quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A crise - Começa a ser preocupante

Confesso que começo a construir perspectivas bastante sombrias para a economia. Esta crise financeira está a ser muito difícil de resolver.
Hoje os sinais foram especialmente preocupantes e espero que quinta-feira estas nuvens se desvaneçam:

- seis bancos centrais baixaram as taxas de juro mas as bolsas caíram e, mais grave, as taxas de juro formadas nos empréstimos entre os bancos não deram sinais de queda, pelo contrário, parecem ter alargado a diferença em relação às taxas, no caso, do Banco Central Europeu.
Este sinal tem de ser confirmado hoje, quinta-feira, às dez da manhã quando os bancos, nas suas transacções fixarem a Euribor e a Libor.

- se as taxas de juro de mercado, as Euribor, não descerem, aproximando-se da taxa de referência do BCE - agora em 3,75% - a política monetária revela-se ineficaz para baixar o preço do dinheiro tal como as cedências de recursos (liquidez) pelos bancos centrais, que também não parecem conseguir estabilizar o mercado do crédito. Como se existisse um buraco negro que absorve todo o dinheiro do sistema.

- as taxas de juro dos bancos centrais começam a aproximar-se perigosamente de zero - a dos Estados Unidos está já em 1,5%. A eventual necessidade de novas descidas - como aliás já prevêem alguns analistas quer para os EUA como para a zona euro - tornam esta perspectiva de ineficácia ainda mais assustadora - está demasiado presente o que se passou da "Década Perdida" do Japão. Ou, mais grave, como se pode ler que foi a Grande Depressão e que Nicholas Bloom compara.

Vamos ver hoje como reagem os bancos na definição das taxas de juro interbancárias. Quem faz previsões não está muito animado:
``All the rate cuts in the world are not going to get the capital markets to start to
function,'' said David Brownlee who oversees $15 billion as head of fixed income
at Sentinel Asset Management in Montpelier, Vermont. ``The economic numbers are going to look horrific and injecting more liquidity is not going to help it.''

6 comentários:

CS disse...

Cara Helena,

Das melhores análises que tenho lido. A ineficácia da política monetária não me parece resultar só da liquidez interbancária. Como dizia há quinze dias no JNegócios, para mim, a descida do USD com o bail out e o inundar do mercado de moeda americana, tornará o FED impotente face a surtos inflacionistas. Mas eles quiseram mesmo aprovar o Bail out...

Anónimo disse...

Não percebo por que motivo há-de a Euribor descer, para valores inferiores à inflação.

A Helena e os outros economistas estão tão habituados à maluqueira que os últimos anos foram, que já nem páram para pensar neste facto tivial - que as taxas de juro devem ser sempre superiores à taxa de inflação.

A Helena diz que as taxas de juro dos Bancos Centria se aproximam perigosamente de zero. Ora, diria eu, elas já são zero! Pois se já são inferiores à inflação!

É ridículo emprestar dinheiro a uma taxa inferior à inflação. Isso quer dizer que é preferível consumir imediatamente a poupar seja o que fôr. Uma sociedade regida por tal norma está perdida, pois que só pode sobreviver à custa de outras sociedades que poupem.

Luís Lavoura

MC disse...

Helena
Como poderiam as taxas Euribor reagir se a notícia das baixas de taxas reguladores aconteceu após o fecho do mercado?
Porque irão reagir fortemente se os problemas se situam fundamentalmente no mercado interbancário e aí a desconfiança impera?
Quanto à bolsa, não conta enquanto indicador. Só se for como indicador de estados de espírito.
Vamos com calma.

Nelson Filipe Patriarca disse...

Helena o seu texto é muito esclarecedor, mas tendo em conta notícias como estas:

http://tsf.sapo.pt/PaginaInicial/Economia/Interior.aspx?content_id=1024944

Gostava de lhe perguntar uma coisa:

- esta injecção de liquidez vem de onde? Há emissão de papel moeda? Há aumento da dívida? Como é que funciona isto ?

É que às tantas somos invadidos com estas notícias, mas creio que nenhum jornal terá explicado bem de onde vem isto, como é que se injecta dinheiro? o BCE tem "dinheiro infinito" ?

Helena Garrido disse...

Caro Nelson,
Os bancos centrais são os emissores de moeda, realmente têm dinheiro infinito. No caso das ditas injecções/cedências de liuidez em geral fazem-nas por troca de títulos que os bancos/instituições financeiras têm nos seus balanços; na prática emprestam dinheiro com um colateral. O que os bancos centrais têm feito ultimamente é disponibilizar mais recursos que o habitual e aceitam também títulos como colateral menos exigentes, com mais risco.
A Reserva Federal foi até agora o banco central que foi mais longe ao criar um fundo através do qaul empresta directamente às empresas: via desconto de papel comercial, ou seja, compra papel comercial das empresas.
Pormenores sobre as operações do BCE podem ser lidos em www.ecb.int

Helena Garrido disse...

Caro anónimo,
Sobre a descida da euribor:
Diria que em tempos normais as taxas de juro devem ser superiores à taxa de inflação - nomeadamente à prevista - para garantirem uma remuneração real positiva.
Diria que também racionalmente neste momento se os mercados fossem absolutamente livres - e não geridos pelos bancos centrais - a taxa de juro, enquanto preço do dinheiro, deveria etsra muito mais alta: houve uma grande destruição de moeda - para queme stá familiarizado, a oferta de moeda deslocou-se para a esquerda.
MAS este é um mercado gerido, os bancos centrais estão a deslocar a oferta de moeda para a direita - oferendo mais - e por isso o preço deveria baixar.