quinta-feira, 17 de julho de 2008

Receitas (im)possíveis para o défice externo

Ainda a propósito do défice externo escreve João Pinto e Castro:

Acontece, porém, que o endividamento razoável das famílias pode conduzir a um endividamento irrazoável do país.

E defende que só o desemprego pode corrigir a situação. Não me parece que seja só essa a via de ajustamento. Aqui ficam outras:

1. Compra de activos por parte do exterior - empresas e imóveis passam a
ser detidas por estrangeiros. Sim, é verdade que se assistirá a um défice na
balança de rendimentos por via da transferência de lucros/dividendos para o
exterior. Mas, se essas aquisições aumentarem a produtividade das empresas e se
aumentarem as exportações o défice de mercadorias pode diminuir (Sim, há muitos
se's, pode haver desemprego mas não tanto quanto numa situação de recessão por
restrição de crédito)

2. Investimento Directo Estrangeiro em projectos de produção de
transaccionáveis/ produtos que se exportem. Mesmo efeito do caso anterior, com
a vantagem de serem novos projectos e que geram emprego e não desemprego.Compreende-se o esforço que governos sucessivos têm feito para atrais projectos de produtos "exportáveis". Com dimensão apenas se conseguiu até hoje a Autoeuropa. O Ikea é o mais recente mas sem peso.

3. Aumento da poupança interna - hipótese apenas parcialmente viável face ao peso que já pode ter o serviço da dívida.


É mais fácil ocorrer o primeiro caso - tem estado a acontecer - que o segundo. O investimento de estrangeiros em Portugal tem sido limitado. Mas qualquer um deles seria a via mais rápida de aumentar a produtividade, o único caminho de reduzir estruturalmente o défice externo, já que a qualificação leva tempo e tem resultados incertos.

O caso do desemprego pode ocorrer por restrição de crédito via quantidade ou preço e/ou pela incapacidade de fazer face ao serviço da dívida por parte das empresas.

A recessão em si não resolve o problema estrutural. Já tivémos várias que apenas reduziram o défice temporariamente. Em 2003, por exemplo, houve aumento de poupança, para logo a seguir começar a cair.

1 comentário:

João Pinto e Castro disse...

Eu não defendo que só desemprego pode resolver a situação. Apenas constato que o investimento directo estrangeiro tem sido insuficiente nos últimos anos para tapar o buraco e não vejo como poderá fazê-lo na actual conjuntura internacional. Nestas circunstâncias, diminui a procura dirigida a bens produzidos internamente e a consequência é o desemprego.

Do lado positivo, convém recordar que o défice externo estava a melhorar lenta mas seguramente, e que foi a alta dos preços das matérias primas que, determinando a deterioração dos termos de troca, criou a presente situação.

A coisa pode não ser muito grave se o preço do petróleo estabilizar ao nível actual.