sábado, 12 de novembro de 2011

A banca e a suposta fúria de nacionalizar

A propósito das queixas dos bancos à Comissão Europeia sobre a legislação que reforça os mecanismos preventivos da supervisão e os processos de resolução de uma instituição financeira em dificuldades, assim como as criticas à proposta de diploma que vai regulamentar a entrada do Estado no capital dos bancos que não conseguirem outras alternativas de recapitalização vale a pena ler e recordar:

1. A revisão da legislação faz parte dos objectivos que o Estado português tem de cumprir até finais de Novembro e tem de ser feita mediante consulta da Comissão Europeia, do BCE e FMI, conforme se pode ler no documento relativo à primeira avaliação do Plano de Ajustamento Económico e Financeiro (é um benchmark estrutural) e aqui citado:
"(...) 6 Amend relevant legislation in consultation with the EC, the ECB and the IMF to strengthen the  early intervention framework, introduce a regime for restructuring of banks as a going concern under official control and strengthen deposit insurance framework.".

2. Vale a pena ler o que escreveu hoje Ricardo Reis no Expresso (não disponível online para não assinates). Gostaria também de o ter escrito também depois do que escrevi aqui no Negócios. 

3. Vale a pena recordar o que se passou, por exemplo no Reino Unido em matéria de intervenção do Estado na banca. Foi criada a UK Financial Investment com o último relatório sobre a matéria aqui. O Royal Bank of Scotland ainda tem como maior accionista o Reino Unido (67% dos direitos de voto) há controvérsias bem recentes sobre o pagamento de bónus. No Lloyds tem 41%. A intervenção foi bastante violenta como se lembram com substituição de gestores - o que não me parece justificar-se em Portugal. 


Obviamente que os ingleses não quiseram nacionalizar bancos. Nem em Portugal se quer. Como diz Ricardo Reis no seu artigo, a proposta de lei para a recapitalização dos bancos está aliás desenhada para incentivar os bancos a tirarem o Estado do capital o mais depressa possível. 

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Os banqueiros, a crise e o "passa-culpas"

Ricardo Salgado diz que "os accionistas do BES estão para ficar" e começa a responsabilizar os políticos porque não clarificam a resolução do problema das dívidas soberanas e por inistirem na recapitalização dos bancos.

Quando um gestor diz que os seus accionistas estão para ficar está de imediato criada a alternativa de não estarem para ficar.

Quanto á critica aos políticos, de facto, e como diz Fernando Ulrich, do BPI, andamos num jogo de "passa culpas".

Se há banco que foi cúmplice da estratégia de grandes investimentos e de indisciplina financeira do anterior Governo esse foi sem dúvida o BES. Enquanto o BPI demonstrava que a dívida pública estava numa trajectória explosiva, o BES continuava a defender o TGV.

E numa análise ao quadro geral que se vive hoje na Europa e nos Estados Unidos cada vez se torna mais claro que a responsabilidade do que se passa desde 2007 tem um responsável: o sistema financeiro. E sim, a classe política teve culpas: deixou-se capturar pelo sistema financeiro que correu riscos que não devia. E hoje, essa mesma classe política tem de pagar com o dinheiro dos contribuintes os erros que deixou que os bancos cometessem.

Portugal foi diferente? Talvez alguns bancos, poucos, tenha sido diferentes porque detectaram mais cedo a trajectória em que estavam a entrar. Não tiveram o "subprime" mas tiveram outros negócios, não decidiram a olhar para o risco, não geriram - tal como os seus parceiros dos outros países - com a perspectiva de longo prazo nem com a preocupação de conciliar as maturidades do crédito e com a dos fundos que o alimentam.

Enfim. Vivemos tempos muito difíceis em Portugal, nos países da União e nos Estados Unidos. A economia financeira está numa profunda crise.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

O circulo virtuoso

Se as medidas hoje anunciadas por Pedro Passos Coelho tivessem começado a ser concretizadas há um ano hoje estaríamos muito mais perto da Irlanda.
São as medidas necessárias. Numa economia global que é financeira, ganhar credibilidade é uma política de crescimento.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Os custos unitários do trabalho, essa variável que pode enganar

Ainda a propósito da descida da TSU - proxy de desvalorização fiscal ou desvalorização interna vale a pena ler:
Eis uma parte da conclusões:

"We have argued that the recent debate about the need to reduce unit labour costs in the peripheral countries of the Eurozone is misguided. This is the consequence of using aggregate data to measure a variable that is only meaningful in physical terms. Indeed, aggregate unit labour costs are not just a weighted average of the firm’s unit labour costs. We have shown that aggregate unit labour costs can be interpreted as the product of the share of labour in output multiplied by the price deflator. The increase in aggregate unit labour costs observed across the Eurozone is the result of the increase in the second component, the deflator. In fact, except in Greece, labour shares have either remained stable since 1980, or declined.(...)"

A TSU e o FMI

A posição do FMI sobre a descida da TSU cria riscos adicionais à execução do plano de ajustamento que são necessários.
É isso mesmo que escrevo em A TSU e o FMI.
Vale ainda pena lei o que escreveu já
Miguel Frasquilho: A propósito da descida prevista da TSU
Mais incisivo João Galamba: Admirável mundo novo

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Estatísticas e indicadores

Fonte: Banco de Portugal
Os números até Junho parecem ter sido menos maus que o esperado - no emprego e no PIB.
Os indicadores coincidentes do Banco de Portugal hoje divulgados e que se vêem no gráfico revelam que as surpresas agradáveis terão sido sol de pouca dura.
A dimensão do abalo depende mais da Europa - leia-se França e Alemanha - do que de Portugal.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Mais uma reunião - Sarkozy Merkel

A chanceler alemã vai reunir-se com o presidente francês na sexta-feira  para melhorarem o combate à crise.

Este foi o dia difícil da Société Genérale:

Fonte: Euronext


A loucura financeira

O regresso da loucura financeira sem que ninguém ainda saiba exactamente o que se está a passar.
O epicentro está a ser, desde ontem, a França, com os seus bancos arrastados para quedas históricas. Oficialmente tudo por causa de rumores que um dos principais alvos, a Société Générale desmente - entre eles uma notícia publicada domingo e desmentida ontem

A única informação com fonte está a ser dada pela Reuters: um banco asiático cortou a linha de crédito à banca francesa. Em Portugal os bancos estão igualmente a ser arrastados.

O principal índice bolsista francês (ver Euronext) está com uma volatilidade impressionante:



Outros acontecimentos do dia:
» BCE está a  intervir "de forma agressiva" no mercado secundário de obrigações de dívida pública pelo quinto dia consecutivo desde que no domingo anunciou que voltaria ao mercado;
» mercado cambial agitado - rumores de intervenção fizeram cair o iene e rumores de que a Suíça iria indexar a sua moeda ao euro estiveram a fazer cair o franco suíço. Faz hoje oito dias que o Japão interveio no mercado, e a Suíça, depois de ter anunciado a semana passada a descida da sua taxa de juro para zer e o aumento da oferta de moeda, voltou a reforçar ontem a vertente da expansão monetária.

Oficialmente, claro, ninguém fala. 
Claro que já há quem veja muitas semelhanças com o que se passou com a Lehman em 2008.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Sem lei nem ordem

Pilhagem e violência no Reino Unido:
Porquê? Onde foram estas crianças, adolescentes e jovens buscar coragem, como perderam o medo da lei e da ordem? (sem, são bandidos, que existem em todo o lado mas que, porque há polícia, há lei, há ordem, não conseguem impor a desordem)
Será isto que sabiam:



Ou é um acontecimento, depois de outros, que recomenda mais reflexão:
Enquanto cresce uma micro-cultura de abandonados a quem se prometeu luxos baratos,"(...) a cultura dominante - nós - abandonou a virtude e adoptou a ética da indiferença, vestida de liberalismo", Danny Kruger no FT.
Ou ainda a narrativa e racionalização possível que escrevi com o título  As ortodoxias também se abatem depois de ver entre outros, o vídeo de Abdul Hamid:

terça-feira, 9 de agosto de 2011

O mapa da dívida, do Economist

Carregar no link para ir ao site.

Um mapa que mostra bem como o o mundo está desequlibrado - os "pobres" poupam e os "ricos" gastam. E Portugal não está entre os mais endividados.

A nova fase da crise do euro - com a Itália a entrar também no olho do furacão - e a redução do rating do EUA - de AAA para AA+ - obriga, espero, os grandes países a enfrentarem a realidade.  Já não é só Portugal, Irlanda e Grécia - o menor dos problemas dos países ricos. O mundo virou todo PIG.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

O euro em violento abalo

 Os investidores estão em figa dos títulos de dívida pública italianos e espanhóis, as bolsas caíram com especial relevo para a banca - o Stoxx da banca caiu 3,19%, subindo apenas dois (gregos, a ironia) dos 49 bancos que integram o índice. O euro está em queda como também o dólar.
Em Portugal o BCP chegou neste dia a valer menos do que 30 cêntimos por acção e caiu 7,23%. O único banco que subiu foi o BPI - a instituição financeira que estava preparada para estes tempos turbulentos e perigosos. (Para que serviram os testes de stress, nesta versão dois? Mais uma invenção para gerar mais ruído do que informação, mais problemas que soluções, com especial relevo para países como Portugal - ler aqui Com amigos assim...)

Isto é o que s epode ler no FT:
Italian and Spanish borrowing costs hit fresh euro-era records and bank shares dropped on Monday as markets increased the pressure on European leaders ahead of a crucial summit on the eurozone debt crisis.
Italy’s benchmark 10-year bond yields rose above 6 per cent and were up 27 basis points at 6.03 per cent in midday trading. Spanish yields hit 6.35 per cent, their highest level since 1997, ahead of debt auctions on Tuesday and Thursday.

Como já se sabia e tenho escrito até à exaustão, é a políticaSe os líderes europeus - leia-se Angela Merkel - não mudarem de estratégia na abordagem da crise do euro, sem incumprimentos e com uma intervenção musculada do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) nos mercados de dívida pública para os estabilizar, estaremos à beira de uma gravíssima crise. A próxima Cimeira extraordinária de quinta-feira não pode deixar de ser a Cimeira decisiva.

Cada dia que passa parece mais um dia para o abismo. O mundo está mesmo muito eprigoso. (Resta-nos esperar que a União actue como sempre, no último minuto e à beira do precipício)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Stress tests II - o primeiro chumbo e conflito com a Alemanha

O banco alemão Helaba deverá sair dos testes de stress - que serão divulgados amanhã - porque iria chumbar. Está a pôr em causa os critérios da EBA  e já tem em sua defesa a própria Alemanha.

(A Europa, mais uma vez, no descredibilizante processo de tratar de forma desigual o que é igual - lembram-se do Pacto de Estabilidade? Quando a Alemanha violou o Pacto, o Pacto foi flexibilizado para agora se descobrir que se fez mal e que devia até ser mais rígido)

terça-feira, 12 de julho de 2011

E a desunião do euro continua

Ministros das Finanças concordam com participação dos privados no segundo empréstimo à Grécia, diz Olli Rehn, comissário europeu dos assuntos económicos e monetários, em linha com o comunicado de segunda-feira do Eurogrupo.

"Participação de privados na ajuda á Grécia não é uma boa ideia", diz a ministra das Finanças espanhola Elena Salgado.

E depois admiram-se com o facto de as agências de 'rating' considerarem que os países como a Grécia, Irlanda e Portugal, que estão a ser teoricamente ajudados pelos seus parceiros da Zona Euro, estão cada vez mais arriscados para os investidores financeiros.

(A participação de investidores privados é, em abstracto, uma boa ideia - não só justa como racional no quadro de um regime capitalista. Mas envolver os privados neste momento, depois de tudo o que já aconteceu, é condenar o euro)

sexta-feira, 8 de julho de 2011

O BCE, sim, é consequente nas criticas às agências de rating

O BCE suspendeu esta quinta-feira o requisito de rating mínimo para aceitar instrumentos de dívida ou títulos garantidos por Portugal como colateral  nas operações de concessão de liquidez, tal como já o tinha feito com a Grécia Uma decisão tomada na sequência da decisão da Moody's de colocar a dívida da República Portuguesa no nível de especulativa ou "lixo".
O BCE sim, tem sido consequente nas afirmações que faz e consistente nas decisões e posições que assume. Não se fica pelas criticas às agências de 'rating' como fazem os líderes de alguns dos grandes ou importantes países do euro para depois lhes dar, às agências, munições para fragilizarem ainda mais os países fragilizados.

O que fez a Moodys, como escrevi aqui, foi internalizar a possibilidade de incumprimento da Grécia colocada em cima da mesa pelos líderes europeus, nomeadamente da França e da Alemanha, e daí retirar as consequências: Portugal será o próximo. Uma mensagem transmitida pelos parceiros de Portugal no euro.

Os muitos sublinhados que Jean-Claude Trichet fez - "we [ECB] say 'no' credit event, no selective default" - são dirigidos aos responsáveis europeus. A Europa, defendeu, deve seguir a "doutrina internacional". E deu o exemplo da abordagem feita na crise do sudeste asiático, em 1997, vários países foram ajudados pelo FMI e/ou pelos seus vizinhos.

Vale a pena ver o vídeo da conferência de imprensa para se perceber como Frankfurt está afastada de Bruxelas. Trichet recordou, basicamente, que não se parte para um plano de reajustamento financeiro com propostas de incumprimento, como está a acontecer com a Grécia.

Vale ainda a pena ver como Trichet anda irritado. Aos 60 minutos, respondendo a uma questão sobre a possibilidade de a credibilidade do BCE estar afectado pelo seu envolvimento no apoio à Grécia, Irlanda e Portugal, mostrou-se bastante irritado: "Yes, sir, we are credible".

Não vale a pena matar os mensageiros como a Moody's que reflectem basicamente o caos em que está a União Europeia. Antes da crise no euro e do processo de ajuda à Grécia, um apoio financeiro internacional - do FMI - abria os mercados, não os fechava ainda mais, como está a acontecer agora. O fecho dos mercados está a ser ditado por um único acontecimento: a ausência de entendimento político dentro da União.

(Mais uma vez isto não quer dizer que não devem existir mudanças no sector das agências de 'rating' - além de viverem num oligopólio, como disse Trichet, são pró-cíclicas, ou seja, como também escrevi aqui, alimentam as euforias e os pânicos) 

quarta-feira, 6 de julho de 2011

A Moody’s tem razão (e não tem)

A decisão da Moody’s de colocar o ‘rating’ de Portugal em lixo é um banho de gelo sobre a expectativa de que plano da troika e novo Governo significa salvação. Uma enorme ilusão. O problema não é (apenas) técnico, é político. O que significa que temos de ser mais troikistas que a troika.

As agências de rating ouvem o que nós ouvimos e ouvem mais, ouvem aquilo que se diz nos corredores do euro. E perguntam: será que os líderes do euro querem mesmo salvar a Grécia e Portugal?

Vejamos o argumento da Moody’s:

1. Portugal corre o risco de não cumprir os objectivos de redução do défice orçamental e de estabilização do endividamento acordados com a troika por causa dos “enormes desafios que o País enfrenta ao nível da redução da despesa e do combate à fuga fiscal, para impulsionar o crescimento económico e apoiar o sistema financeiro."

2. A banca portuguesa regista a "possibilidade não negligenciável” de “precisar de mais apoio do que o que está previsto no acordo” com a Troika

3. Como consequência (de 1. e 2.) Portugal corre um "risco crescente de precisar de um segundo plano de assistência financeira antes de conseguir regressar aos mercados financeiros".

4. E em face da probabilidade de precisar de mais ajuda (concluído em 3.) a abordagem recente à crise da dívida na Grécia criou “uma maior possibilidade de colocar como pré-condição para novos empréstimos a participação dos credores privados".

Ou seja, o mundo mudou outra vez, mostrando mais uma vez que o problema é político:
  • A Moody’s, que defende os interesses dos investidores, dada a probabilidade de Portugal precisar de um empréstimo adicional – já previsto e admitido antes – e face à nova perspectiva, que a Zona Euro gerou com a Grécia, de envolver os credores privados, avisa os investidores financeiros que podem perder mais dinheiro com activos portugueses do que previam ou do que já estão perder.
E o mundo não mudou outra vez, revelando mais um vez como o problema é político:
E o mundo expõe os desejos políticos secretos por linhas tortas:
E eis que voltamos à pergunta fundamental: Querem alguns países do euro que Portugal se mantenha no euro? Ou querem expulsar do euro Portugal, tal como a Grécia, a Espanha e, como efeito colateral, a Irlanda?

Esta é a pergunta que os líderes dos países do euro têm de responder com actos e declarações públicas e privadas. Porque são dúvidas quanto à vontade política de manter o euro como está que justificam o comportamento das agências de ‘rating’ e a reacção dos mercados financeiros.

As agências de ‘rating’ sabem que alguns países do euro estão convencidos que estariam melhores sem a Grécia, Portugal, Espanha e, porque parecia mal, a Irlanda. Gostariam também de ver a Itália fora, mas isso é mais difícil. Passámos do Clube Med como chamava a este grupo de países, em 1998, o então ministro das Finanças holandês Gerrit Zalm para os PIIGS e GIPSI. O problema é o mesmo.

É exactamente porque o problema é político que hoje como na altura temos de cumprir o plano da troika e ser até mais troikistas que a troika.

Não podemos dar um único pretexto técnico – como não o demos na altura do exame para a entrada no euro em 1998 – para a justificação política do lamentamos, mas não são capazes de estar na União Monetária.

É por isso que devíamos ter aprovado o PEC IV. Mas o passado pouco importa.

Hoje o Governo tem de cumprir escrupulosamente as medidas impostas pela União Europeia e pelo FMI e, no que for possível, adoptar ainda mais medidas que reduzam rapidamente as necessidade de financiamento externo da economia portuguesa. Por isso é que o imposto extraordinário é uma boa medida. E cada um de nós, na medida do que pudermos e se queremos continuar no euro, tem de consumir menos e poupar mais.

O problema das agências de ‘rating’? Sim, são um problema.

É verdade que se a Zona Euro tivesse tido outra abordagem do problema grego, se mostrasse vontade política de o resolver, a Moody’s não teria cortado o rating de Portugal em 4 níveis para Ba2. Uma possível abordagem, que efectivamente resolveria o problema foi em devida altura defendida por Tremonti e Juncker e hoje temos mais uma nova abordagem de Stuart Holland e Yanis Varoufakis.

Mas há mais. As agências de ‘rating’ mostraram que são factores de instabilidade dos mercados, alimentando as euforias e os pânicos. Têm o poder de confirmar as suas próprias previsões. É preciso mudar e reduzir o seu poder. Mas esse é outro problema que tem de ser resolvido a nível global mas que não resolverá o problema de Portugal.

A nós apenas nos resta, neste jogo do finge que ajuda, não dar pretextos técnicos. Isso significa mais do que cumprir o plano da troika, com a prudência que o elevado endividamento das famílias e empresas exige. A alternativa, sair ou ser expulso do euro, é muitissimo pior, um autêntico pesadelo.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Trichet e o seu E que falta na UEM

O ainda presidente do BCE defende um Ministério das Finanças europeu como se pode ler aqui e aqui:

“Nesta união de amanhã... será que seria demasiado audaz a ideia de um Ministério das Finanças Europeu?”
A audácia não é, infelizmente, uma qualidade dos políticos que lideram hoje os países da União Monetária. Políticos que não olham à sua volta, olham apenas para os gráficos de popularidade e sondagens.

Todos sabem que a União Monetária tem falta de União Económica e Política. A ausência destes dois últimos pés do tripé ameaça acabar com o euro. Mas por enquanto parecem contentar-se, os líderes do euro, a gritar contra a Grécia, a Irlanda e Portugal para gáudio dos que não pensam.

Jean-Claude Trichet tem outros gráficos para onde olha, os do valor do euro. É verdade que coincide hoje, a defesa desse valor do euro, com os interesses da União Monetária. E Trichet ainda (ou já é) é livre das sondagens. 

De olhos na Grécia

A Grécia é a nossa bola de cristal. Se não quisermos que o presente da Grécia seja o futuro de Portugal temos de cumprir rigorosamente o acordo assinado com o FMI e a com a UE.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O dia seguinte, 6 de Junho

O grau de exigência do plano de ajuda externa logo em Junho e Julho é aterrador não porque o que lá está seja especialmente difícil mas por aquilo que se tem passado em Portugal - de há quase duas décadas a esta parte - quando mudam os partidos do Governo: a limpeza total de dossiers sem que se deixei ao sucessor nenhum trabalho.

As obrigações do Governo de Sócrates é o meu editorial de hoje. Esperemos que tudo esteja a ser feito para que, logo na primeira avaliação da troika em Julho, se possa dizer a Bruxelas e Washington que tudo foi cumprido. Para que se passe de imediato à fase seguinte - a decisão política.

Vale a pena ler a este propósito o Insurgente onde Ricardo Arroja em não se dão ao trabalho chama nomeadamente á atenção para a falta de hábito de estudar antes de decidir - metodologia que é agora imposta como se pode ler no Acordo do empréstimos externo.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A Grécia (quase) sem soberania

Foi a manchete de hoje do Financial Times:
Greece set for severe bail-out conditions

European leaders are negotiating a deal that would lead to unprecedented outside intervention in the Greek economy, including international involvement in tax collection.


Um sério aviso a Portugal. O acordo assinado com a União Europeia e o FMI é mesmo para cumprir.
A saída do euro é a alternativa.

domingo, 29 de maio de 2011

Ooops...Afinal não é só a Grécia que revê contas públicas

Encontrado no Alphaville uma análise do BCE Fiscal Data Revisions in Europe  a revelar que, embora a Grécia tenha ultrapassado bastante a média, não é caso único na revisão em alta dos défices públicos. E que esta revisão não é um atributo dos pequenos países nem dos ditos periféricos e que está correlacionado com os períodos eleitorais, de crise económica e ainda com as alterações metodológicas do Eurostat.

Aqui está um dos quadros:

terça-feira, 26 de abril de 2011

Teixeira dos Santos e José Sócrates

Sobre a manchete deste sábado do Expresso "Sócrates e Teixeira dos Santos em rutura total" vale a pena revisitar o minuto a minuto do dia em que foi anunciado o pedido de ajuda.

O ministro das Finanças, consciente do risco que Portugal estava a correr e depois de ter tentado por todos os meios convencer o primeiro-ministro, precipitou o pedido de ajuda externa.

Depois de o ministro das Finanças ter dito, em resposta à questão sobre o pedido de ajuda externa: "(...)entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à atual situação política", õu demitia o ministro - provocando um terramoto brutal - ou pedia ajuda como o fez.

O ministro das Finanças fez o que tinha de fazer face aos riscos a que Portugal estava a ser exposto pela não decisão do primeiro-ministro. E o país deve estar-lhe agradecido por isso.

O PS, pelo menos uma parte, já se percebeu que não está agradecido. Nem agradecido pelo que Teixeira dos Santos fez nesse dia 6 de Abril, nem pelo que tentou fazer há quase mais de um ano para evitar que Portugal acabasse a pedir assistência financeira.

O que alguns socialistas têm dito sobre a ausência de Teixeira dos Santos das listas de deputados do PS é, no mínimo lamentável. As excepções são Ana Gomes e Edite Estrela.

As democracias não vivem sem partidos. Por isso mesmo os patidos, naquilo em que se transformaram, constituem hoje o maior risco para as democracias - nao apenas em Portugal, claro.

Em linguagem de economistas, a sua função objectivo - conquistar e manter o poder - parece ter ficado sem restrições activas - como por exemplo conquistar o poder desde que não se prejudique os cidadãos do país.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O euro em sucessivos erros

A crise da dívida na zona euro agrava-se. Depois do "ajuda/não ajuda", entrámos agora na fase do reestrutura/não reestrutura.

A reestruturação é agora o debate da moda entre os líderes europeus - começou no fim da semana passada com o mote dado pelo ministro alemão das Finanças.

Na família do euro todos ralham uns com os outros, em publico e sonoramente, sem consciência de que podem estar a abrir a caixa de Pandora que levará ao fim de um projecto que nasceu com grande esforço em Roma, nos idos de 1958.

Os juros da dívida grega a dois anos ultrapassaram hoje os 22%. Os títulos portugueses para o mesmo prazo estão com taxas superiores a 11%. O comportamento de hoje no mercado aqui sintetizado.

É nas maturidades curtas que agora se registam as fugas aos títulos de dívida pública dos ditos países periféricos - reestruturação ou perda efectiva por entrada em vigor do novo mecanismo europeu de ajuda explica esse comportamento.

Aquilo a que se assistiu nos últimos dias revela bem como a família do euro anda pouco amiga.
Apenas um exemplo:
Líderes dos Verdadeiros Finlandeses querem que banca espanhola tamb+em participe na ajuda a Portugal por estar exposta... a Portugal
Se essa regra se aplicasse, também outros países seriam arrastados - como a França e a Alemanha.
Isto não está nada bonito.

domingo, 10 de abril de 2011

A Europa zangada com Portugal, e com toda a razão

O que disseram alguns dos ministros das Finanças europeus em Godollo, na Hungria, mostra bem como devíamos ter vergonha.

Finlândia
O ministro finlandês das Finanças afirma que Portugal só deve ser ajudado se apresentar e cumprir um plano de austeridade mais apertado que o PEC IV.

A Finlândia está a dias de eleições, a extrema direita ganha terreno e a maioria dos finlandeses (60%) é contra  plano de ajuda aos países endividados do euro desenhado pela UE.  A ajuda a Portugal tem de ser aprovada no Parlamento finlandês, condição que Helsinquia colocou para participar no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (cada caso é um caso e terá de ser aprovado pelos parlamentares).

Suécia
O ministro das Finanças sueco Anders Borg  afirma que Portugal merece duras criticas. "Os portugueses colocaram-se a si e à Europa numa situação muito difícil", diz, citado pela Reuters. E considera que Portugal já devia ter pedido em finais do ano passado.

No Público podemos ainda ler que Borg afirma que o Governo tem uma grande responsabilidade no que se passou e que lhe foi pedido para enfrentarem a situação em finais do ano passado. Critica ainda o processo de ajuda: chegou na quinta à noite "para tomarmos uma decisão na sexta".

(E, digo eu, mesmo assim, o pedido chegar quinta à noite para uma ajuda que tem de chegar em Junho exigiu um esforço que o ministro sueco não imagina)

O montante em causa, diz ainda Borg, é demasiadó elevado para se para um Estado-membro pedir aos outros que tome uma decisão num período de tempo tão curto.

As estimativas do ministro sueco é de que Portugal precisa de 15 a 20 mil milhões de euros nos próximos meses. No Negócios escrevemos, com base em fontes conhecedoras da situação financeira portuguesa, que Portugal precisa de 25 mil milhões de euros nos próximos seis meses.

Não se faz o que o Governo está a fazer a um país, aos seus cidadãos e ao projecto europeu.
E - mais grave - parece que nem se repara que isto está a acontecer. Quando a Grécia estava a colapsar em Maio e com ela o euro, festejava-se o Benfica. Hoje o Governo festeja o líder.

Devíamos ter vergonha

Sim, "shame on we", pela figura que Portugal está a fazer internacionalmente.
Têm sido dias negros para o país.
Para exemplificar o desprezo que agora merecemos de alguns dos nossos parceiros europeus basta ler

  • o editorial de ontem do FT e a Lex, com o novo termo para dívidas insustentáveis, Portugalling. Eis uma pequena e bastante ilustrativa citação do editorial de 8 de Abril:
If European partners are confident that Lisbon is willing and able to repay its debt at an interest rate above the EFSF’s cost of funding, but below what a panicked market demands, it is irresponsible of them not to lend (and make money in the process).
For Portugal, that willingness is a bigger “if” than even for Greece. Lisbon has shown little appetite for the necessary belt-tightening and structural reforms of the economy to restore its long-lost ability to grow. The rest of Europe should be ready to extend rescue loans, but before it does so, it must demand that Portuguese politicians use the election campaign to seek a mandate from the people for a programme of reform. If this is achieved, and a loan is granted, all sides must accept that if the loan conditions are not met, aid will stop and a default triggered.

  • o que disseram este sábado dia 9 de Abril em Gondollo, perto de Budapeste, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários Olli Rehn e o presidente do BCE Jean-Claude Trichet - mandaram, basicamente, as lideranças portuguesas falarem menos e trabalharem mais:
Olli Rehn e Trichet apelam a menos diálogo na praça pública em Portugal

Um país à beira do colapso financeiro, da bancarrota, dá-se ao luxo de brincar com quem o pode ajudar. Já que não existe qualquer preocupação com os cidadãos portugueses - tem de ser Olli Rehn a falar dos cidadãos portugueses -, que pelo menos actuem de outra forma por vergonha de si próprios. Porque com o país, já percebemos, poucos estão preocupados.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

E Portugal pediu ajuda

No dia 6 de Abril de 2011, Portugal pede ajuda financeira à União Europeia. E assim sai dos mercados financeiros - deixa de se financiar no mercado e passa a financiar-se directamente junto da UE/FMI.

Uma ajuda que se tornou inevitável, ditada pela velocidade com que subiram as taxas de juro e desceram os 'ratings' da República desde que o Governo se demitiu na sequência do chumbo do chamado PEC IV.
Um pedido que José Sócrates concretiza contra a sua vontade.

Desde o início da semana assistimos a entrevistas de banqueiros à TVI afirmando em praça pública o que nunca imaginaríamos possíveis.
O presidnete do BCP foi o primeiro a dizer que Portugal devia pedir ajuda já. Seguiu-se o banqueiro dos banqueiros, Ricardo Salgado na terça-feira, afirmando exactamente o memso: Portugal tem de pedir ajuda.

Foram (as entrevistas dos banqueiros), e são, reveladoras da resistência do primeiro-ministro em pedir apoio financeiro à UE, fazendo o país correr um risco de colapso que nos custaria bastante caro.

E todo o calendário de dia 6 de Abril revela bem até que ponto o primeiro-ministro estava disposto a ir na sua recusa em pedir ajuda:

18:00 - O processo de pedido de ajuda começa com a entrevista do ministro das Finanças dada por escrito, e que é publicada praticamente à hora a que chegou ao mail. O objectivo era comentar o leilão de Bilhetes do Tesouro que deu um sinal dramático de encerramento dos mercados para Portugal. Eis que quando questionado sobre o pedido de ajuda responde:
"Perante esta difícil situação, que podia ter sido evitada, entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política. Tal exigirá, também, o envolvimento e o comprometimento das principais forças e instituições políticas nacionais".

19:00 - Sabe-se que o primeiro-ministro vai fazer uma comunicação ao país às 20:30

Poucos minutos depois das 19:00 a Comissão Europeia dizia que ainda não tinha recebido um pedido de ajuda de Portugal

Quase às 20 horas sabe-se que foi convocado um Conselho de Ministros extraordinário.

Pouco depois das 20:30 o primeiro-ministro anuncia que pediu ajuda externa.

21:00 em Lisboa, 22:00 em Bruxelas, a Comissão Europeia revela em comunicado que o primeiro-ministro José Sócrates informou o presidente da Comissão que vai pedir ajuda.

Tudo correrá bem - e provavelmente melhor do que esperamos neste momento - se os partidos do arco da governação actuarem responsavelmente. Têm de assumir compromissos em plena campanha eleitoral.
Será a credibilidade desses compromissos que evitará medidas ainda mais duras de austeridade. Quanto mais for a capacidade de os partidos se entenderem, de cooperarem, menos será o aperto do nosso cinto.

Vamos ter de reduzir o nosso nível de vida, mas poderemos fazê-lo à bruta ou mais lentamente - tudo depende dos nossos líderes políticos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ainda na Economist, os líderes fragilizados

@Economist Peter Schrank
Líderes cansados, sociedades em mudança e crises que parecem eternas. Vale a pena ler pelo que se diz das tendências das sociedades actuais - os partidos de massas acabaram -, pelos vários factores identificados como fragilizadores da União - por exemplo, o tempo, demasiado, que estão no poder - e especialmente pelo olhar sobre as mudanças no eleitorado - os partidos de massas acabaram, diz-se.
E finalmente pela fantástica síntese final:
"If Mr Sarkozy were less mercurial, Mrs Merkel less prone to panic, Mr Zapatero more convincing and Mr Berlusconi less of a buffoon, Europe would be less handicapped."

A Economist sobre Portugal, Grécia e Irlanda, a ler


"Eles vão rebentar. Reconheçam"
"(...)
These economies [Greece, Ireland and Portugal] are on an unsustainable course, but not for lack of effort by their governments. Greece and Ireland have made heroic budget cuts. Greece is trying hard to free up its rigid economy. Portugal has lagged in scrapping stifling rules, but its fiscal tightening is bold. In all three places the outlook is darkening in large part because of mistakes made in Brussels, Frankfurt and Berlin.

At the EU’s insistence, the peripherals’ priority is to slash their budget deficits regardless of the consequences on growth. But as austerity drags down output, their enormous debts—expected to peak at 160% of GDP for Greece, 125% for Ireland and 100% for Portugal—look ever more unpayable, so bond yields stay high. The result is a downward spiral.

This newspaper has argued that Greece, Ireland and Portugal need their debt burdens cut sooner rather than later.
(...)
The big obstacle is not technical but political. Since many at Europe’s core, particularly the ECB, remain implacably opposed to debt restructuring (...)
It is time the Fund’s top brass said so publicly and, by refusing to lend more without a deal on debt, pushed Europe’s pusillanimous politicians into doing the right thing.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Taxas de juro mais altas e salários mais baixos

Os argumentos de Jürgen Stark para o BCE aumentar as taxas de juro estão no Financial Times. Aqui se transcrevem alertas que são especialmente importantes para Portugal.
           (...)
The “optimality of a currency area” is not a given or static state of affairs. It is the result of the determination of all policymakers to increase the resilience of all the constituent parts of the area. One-size-fits-all requires downward unit labour cost adjustments in countries with high unemployment and major competitiveness problems; it also requires all national fiscal and supervisory policies to avoid any build-up of imbalances and boom-bust cycles.

At the European level, this needs to be supported by stricter rules and more effective surveillance mechanisms of national economic policies.

It goes without saying that implementing the necessary reforms not only benefits the countries concerned, but is also an obligation for all governments so as to ensure that their economies function smoothly within our monetary union. It is in this sense that one size fits all.

O BCE e as suas taxas de juro

Será que Juergen Stark defende a subida das taxas de juro na Zona Euro porque está preocupado com a inflação ou porque está preocupado com a perspectiva de uma nova onda recessiva numa Europa sem instrumentos de política para combater um novo mergulho das economias?

Subir as taxas permitia depois descê-las. E uso aqui um contributo de F., na caixa de comentários que é hoje ainda mais actual:

(...)Mas eu vejo mais a subida anunciada da taxa de refinanciamento como uma questão de política económica quase pura (se é que isso existe...). Como ainda não está devidamente antecipado o impacto negativo que vai ser sério da incerteza no mercado do petróleo em bruto, o BCE procura desde já criar algum “espaço monetário”. Para poder mais tarde ter “espaço” (acima do zero) para fazer descer outra vez.(...)


A subida das taxas poderia ainda contribuir para aumentar efectivamente o custo do dinheiro aos bancos que usam o BCE para comprarem dinheiro a saldo que depois vendem a bom preço a países como a Grécia, Irlanda - no mercado apenas nas maturidades curtas - e ainda a  Portugal, a Espanha, à Bélgica...e às empresas.

(Sei que é politicamente incorrecto falar nisto, mas começa a ser tempo de começarmos a pensar fora do esquema que aprendemos nos livros - o que está nos livros é Concorrência Perfeita com uma enorme quantidade de pressupostos fortíssimos, o um mundo que não existe na realidade)

Claro que para as famílias e empresas portuguesas - e como tal para a banca - seria  mais uma desgraça a juntar-se às que já tempos.

Conselhos a Portugal

Por tudo o que tem acontecido vale a pena ler:

Bit of friendly advice, Portugal  no Independent - and I say, thank you Ireland but I don't we have any other solution.

e ainda
Brazil to annex Portugal? no FT, and I say What???? and after that...Why Not?

Se os soberanos desistiram da sua soberania, é capaz de ser preferível integrar nações com culturas semelhantes do que estar sujeito aos obscuros critérios da avaliação de risco das agências de "rating" - não me acusem de não ser a favor do mercado, porque não sou e porque as agências de "rating" são tudo menos mercado e querem tudo menos mercado.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Em plena crise financeira...

... o Parlamento derrubou o Governo.
Resta-nos saber se os líderes políticos dos partidos de poder sabem exactamente o que fizeram.

Por causa das medidas consagradas no Programa de Estabilidade e Crescimento 2011-2014 conhecido como o PEC IV, mas que é na verdade o PEC I de 2011.
Adiámos os remédios, vamos tomá-los em dose maior.

terça-feira, 8 de março de 2011

"Women mean business"


Ok!Ok! Hold it!
I just want to say something.
You know, for every dollar a man makes
a women makes 63 cents.
Now, fifty years ago that was 62 cents.
So, with that kind of luck, it'll be the year 3.888
before we make a buck. But hey, girls?
(...)
Laurie Anderson, Beautiful Red Dress


Assinalam-se hoje os 100 anos do Dia Internacional da Mulher.
Por aqui foi esquecido nas primeiras páginas dos jornais (confesso que também dei conta disso apenas hoje). Porque será?
Houve umas estatísticas - como Os homens e as mulheres em números e a comissária europeia, e uma das vice-presidentes, Viviene Reding reuniu com presidentes de empresas cotadas e disse "women mean business". O representante português foi o presidente da Zon, Rodrigo Costa.

Das primeiras páginas dos jornais de hoje reunidas pelo Newseum aqui fica o meu top:
Kleine Zeitung - Graz, Austria

Augsburger Allgemeine - Augsburg, Germany

The Globe and Mail - Toronto, Canada

Hurriyet Daily News & Economic Review
Istanbul, Turkey


domingo, 6 de março de 2011

As razões do BCE para subir os juros

O BCE apanhou toda a agente de surpresa ao anunciar uma subida da taxa de juro já em Abril.

No Negócios (edição impressa) recorda-se o erro que cometeu em Junho de 2008, quando anunciou a subida das taxas - que concretizou -, sendo depois obrigado a descê-las com grande rapidez após a falência da Lehman Brother's. O editorial é exactamente sobre esse tema.

Uma das principais razões para esta inesperada antecipação do BCE - com efeitos muito negativos para Portugal - é política de politics e não de policy: pressionar os líderes europeus do euro, que se vão reunir na sexta-feira dia 11 de Março, a assumirem a resolução do problema de liquidez e até de solvência de bancos - como os irlandeses - e dos países.

Vale a pena ler Wolfgang Munchau que sistematiza as razões de policy e as razões de politics - também elas relacionadas com a política monetária.
O BCE não pode continuar a manter a soro alguns países - entre eles Portugal - e alguns bancos - os irlandeses.

Mexia e Ulrich à desgarrada

Na entrevista que o Expresso publicou esta semana com o presidente da EDP António Mexia há uma interessante troca de argumentos com o presidente do BPI Fernando Ulrich:

Pergunta: O presidente do BPI, Fernando Ulrich, diz que se quiserem que o sector bancário seja tão seguro como o eléctrico se calhar também se justificava no sector bancário medidas como preços garantidos (...). Como vê estes comentários que apontam para a existência de proteccionismo ao mercado eléctrico?
António Mexia: (...) Mas não vou falar de outros sectores que muitas vezes beneficiaram de políticas expansionistas, de fomento da política 'a cada pessoa a sua casa', etc que depois criaram alguns problemas com os quais vivemos hoje.

Mercado, pergunto eu, qual mercado?

Jornalismo e Wikileaks

A forma como o Expresso tratou e está a tratar os telegramas Wikileaks sobre Portugal são um exemplo de como se devem tratar estes documentos. A original origem dos documentos não nos dispensa, a nós jornalistas, da obrigação de confirmar os factos e confrontar todas as partes envolvidas com eles.

O jornalismo nunca foi ser pé de microfone ou especialista em "copy past".

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A frase de Carlos Costa

O Estado em Janeiro - o monstro


A despesas e receitas do sector público em Janeiro são uma surpresa desagradável. Contrariamente à expectativa criada com as notícias que o Governo foi dando desde sábado, os números estão longe de convencerem que a situação financeira está sob controlo. O monstro parece ter vida própria.
Eis uma síntese dos valores que se podem ler no relatório de execução orçamental:
Estado
»A receita aumentou 14,4%
» A despesa cresceu 0,9% - as despesas com pessoal subiram 4,9% apesar dos cortes salariais, evolução que é justificada por mudanças no universo de comparação com 2010.

Serviços e Fundos Autónomos
» Despesa aumentou aumentou 6,4% com contributo determinante da despesa corrente que subiu 5,1%.
» Organismos como a Assembleia da República e a Autoridade da Concorrência não deram às Finanças informação sobre as suas contas em Janeiro (ao todo são 16) - o que significa que os valores estão incompletos.

Segurança Social
»A receita aumentou 0,7%
» A despesa subiu 4,1% (pensões com mais 2,6%; outras prestações sociais caíram 1,6% e um inexplicável aumento de 48,1% nas "outras despesas correntes").

Nota final: o processo de divulgação das contas públicas revela que o Governo parece considerar que consegue evitar que se olhem para os números depois de feitas declarações sobre eles. A situação é demasiado séria para se conseguir convencer seja quem for com estratégias de comunicação.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Vale a pena ler


A dificuldade da matemática e Parcerias público-privadas de João Pinto e Castro

O que devem fazer os jornais  de Paulo Querido que vai buscar Alan Mutter. Não concordo totalmente com Mutter: é preciso conciliar quantidade com qualidade e profundidade.
Pois. Nada fácil.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Tudo dito sobre Portugal, numa frase

Pedro Soares dos Santos, que lidera a JM Foto hipersuper.pt
 
"O consumidor polaco é mais racional do que o português. Além disso, na Polónia a justiça funciona - é muito raro um processo arrastar-se nos tribunais por mais de dois anos - e as leis fiscais são previsíveis"
Pedro Soares dos Santos, filho de Alexandre Soares dos Santos e agora administrador delegado da Jerónimo Martins em entrevista ao Expresso, resposta à pergunta: "Quais são as grandes diferenças entre Portugal e a Polónia?

Uma síntese notável sobre os mais graves problemas que enfrentamos.
E que nos faz luz sobre a irritação revelada por Alexandre Soares dos Santos na apresentação de resultados. Ao ponto de responder a uma pergunta, que usou a metáfora truques para questionar as razões de sucesso da Jerónimo Martins, dizendo que truques é com o Sócrates, na Jerónimo trabalha-se.

Aqui a notícia e o vídeo das declarações de Alexandre Soares dos Santos

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Os juros que preocupam

Fonte: WSJ
A última semana dramática para Portugal. 
O BCE parece querer evitar a todo o custo que Portugal caia nas mãos do Fundo Europeus de Estabilização Financeira (FEEF) antes das mudanças que se esperam para Março.

Se não se fizerem progressos na cimeira extraordinária do euro dia 11 de Março que apontem claramente para um decisão no Conselho de finais de Março, dificilmente Portugal conseguirá resistir às pressões para pedir ajuda. Mesmo com bons resultados na frente orçamental.

A era do dinheiro grátis acabou - a BBC sobre Portugal

domingo, 23 de janeiro de 2011

O novo-riquismo tecnológico

O caos gerado pelo Cartão do Cidadão nas eleições Presidenciais é o exemplo mais dramático e mediático do novo-riquismo tecnológico. Temos a infra-estrutura, não temos o que faz funcionar a infra-estrutura nem dinheiro para a manter.

»O Cartão do Cidadão só melhora a vida do cidadão se existirem equipamentos de leitura digital dos dos diversos números que ali estão inseridos. Ora esse equipamento praticamente não existe. Vale a pena perguntar a quem tem Cartão do Cidadão quantas vezes ele foi usado com todas as suas potencialidades.
No caso do número de eleitor, quem tem o Cartão de Cidadão há algum tempo resolve o problema anotando o seu número de eleitor num papelinho - só assim sabe qual é já que não existem as tais máquinas que leia o número não visível no cartão.

» Os quadro interactivos que foram comprados para muitas escolas exigem canetas especiais e uma manutenção que tem custos. O resultado é quadros que não se usam - dinheiro deitado fora, claro.

Todo este novo-riquismo é ainda visível no país em muitos outros universos. Como o Metro, onde se gasta de mais na decoração das estações e de menos e devagar na expansão da linha; como nas auto-estradas, onde se fazem quilómetros e quilómetros e poucos acessos.

A leviandade com que se tratou a campanha informativa para as presidenciais associada à campanha ilusória do cartão do cidadão - que tudo fazia - conjugaram-se para gerar o caos a que assistimos, digno de um país subdesenvolvido - ou dos Estados Unidos.