...vale a pena ler o trabalho que o Negócios hoje publica sobre os salários dos gestores - o primeiro de outros trabalhos - como promete aqui Pedro Guerreiro.
O tema é controverso mas exige cuidado na avaliação dos números.
E a controvérsia não é de hoje. Em 2007 escrevi sobre o tema com o título "Executivos Ronaldos" e o ano passado nas páginas do Negócios tivémos um debate para responder à questão "Os prémios dos gestores devem ser cortados?"
E a controvérsia ultrapassa as fronteiras de Portugal - o que nada significa em si já que podia ser um tema apenas portugûês - como se pode ler nos contributos dados por um dos norte-americanos que mais tem escrito sobre este assunto relacionado com o governo das sociedades, Lucian Bebchuk.
1 comentário:
O que poderá levar uns representantes de accionistas, os que estão presentes nas comissões de vencimentos, a aprovar os elevadíssimos níveis de remuneração para os gestores de algumas grandes empresas do nosso burgo? É bom não esquecer que são apenas 2 ou 3 accionistas os envolvidos. O que é que pretenderão incentivar? A propósito, talvez valha a pena analisar as causas da reprovação pelas principais cotadas da proposta de Código elaborada pelo Instituto Português de Corporate Governance apresentada em Janeiro.
Também será bom não esquecer a substituição da palavra stakeholders (que envolve todos os interessados: accionistas, clientes, empregados e até fornecedores), promotora da gestão sustentável das Organizações, por “valor accionista”, no discurso da gestão de muitas das grandes empresas na última década. Essa alteração de discurso não coincidirá com o período de enorme alteração dos níveis remuneratórios da gestão de topo? E aquela alteração de foco não resultará da “concorrência desleal” pelo capital gerada pelas elevadas rentabilidades que se vinham a verificar no sector financeiro?
Noutro registo, será que só agora as grandes empresas nacionais têm gestores de qualidade? E o que são gestores de qualidade? No meu ponto de vista, são os adequados a cada momento das Organizações. Quando uma empresa corre o risco de não atrair nem reter o capital porque não tem um núcleo sólido de accionistas suficientemente capitalizados que possam, eles próprios, estar focados no longo prazo, um gestor que maximiza o valor accionista, mesmo que com prejuízo de outras vertentes, é certamente precioso. E faz-se pagar como tal.
Será que vamos voltar aos “fundamentais”, em que os melhores gestores são os que criam condições de crescimento sustentável às Organizações? Será que a substância vai vencer ou pelo menos equiparar-se à forma?
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