu amor
O grupo Espírito Santo, com importantes e pesados negócios em Angola, ficou numa situação muito desconfortável e emitiu um comunicado a demarcar-se dessas declarações.
Cada um cumpriu o seu papel. Se Bob Geldof, organizador do Live 8 , teria forçosamente de se referir a Angola, um dos países com piores classificações a nível internacional nos indicadores de qualidade da democracia - como corrupção.
Obviamente que o BES teve de se demarcar. Os negócios falam mais alto.
É um conflito clássico que enfrentamos também, por exemplo, com a China.
Como se resolve este conflito? Como se concilia a defesa dos direitos humanos, da democracia, da redistribuição da riqueza com as relações de negócios? (Não vale dizer que não se fazem os negócios - esta seria uma solução pior que a que existe).
terça-feira, 6 de maio de 2008
Os salários dos gestores e... dos outros
- Os administradores são bastante mais produtivos que os restantes trabalhadores da empresa e merecem, por isso, um salário superior. Esta é a tese da necessidade ou antes o valor absoluto a determinar o valor, um pouco como a ideia de que a água devia valer mais que o diamante. Mas terão estes senhores - sim senhores, porque senhoras parece que não existem para gerior empresas - um valor absoluto tão elevado? Mas como é isso possível se em alguns casos o valor das empresas caiu e os resultados também? No caso da Soane o ano até foi marcado por fracassos - como o da OPA à PT? Esta
- Os administradores são poucos. Usando a resolução do paradoxo da água e do diamante, o seu valor é determinado pelo rendimento marginal que geram. Mas que rendimento marginal geram alguns deles? E na relação entre o rendimento marginal com os outros trabalhadores, a diferença será assim tão grande?
Resta-me a explicação do desequilíbrio de poderes: como são eles, administradores, que decidem o seu salário optam pelo valor mais elevado. E como a maioria das nossas lideranças está marcada pelo novo riquismo, o resultado é este.
Vale a pena revisitar o discurso do Presidente da República na sua Mensagem de Ano Novo para 2008 sobre esta matéria:
E vale a pena ler o editorial de Luísa Bessa.
O novo riquismo e a mania das obras
O que querem fazer - já aqui o tinha escrito - na zona ribeirinha de Lisboa é aterrador.
Vejam o que já se fez em alguns sítios do Douro.
E, por favor, visitem outros paíse smais a Norte da Europa para ver como s efaz.