segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Segunda-feira negra - 6 de Outubro

"Aconteça o que acontecer as poupanças dos portugueses em qualquer banco em Portugal estão garantidas"
Ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos no Luxemburgo hoje

Não há um aumento do limite de garantia dos depósitos - 25 mil euros - mas sim uma afirmação política de que se salvará qualquer banco em território português que enfrente dificuldades. Como aliás já se antevia e já se tinha dito aqui.Depois de o Reino Unido ter salvo o Northern Rock é politicamente impossível deixar cair um banco.

Hoje foi mais um dia de loucura - pânico absoluto nas bolsas do mundo inteiro, da Ásia, a primeira a entrar na semana, aos Estados Unidos.
A bolsa de Lisboa foi uma das que mais desceu com a EDP e a Galp a liderarem as quedas. Um símbolo dessa irracionalidade: empresas como estas são, quando a racionalidade impera, activos de investimento a longo prazo já que têm proveitos praticamente estáveis - ainda que reguladas não registam perdas de clientes, ninguém deixa de ter luz ou reduz drasticamente o consumo de combustível.

Porquê? E Porquê?
Resposta difícil. Depois da aprovação do Plano Paulson esperava-se alguma acalmia.
No fim-de-semana o que se passou?
Sim, viu-se a Europa desunida, exposta na sua falta de instrumentos para enfrentar uma crise destas.
O encontro do Grupo dos Quatro parece hoje ter sido um erro. França, Alemanha, Reino Unido e Itália não se deveriam ter reunido à margem dos 27 numa altura em que os cidadãos em geral precisam de confiança, de sinais de estabilidade.
Um problema ainda mais grave quando se viu os países da UE a entrarem numa espécie de "guerra dos depósitos" - como dizia o El Pais , num processo iniciado pela Irlanda - mas com dinheiro na mesa - e prosseguido pela Grécia e no fim de semana pela Alemanha.
E ainda a lançar incerteza quando se viu a Holanda a nacionalizar o braço holandês do Fortis numa decisão unilateral quando se estava a prosseguir uma acção conjunta Holanda, Bélgica Luxemburgo.
Somando a isto assistimos no fim-de-semana a Alemanha a não conseguir salvar o Hypo Real State - acabou por chegar a acordo ontem à noite numa corrida contra o tempo da abertura das bolsas asiáticas. E depois de verificar que o buraco era maior do que o inicialmente contabilizado.

Enfim. Quando se pensa que a instabilidade se está acalmar ela regressa com mais violência.

5 comentários:

Anónimo disse...

Quando me dizem que não há aumento dos 25.000 Euros do Fundo de Garantia, mas que se garantem todos os depósitos, sinto tudo menos confiança. O que impede o governo português de transpôr de imediato para a lei as suas boas intenções (como pretende fazer o governo Irlandês)??? Nestas coisas, as meias tintas soam mal.
Convém também lembrar que pela lei que temos, podemos ter que esperar um ano(ver fundo de garantia,)sem juros, para reaver o nosso dinheiro. Seria, por isso, igualmente muito útil, reduzir este prazo máximo possível, de forma significativa.

Helena Garrido disse...

Caro anónimo,~
ao garantir os bancos o Governo está indirectamente a garantir os depósitos sem mudar a lei e respeitando o quadro comunitário - sim sei que coma "guerra de depósitos" pouco valor tem.
De qualquer forma, o único país que até agora vi colocar um valor na garantia de depósitos foi a Irlanda - 400 mil milhões de dólares para garatir a totalidade dos depósitos dos seis maiores bancos assim como algumas dívidas.

Nelson Filipe Patriarca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nelson Filipe Patriarca disse...

Helena

Esta crise revela que o elemento regulação não existiu quando deveria (nos últimos anos) e agora cada um regula-se como pode.

Em vez de uma união a 27 temos uma união a grupos de 3 ou 4, cada um tenta safar os seus bancos como pode e mais uma vez quem for mais forte vai ter mais força.

Esta crise é uma lição para a regulação e para a própria UE, que aparenta ser válida quando tudo está em crescimento ou maturidade.

Anónimo disse...

Basta ler o relatório do FMI sobre a estabilidade financeira global e o muito que se tem escrito a nível internacional para perceber que existe um problema sério de solvência do sistema financeiro e que é inevitável uma recessão económica - mais ou menos severa isso se verá - nos EUA, Reino Unido e muito provavelmente também na Zona Euro. http://jopms.blogspot.com