sábado, 11 de outubro de 2008

As (inevitáveis) nacionalizações na banca

Quando as armas tradicionais de mercado não funcionam entra em acção a artilharia pesada: a nacionalização.
Mais de um mês depois da violenta réplica da crise financeira iniciada há quase 15 meses, as autoridades da Europa e dos Estados Unidos deixam cair a ilusão de conseguirem resolver o problema "cada um por si" e desistem das convicções.
  • Preparam-se para um plano global e em cooperação. George W. Bush e Angela Merkel enganaram-se na capacidade de lidar com o problema ao nível nacional.
  • Preparam-se para entrar nos capitais dos bancos, ou seja, para nacionalizarem a banca, adoptando o modelo do Reino Unido como se pode ler aqui e aqui na declaração do Grupo dos Sete. A nacionalização foi pela primeira vez colocada como solução para o problema por Willem Buiter e depois acabou por ser subscrita pela esmagadora maioria dos economistas, incluindo Martin Wolf. Paul Krugman também. E os 750 mil milhões de dólares do Plano Paulson podem servir exactamente para isso, para nacionalizar.

A intervenção directa, via nacionalizações ou mesmo via administração das taxas de juro, face à dimensão da catástrofe parece-me ser a única solução. Um modelo seguido pela Suécia nos anos 90.

Devemos estar satisfeitos? Claro que não. Vai sair-nos do bolso - dos contribuintes. Mas é a melhor de todas as soluções, embora não seja igualmente negativa:

  1. Deixar cair os bancos era, 'by the book', a melhor solução: quem correu riscos excessivos e não soube gerir o seu negócio perdia o dinheiro; desincentiva aventuras futuras. MAS o efeito do ajustamento teria um custo tal que poderia matar o doente - a população em geral - com a cura.
  2. Compra activos tóxicos, como prevê (ou previa) o Plano Paulson é de longe a pior das soluções: premiavas com o dinheiro dos contribuintes, quem tinha feito mais asneiras e incentivava a novas e mais asneiras no futuro abrindo portas para uma próxima crise pior ainda que esta.
  3. Nacionalizar ou mesmo confiscar é um "castigo" tão violento para os accionistas como a falência. Há um racional para o dinheiro dos contribuintes: estão a pagar para não perderem as suas poupanças - e não para salvar quem fez asneira -, estão a pagar para minorar os efeitos económicos da crise financeira, enfim, estão a pagar para que as perdas de emprego sejam as mais baixas possíveis.

Mas a seguir deve proceder-se a privatizações sem premiar os que se revelaram incapazes de serem accionistas dos bancos.

As notícias da semana foram péssimas: Wall Street teve a pior semana desde 1933; a bolsa portuguesa regista a pior semana de sempre tal como as bolsas mundiais e com bolsas suspensas em alguns países.

Vamos ver se as autoridades conseguem trazer a calma neste fim de semana: Grupo dos 15 do euro reunidos domingo em Paris; Bush apela a uma resposta séria à escala global e Angela Merkel parece ter mudado de ideias e está com Nicolas Sarkozy na defesa de um plano europeu à inglesa e não à americana.

E ainda a instabilidade entre vizinhos ou a guerra dos depósitos entre o Reino Unido e a Islândia.

7 comentários:

Anónimo disse...

As nacionalizações não me assustam nem um bocadinho.
O que me começa a preocupar é a ideia de que vários estados podem chegar à bancarrota, se tudo isto continuar em queda livre.
Serão as nacinalizações suficientes para travar esta hemorragia?
Li no "telegraph",que estados como o da Ucránia, Argentina e outros, podiam estar perto de atingir situações limite.
Será que o estado suísso consegue aguentar a continuação do descalabro no UBS?
Consegue o estado suísso sobreviver à falência desse banco?
A ideia da possibilidade de uma bancarrota num dos paises que têm a moeda única, é assim tão disparatada?

Anónimo disse...

Cara Helena Garrido,
Concordo basicamente com o que escreveu, mas adianto umas sugestões:
Em primeiro lugar, seria bom que se distinguisse bem entre a naionalização administrativa, feita por lei como em Portugal-1975, que é tendencialmente definitiva e se destina a tirar das mãos privadas os principais meios de produção, e a aquisição (ou subscrição) das acções dos bancos feita em contrapartida das injecções de capital feitas para os (re)financiar.
Em segundo lugar, a reprivatzação não deverá ser feita "à portuguesa", mas através da venda de acções no mercado, p. ex., através da CGD (ou outra instituição), paulatinamente sem pressas nem perdas de valor, de modo a recuperar para os contribuintes os dinheiros investidos, se possível com lucro.
Em terceiro lugar, haja moralidade, é preciso responsabilizar (accountability) os gestores, os auditores, os notadores de risco, e também - last but not least - as entidades de supervisão e os seus responsáveis. Nada do que sucedeu foi feito com cumprimento dos deveres de cuidado e de lealdade - duties of care and of loyalty.
Finalmente, os "fat cats" devem ser obrigados a restituir os "bonuses", os "golden parachutes", as "stock options" e, em geral, as fortunas que ganharam nos últimos (say...) cinco anos com da deplorável - to say the least - gestão com que conduziram as suas instituições a este estado.
É um mínimo de senso comum que se pense nisto com atenção.

CCz disse...

"para que as perdas de emprego sejam as mais baixas possíveis"
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Por que é que as empresas empregam pessoas?
Porque estas, ao serviço das empresas, criam valor para os clientes.
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O consumo tem de diminuir, não pode sustentar-se indefinidamente no crédito fácil e barato sem poupança prévia. Assim, as empresas vão assistir à diminuição das encomendas, ao aumento dos inventários e por fim podem mesmo fechar ou emagrecer.
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Sem clientes é impossível sustentar o emprego. Empresas que viviam à custa da bolha do imobiliário vão ter de fechar, para que recursos financeiros, talentos humanos, atenções, moticações e energias possam ser canalizadas para outras áreas de actividade.

CCz disse...

Vamos admitir de barato que o estado quer continuar a injectar capital para promover a evonomia.
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Será que a construção e obras públicas continua hoje a ser o melhor destino para esse dinheiro?
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Não fará mais sentido apoiar, nos tempos que correm, actividades associadas a investigação e desenvolvimento aplicado?

Anónimo disse...

Só que, a nacionalização da banca não obstará a problemas inter-estatais.

Repare a Helena: a banca portuguesa vive à custa de a banca estrangeira lhe emprestar dinheiro!

Suponha agora a Helena que os bancos alemães são nacionalizados pelo governo alemão e decidem, a instâncias desse governo, deixar de emprestar dinheiro aos bancos portugueses!

Ou então suponha a Helena que a banca portuguesa, nacionalizada pelo governo português, recebe desse governo a ordem de só cobrar aos seus clientes juros de 3%, enquanto que a banca alemã, nacionalizada pelo governo alemão, recebe ordens desse governo para só emprstar à banca portuguesa à taxa de 5% ao ano!

Está a ver a barraca que isto vai dar...

A nacionalização até é uma boa ideia se fôr feita dentro de unidades nacionais estanques e auto-suficientes... mas quando temos países a viver à custa de outros, como acontece com Portugal...

Luís Lavoura

Anónimo disse...

O grau de imprevisibilidade política, económica e social que se adivinha é tão elevado,que falar da fase da "reprivatização", até me dá vontade de rir.
Infelizmente, o que está em causa vai muito além desse insignificante pormenor.

CCz disse...

" We are now in a paradoxical situation where the overspending is the emergency that triggers overspending as we try to overspend our way out of our overspending! This sounds insane and it IS insane. Utterly and totally mad. Yet virtually no one wants to stop this madness. The simple ideas of the past are ignored. We are not in a lending emergency, we are in a DEBT emergency. Which requires the exact opposite approach, the opposite medicine of a lending emergency."
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http://elainemeinelsupkis.typepad.com/money_matters/2008/10/elaine-meinel-8.html