quarta-feira, 16 de julho de 2008

Défice externo é importante?


O défice externo está a atingir uma dimensão que nos faz recuar ao segundo e último plano de estabilização do FMI em 1983.
Em 1982 o défice externo atingiu os 11,8% do PIB. Uma consequência de uma política expansionista no segundo choque petrolífero em 1979. Sem divisas, o país teve de recorrer de novo ao FMI, provocando-se uma recessão que levou ao reequilíbrio externo.
O PSD tem feito do défice externo o centro da sua preocupação. António Borges, agora vice-presidente do PSD, disse estar assustado com o endividamento externo. Uma das reacções às previsões de Verão do Banco de Portugal.
Mas será que o défice externo é um problema?
Sim, caso continuemos interessados em ter a propriedade de activos situados em Portugal.
Poucos se importam com o défice externo do Alentejo ou de Trás-os-Montes. Mas a quem pertencem boa parte dos activos que lá estão? E qual o nível de vida dos seus habitantes? Por exemplo, Trás-os-Montes vai ter uma auto-estrada sem portagem paga pelos contribuintes de todo o pais, ou seja, sobretudo Lisboa e Porto. Queremos nós depender da boa vontade de, digamos, alemães?
O actual Presidente da República Cavaco Silva considera que o défice externo é uma preocupação. Disse-o quando ainda não assumia o cargo.

2 comentários:

Pedro Braz Teixeira disse...

O défice externo é simultaneamente um sintoma e uma causa de problemas. O elevadíssimo e, mais do que elevado, persistente défice externo é sintoma de um gravíssimo problema de falta de competitividade. E este problema tem consequências não só a nível do desequilíbrio externo (como é que alguém pode achar que um desequilíbrio desta magnitude não interessa nada?), mas ao nível do próprio potencial de crescimento da economia. Considero que a falta de competitividade é a principal explicação para o buraco de divergência estrutural em que estamos enfiados.

Mas, para além de sintoma, o défice externo também é um problema com consequências ainda insuspeitas. Mais do que o défice externo, o problema está na trajectória da dívida externa, “somatório” dos sucessivos défices externos anuais, que neste momento é explosiva. E o cenário futuro não poderia ser mais sombrio, se o problema não for reconhecido e enfrentado. Neste momento, a falta de competitividade não atrai investimento no sector transaccionável. O endividamento externo crescente vai aumentando os spreads bancários, criando dificuldades crescentes á atracção do bom investimento. Ou seja, neste momento parece que estamos numa espiral de agravamento da “taxa de deterioração” do problema. Repare-se que, mesmo que o défice externo estivesse a diminuir, a dívida pública continuaria a aumentar. Por maioria de razão…

CCz disse...

Um blogue não é propriamente uma mercearia onde se pedem temas.
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Contudo, peço-lhe que quando tiver oportunidade desenvolva mais a tese que hoje apresenta no Jornal de Negócios "apenas se deve redistribuir."
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Pergunto-lhe isto porque tenho dúvida se não haverá nada a fazer para facilitar a vida às PME's (não falo de subsídios, nem de fiscalidade), não tenho receitas.