quarta-feira, 12 de setembro de 2012

E o prémio da troika ao bom aluno foi... mais austeridade

Rapidamente aqui para recordar o que escrevi há um ano sobre a descida da TSU:
A nova droga chamada taxa social única:

Continuo sem perceber o que se passou. Ou antes, só entendo esta medida de descida da TSU como uma imposição dos representantes dos credores, o FMI, a Comissão Europeia e o BCE. E, se assim foi, o Governo devia dizê-lo para que a responsabilidade ficasse nas mãos de quem a tem.

Porque o fracasso de hoje é o fracasso dos modelos dos que represnetam o credores - aqui, como na Irlanda, como na Grécia. Estão a matar os doentes com a cura.
E nós, portugueses, fizemos o ajustamento, tudo: poupámos, cortamos no consumo...De tal forma travámos que atingimos o reequilíbrio externo mais depressa que o previsto. E o prémio da troika ao aluno bem comportado foi... mais austeridade.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Draghi sobre a crise no euro

Vale a pena ler o que o presidente do BCE escreveu sobre a situação que se vive no euro.
Aqui o artigo da Eva Gaspar sobre o que escreveu Mario Draghi.
E aqui a versão em inglês do artogo publicado no Die Zeit: "The future of the euro: stability through change".
 

sexta-feira, 20 de julho de 2012

O lento regresso à superfície da economia

O interessante, para já, é a manutenção da trajectória de regresso à superfície da actividade económica - ou seja, de início do fim da recessão.
O maior e mais sério risco é que tudo isto esteja seriamente ameaçado por mais este violento abalo na Zona Euro agora com epicentro em Espanha.
Eis os indicadores coincidentes hoje divulgados pelo Banco de Portugal.

terça-feira, 17 de julho de 2012

A quarta avaliação da troika

Foi dia de divulgação da quarta avaliação da troika ao Programa de Ajustamento Económico e Financeiro (PAEF) de Portugal.
Em síntese pode dizer-se que FMI e Comissão Europeia elogiam o ajustamento financeiro, alertam para riscos elevados e abrem a porta a mais tempo (e, obviamente, mais dinheiro).
Fica um também muito interessante alerta sobre as diferenças de velocidades nas reformas do mercado laboral - a legislação do trabalho mais flexibilizada - e dos mercados de produtos e serviços - mudanças muito mais lentas em sectores como a energia e as telecomunicações. ( A velha história de ser forte com os fracos e fraco com os fortes e que a pressão da troika pode ajudar a ultrapassar)
A troika, com especial relevo para o FMI mostra-se igualmente céptica com as medidas adoptadas pelo governo para corrigir as remunerações dos CMEC que pertencem à EDP - como o Negócios tinha noticiado.

Aqui ficam os documentos:
A quarta avaliação feita pelo FMI.
E a quarta avaliação feita pela Comissão Europeia

As notícias sobre os relatórios.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

A violação da confiança, igualdade e proporcionalidade

A decisão do Tribunal Constitucional sobre os cortes nos subsídios de férias e de Natal dos funcionários público, muito interessante, a lembrar que se violam os princípios da protecção da confiança [no Estado], da igualdade e da proporcionalidade.

Alguns pontos à margem interessantes na posição do TC:
- O TC lembra que Pedro Passos Coelho disse, antes de ser primeiro-ministro que o corte do 13º mês era "um disparate", citando a notícia da Lusa (não admirara, por isso, a irritação do primeiro-ministro);
- O TC sublinha que existiam medidas alternativas (lembram-se de se ter dito na altura que existuam três cenários em cima da mesa do Conselho de Ministros levados pelo ministro das Finanças? E que um deles era o lançamento de um imposto extraordinário para abranger também o sector privado? E que houve dois fundamentos para a decisão: 1) o PSD ter prometido que reduzia o défice com cortes na despesa - as famosas gorduras - o que não aconteceria, formalmente, se a solução fosse um imposto extraordinário; 2) a convicção de que menor o efeito eleitoral de cortes nos salários da função pública - vota menos no PSD);
- O TC sublinha por diversas vezes que há pessoas que sofrem cortes que chegam a um quarto do seu rendimento anual e que os pensionistas não têm hipótese de reprogramar a sua vida - se o Estado não for uma pessoa d ebem resta-lhes, aos pensionistas, as dificuldades;
- O TC deixa nas entrelinhas a mensagem da falta de medidas noutras áreas que garantiam uma distribuição mais equitativa dos sacrifícios - ao ler essas passagens só nos podemos lembrar das medidas que tardam nas PPP e outras concessões do Estado, por exemplo, sobre as quais o governo poderia lançar uma contribuição especial. E nas ditas rendas excessivas que aliviariam a factura eléctrica.

Qual a consequência da decisão do Tribunal Constitucional? É melhor preparar-nos porque todos devemos ficar sem um dos subsídios - férias ou Natal - no próximo ano, por via do imposto especial. E lá se vai a contabilidade de que o défice se reduz com cortes na despesa pública.

Ver aqui as notícias sobre o tema.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A Espanha por aí

BCP, a primeira ajuda pública

O BCP vai receber três mil milhões de euros sob a forma de empréstimo público e  planeia começar a devolver o empréstimo público a partir de 2014.


Além dos 3 mil milhões de euros a realizar com instrumentos híbridos, está consagrado um aumento de capital de 500 milhões de euros destinada a accionistas mas que o Estado tomará firne a 4 cêntimos por acção e a realizar durante o segundo semestre de 2012
Informação em estado bruto: O plano de recapitalização do Millennium bcp

(actualizado às 16:00)

domingo, 10 de junho de 2012

E a seguir ao S de GIPSI é...?

Os líderes europeus parecem fazer questões de respeitar as premonições dos ditos mercados.
A Espanha, por mais que diga que não Mariano Rajoy, caiu nas garras do resgate.

Um modelo um pouco mais desenvolvido - um empréstimo só para a banca que ninguém sabe nem garante que fique por aí, uma vez que ninguém sabe se a decisão de pedir apoio financeiro vai reabrir os mercados financeiros que estavam quase a fechar-se para Espanha.

Mas claro que o modelo de apoio - um empréstimo que pode chegar aos cem mil milhões de euros - vai envolver condições políticas adicionais a Espanha. Nem fazia sentido que fosse de outra forma. As políticas podem não ser as mesmas - até porque muitas delas já estão consagradas nos objectivos para o défice público - mas alguma condicionalidade terá de ser aplicada.

A alternativa á ausência de nova condicionalidade é a revisão dos programas aplicados à Grécia, Irlanda e Portugal. O que não parece, ainda, politicamente viável.

Quanto mais tempo passa mais claro se torna que a Europa teve um problema com a sua banca que não quis resolver nem assumir como o fizeram o Reino Unido e os Estados Unidos. Mesmo Portugal.

E ainda não é desta vez que a Zona Euro consegue resolver de vez o problema em que se enredou. Para já só comprou tempo até ao próximo domingo, o dia das eleições gregas.

Notas finais:
A declaração do Eurogrupo sobre Espanha onde se explicita a condicionalidade e se afirma que será o Estado espanhol que assumirá a responsabilidade pelo pagamento do empréstimo - ou seja, os contribuintes espanhóis.

Para quem se quiser debruçar sobre a situação do sistema financeiro espanhol pode ler o relatório publicado pelo FMI

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Ai a Grécia, Ai o euro

Foi o título do escrevi hoje no editorial do Negócios. Especialmente dedicado ao dia da Europa, que hoje se comemora, num tributo ao dia 9 de Maio de 1950, quando o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Robert Schuman, anunciou as bases da criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA)

Por isso mesmo estou completamente de acordo com o que afirma o presidente do Parlamento Europeu quando diz que o euro, que deveria unir os Estados-membros, corre o risco de se tornar o "símbolo de egoísmos nacionais" e até de divisão. (Não é, aliás, a primeira vez que subscrevo as preocupações de Martin Schulz: por ex: quando alertou para a necessidade de cooperação dando com exemplo a necessidade de Portugal vender activos a Angola)

O problema da Grécia, como o da Irlanda, Portugal, Espanha, Itália...não será resolvido enquanto não se perceber que não estamos perante o problema de um país mas sim perante uma crise financeira que está a afectar a Zona Euro assim como os Estados Unidos.
Passámos de um regime - até 2007/2008 - de forte incentivo ao endividamento/alavancagem aproveitado pelos países com défices externos - como os EUA - ou escassez crónica de capital - como Portugal -, para um regime de escassez de capital ditado pelo emagrecimento dos balanços do sistema financeiro o que, por sua vez, foi determinado pelo regime de facilitismo na concessão de crédito.

Nos Estados Unidos já se compreendeu qual é o problema. Na Zona Euro insiste-se em equacionar mal a questão atribuindo a atitudes e comportamentos nacionais uma crise que está relacionado com o ambiente e os incentivos que foram dados aos agentes económicos a partir dos anos 90. E que na Zona Euro foram ainda exacerbados pela ilusão de que, em União Monetária, não existiam problemas de financiamento externo. (Houve quem defendesse, nesses primeiros tempos do euro, no BCE, que se acabassem com as estatísticas das contas externas, tal era a convicção de que isso já pouco importava).   

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Os sinais das eleições - Paris Atenas - positivo, negativo

Em França, François Hollande ganhou as eleições dia 6 de Maio, retirando à direita 17 anos de poder e dando a Nicolas Sarkozy o lugar de segundo presidente a perder uma reeleição.
 
O primeiro foi Valérie Giscard d’Estaing que perdeu para o também socialista François Miterrand – que deu à construção europeia, com Helmut Kohl uma era de progressos. Também Miterrand foi o último socialista a ocupar o Eliseu.
 
Vai Hollande abrir uma fractura com Merkel? É pouco provável. De Frankfurt, pela voz do presidente do BCE, e de Berlim, pela voz de Angela Merkel e até do seu ministro das Finanças Wolfgang Schauble, começaram já a notar-se mudanças no discurso, usando a palavra “crescimento”.
 
Está dada a margem de manobra a Hollande e até para a própria Angela Merkel corrigir o ritmo de reequilíbrio financeiro dos estados do euro. Hollande pode ser aquele que vai desbloquear a actual estratégia que parece condenar um a um dos países que vai caindo – Irlanda, Portugal, Espanha, Itália e até a França - a serem “uma Grécia”.
 
Claro que o Tratado Orçamental não vai ser revisto mas começa a existir margem de manobra política para reduzir os défices mais lentamente e/ou aplicar políticas expansionistas nos países, como a Alemanha, que têm excedentes externos.
 
Uma combinação de políticas que vários economistas defenderam desde os primeiros sinais de cris eno euro – quem não está com défices externos aplica políticas expansionistas, quem está com défices externos aplica, obviamente, austeridade.
 
O que não se pode é ter quase metade dos países do euro com políticas de austeridade, enquanto a outra metade mantém inalteradas as políticas e não ter como resultado um mergulho acentuado na recessão de toda a zona euro com agravamento dos desequilíbrios financeiros dos já “desequilibrados”.
 
A vitória de Hollande não acabará com a austeridade em Portugal mas poderá aliviar as condições externas que aumentam as exportações tornando o reequilíbrio financeiro mais certo – no sentido de mais provável, mais bem sucedido – e menos doloroso.
 
O problema continua a ser a Grécia onde o que começou mal não se está a conseguir endireitar. Os eleitores pulverizaram-se, zangados com os políticos, com a troika e com o euro.
 
Veremos se esta mudança na combinação de políticas económicas – com os países do euro a complementarem-se – será capaz de salvar a Grécia. E, claro, Portugal. Que não é a Grécia mas que ainda não está no momento certo para eliminar todas as dúvidas sobre a capacidade de ser bem-sucedido no seu programa de reequilíbrio financeiro. O risco de Portugal aumentou hoje, dia de resultados eleitorais da Grécia, apesar dos progressos que o país fez.

Uma regra para partilhar na rede

Quando partilhar uma notícia na rede não se esqueça da Regra #1 « Atenção à data da notícia

Notícia da morte de Vasco Granja ressuscitou três anos depois. Uma notícia de Maio de 2009 circulou como se fosse actual durante op fim-de-semana.

#radiolondres ou eleições francesas

Os resultados eleitorais – ou pelo menos uma projecção com elevada probabilidade de se confirmar – conhecem-se sempre antes de poderem ser divulgados. Em Portugal, por exemplo, as urnas fecham às 19 horas mas os primeiros resultados só podem ser divulgados a partir das 20 horas por causa da diferença horária com os Açores.

Em França também existem este tipo de restrições e as multas aplicadas a quem viole essa regra são bastante elevadas.
Como se resistiu nas redes sociais? Não se resistiu, contornou-se.
Usaram-se nomes de código: as eleições francesas foram #radiolondres (usada para a BBC na segunda guerra mundial) com os candidatos a merecerem os mais variados nomes.
A história muito bem contada pode ser lida aqui.

sexta-feira, 4 de maio de 2012

A ajuda à banca no passado sistematizada

Os números não estão actualizados mas vale a pena ter como referência este trabalho da Comissão Europeia sobre as ajudas dos Estados à banca - The effects of temporary State aid rules adopted in the context of the financial and economic crisis - para melhor acompanhar o processo de recapitalização que vai ocorrer em breve em Portugal.


As mais recentes regras europeias sobre as ajudas de Estado à banca podem ser lidas aqui.

terça-feira, 20 de março de 2012

Catroga, a EDP e as rendas

O caso das rendas no sector da energia promete continuar. Os estudos estão feitos, objectivo de corte nas rendas está definido – 299 milhões de euros anuais – e há várias soluções, da renegociação à alteração da legislação até ao lançamento de uma contribuição especial – assumindo-se o Estado como soberano.

Mas os grupos de pressão, que na energia têm a força que é proporcional aos seus lucros e rendas, preparam-se para criar um enorme ruído.

Eduardo Catroga veio hoje a publico fazer declarações sobre o tema.

Diz o ex-ministro das Finanças e também ex-líder da missão do PSD para a negociação do programa da troika e actual chairman da EDP:
“(...)no sector eléctrico, se eu fosse Governo, a minha recomendação era ‘vamos analisar todos os custos de interesse económico geral: a cogeração, aos pagamentos às Câmaras municipais, os subsídios às Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores, os subsídios às renováveis, os chamados contratos de aquisição de energia… Isto tem de ser tudo analisado”.
Diz ainda que é preciso definir o que são “rendas excessivas”.

É espantoso o que se vai ouvindo sobre este tema:

1. Eduardo Catroga mistura apoios ao sector da produção de energia com modelos de pagamento de outros serviços que estão também na factura de electricidade. Claro que assim lança a confusão.

2. Os outros pagamentos – como os pagamentos às Câmaras-, não estão a ser discutidos neste momento e até podem sê-lo. Mas não deve misturar-se esse tema com os subsídios à produção de energia;

3. O que está em causa não são os apoios à produção de energia mas sim o “excesso” nos apoios, aquilo que os economistas designam como rendas (a margem que está acima daquela que as empresas obteriam em concorrência).

4. Essas rendas não precisam de ser de novo estimadas porque já foram estimadas com contributos separados da Cambridge Economic Policy Associates (que estimou o custo de capital associado aos CMEC ou seja, aquela que devia ser a remuneração adequada), da A T Kearney (que estimou os custos do capital para a produção em regime especial) e a secretaria de Estado da Energia.

5. O valor estimado é de 299 milhões de euros, 165 milhões dos quais atribuíveis aos CMEC que pertencem apenas à EDP e 113 milhões à Produção em Regime Especial onde está a cogeração e as eólicas. Os restantes 21 milhões são CAE (Contrato de Aquisição de Energia).

A estes factos soma-se o que se pode ler nos documentos do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro que Eduardo Catroga negociou e este Governo tem acompanhado e subscrito:

O diagnóstico da troika ainda na segunda avaliação:
» “Advances are well on track in the labour market, health care, the housing market, judicial reform, and telecommunications. By contrast, reforms in the energy, transport and service sectors are proceeding at a more uneven pace and in a number of cases deadlines in the Memorandum of Understanding (MoU) have been extended.”, de acordo com a avaliação da Comissão Europeia sobre o PAEF português com data de 21 de Dezembro de 2011, relative ainda à segunda avaliação.

Os compromissos assumidos pelo Governo, na sequência segunda avaliação:
(…)To that end, by end-January 2012 (structural benchmark), we will prepare a proposal which specifically corrects excessive rents in special (co-generation and renewables) and standard regimes (CMECs, PPAs, and power guarantee mechanism). This proposal will consider the merits of a full range of concrete measures, and will cover all sources of rents”. Que se pode ler na carta de intenções ainda da segunda avaliação – a que se conhece até agora - assinada pelo governador do Banco de Portugal e pelo Ministro das Finanças (ver página 58 e 59)

E as medidas agendadas:
» 5.15. Measures to set the national electricity system on a sustainable path leading to the elimination of the tariff debt (déficit tarifário) by 2020 and ensuring that it will stabilise by 2013 will be adopted. The latter deadline is subject to a review based on a government proposal which will also specify how excessive rents in the standard (CMECs, PPAs, and power guarantee mechanism) and special regimes (co-generation and renewables) will be corrected. This proposal will consider the merits of a full range of measures which will cover all sources of rents. [January 2012]”, de acordo com os resultados ainda da segunda avaliação no Memorando de Entendimento com as medidas e que é divulgado pelo FMI. (Pág. 108)

Ou seja, o governo português, já com Pedro Passos Coelho, assumiu que existiam rendas no sector da energia, atrasou-se na adopção das medidas já na segunda avaliação e continua obviamente atrasado.
Eduardo Catroga, actual chairman da EDP, sabe bem o que está no Memorando da troika. Liderou a missão do PSD que negociou o programa de ajuda a Portugal.

Os estudos estão feitos - ou o Governo não dá como correcto o estudo promovido pela secretaria de Estado da Energia, como parece ser o caso de Eduardo Catroga?
Tudo isto me leva a recordar o desabafo de um elemento da troika: não se pode dizer que os portugueses sejam preguiçosos, trabalham até bastante, mas nada acontece.

Não acontece quando não se quer que aconteça, acrescentaria eu.

E assim se vai deixando cair a promessa de Toda a Verdade, a promessa de reestruturar a economia, a promessa de distribuição dos sacrifícios, a promessa de tornar a economia mais competitiva.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A Grécia dos credores

Mais uma daquelas maratonas do Eurogrupo com 13 horas de reunião - começou ontem, terminou hoje de madrugada.
O que surge neste momento como relevante no acordo financeiro:
» a Grécia vai obter mais um empréstimo de 130 mil milhões de euros - soma-se aos 110 mil milhões já concedidos;
» os bancos vão "perder" 53,5% do valor da dívida grega em carteira;
» o Eurosistema vai vender os títulos de dívida grega que tem em carteira e distribuir as mais-valias pelos bancos centrais nacionais que reverterão pelo menos parte desse valor para a Grécia.

E o que me parece relevante para pensar na Europa em que estamos:
» a Grécia terá de consagrar no seu quadro legal que os credores têm prioridade sobre o financiamento dos serviços públicos;
» a equipa da troika que está em Bruxelas será reforçada e acompanhará a concretização do plano.

Claro que se mantêm as dúvidas sobre a eficácia deste plano. A curto prazo é certo que a economia grega se vai afundar ainda mais. A longo prazo, dizem os exercícios de projecção que fundamentam o plano financeiro, a dívida pública da Grécia deverá cair dos actuais 160% do PIB para cerca de 120% a dez anos.

O comunicado do Eurogrupo.
As notícias pela BBC e Negócios.

Aos poucos vamos percebendo que aquilo que nos Estados Unidos e no Reino Unido foi feito de uma vez - os bancos sofreram as perdas que tinham de sofrer - na Europa andamos a transferir os erros dos bancos para os cidadãos.
Volto a citar o que um dia destes disse o director da Faculdade de Economia da UNL,Ferreira Machado: Por aqui, na Europa, culpam-se os devedores pela crise, nos Estados Unidos culparam-se os credores.
A dificuldade está em ser racional. Não culpar mas sim resolver o problema.

Capitalismo, crise no euro e Marx

Depois de ter lido isto no FT que a Grécia pode precisar de um terceiro empréstimo, fui parar ao debate sobre a crise no capitalismo.
Can Marx save capitalism? , é muito interessante. Com Robin Blackburn da 'New Left Review' e Jason Barker realizador do documentário 'Marx Reloaded':

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Krugman: Já estamos em grande depressão

Claro que é preciso investigar os mercados, não só este

Regulador suíço investiga 12 bancos por possível manipulação das taxas Libor


Fica a sugestão: investigar as taxas de juro que são divulgadas como de mercado no mercado secundário de títulos de dívida pública.
Talvez os países que estão sob pressão dos mercados financeiros, como Portugal, Irlanda, Espanha, Itália e, claro, Grécia, queiram saber o que se passa com esse mercado, quais são as taxas de juro que correspondem a transacções efectivas.
No mercado accionista só se apresentam cotações quando há transacções - sabendo-se também quais os preços 'bid' e 'offer'. Que tal impor a mesma regra para o mercado de títulos de dívida pública? Claro que é mais difícil, dada a fragmentação desse mercado. Mas é sempre possível um bocadinho mais de transparência do que a existente actualmente.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Hoje (também) é dia de Facebook

Publicado o prospecto da Oferta Pública Inicial (OPI em sigla portuguesa IPO na sigla em inglês) do Facebook vale a pena também  ler os números.

E o que se está a escrever sobre aquela que pode ser a maior OPI de sempre de uma empresa de internet e que, obviamente, vai enriquecer Mark Zuckerberg mas muitos outros, até quem decorou e pintou a empresa e foi pago em acções.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Um vírus chamado crise do euro

Ou como os economistas e políticos da Zona Euro e do FMI não perceberam em que crise a Europa estava envolvida.

A ver no relatório actualizado  do FMI sobre Estabilidade Financeira.

Este gráfico é especialmente interessante por transmitir a imagem da rapidez do contágio. 
Em finais de 2011, como sublinha o FMI mais de dois terços dos títulos de dívida soberana da Zona Euro estava com 'spreads' superiores a 200 pontos base nos CDS (Credit Default Swaps). No primeiro trimestre 2010 apenas 5% da dívida soberana - ou seja, apenas a Grécia - estava no intervalo dos 200 a 400 pontos base.

O problema em que está hoje a Grécia é também (ou especialmente) uma questão sobre a incapacidade de diagnosticar a crise que na altura começou.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O mergulho da economia portuguesa

O Banco de Portugal divulgou hoje os Indicadores de Conjuntura. Os valores do indicador coincidente da actividade económica e do consumo privado - que têm acompanhado muito de perto o que se passa na economia - expõem um mergulho profundo da economia portuguesa. Vamos ver quão fundo será. Para já temos o facto de estarmos perante a mais grave recessão desde o 25 de Abril de 1974 com dados apenas até 2011:
A notícia:
Actividade económica e consumo privado caem para novos mínimos desde 1978

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

1,2,3, teste ...uma boa notícia

Portugal vai emitir dívida a um ano pela primeira vez desde pedido de ajuda externa

As taxas de juro no mercado secundário de dívida pública a longo prazo têm descido e Portugal faz um pequeno ensaio de regresso aos mercados em maturidades mais longas que o muito curto prazo.

Vamos ver, vamos ver. Se funcionam estas tentativas de evitar contágios de decisões que parecem tomadas.




quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ainda a Jerónimo Martins (2)

Vale a pena ler Pedro Lains:
Obrigado sr. Soares dos Santos de que destaco:
"(...)O que Soares dos Santos vai fazer é pagar os impostos onde eles são mais baixos. O IRS aqui, no Marrocos de cima, e o IRC lá, na terra da justiça fiscal. É legal? É. É moralmente correcto? Mais ou menos. Devia este homem com intervenção pública fazê-lo? Não. Há alguma coisa a fazer? Há.(...)"

Ainda a Jerónimo Martins

A operação realizada pela família Soares dos Santos revela uma complexidade que inviabiliza conclusões rápidas e antecipadas.

Vale a pena ler o que escreve hoje o Negócios assim como editorial de Pedro Santos Guerreiro e a análise de Elisabete Miranda no Massa Monetária.

Não se pode ir muito para além de admitir que com a transferência, para a Holanda, da holding familiar que detém a Jerónimo Martins, a receita fiscal do Estado português poderá diminuir aumentando a da Holanda (e o poderá, é mesmo poderá). Mais do que isso depende dos projectos de expansão da JM.

Como já tinha escrito aqui esta é a lógica do regime em que vivemos e da natureza humana que na economia como em tudo reage a incentivos. Um facto que se conhece desde, pelo menos, Adam Smith.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Desigualdade em Portugal, porque o poder quer

O estudo da Comissão Europeia "The distributional effects of austerity measusres: a comparison of six EU countries" é extremamente interessante.

Portugal é o único país inde as medidas de austeridade ainda adoptadas pelo anterior goverbo foram claramente regressivas.

Um estudo primeiro comentado por Pedro Lains, depois por João Rodrigues no Ladrões de Bicicletas e a seguir por Rui Peres Jorge como se pode ler aqui no Massa Monetária e aqui no Jornal de Negócios (só para assinantes e que s epode ler também na edição que hoje esteve nas bancas).

Não me parece que as medidas adoptadas por este Governo tenham alterado essa regressividade. Pelo contrário. Uma avaliação que já fiz por exemplo em Alerta Amarelo, na sequência da greve geral.  Espera-se que este ano algumas medidas possam mudar este estado de coisas. Vamos ver. Manter a mesma orientação política - de fazer pagar mais a quem tem menos - é alimentar a revolta.