Questão colocada no Negócios. No momento em que escrevo tinham votado 201 pessoas - a esmagadora maioria defende o proteccionismo.
É um erro. A economia e a história ensinam que é um erro.
Mas quando leio argumentos tão fortes como os de João Rodrigues e Paul Krugman. Não deixo de ter dúvidas.
Enfrentamos o habitual conflito entre o curto prazo e longo prazo?
É verdade que uma política orçamental expansionista nos Estados Unidos - consumidores e devedores - corresponde a fazer pagar impostos aos americanos pelo crescimento dos outros - uma parte do estímulo vai para o resto do mundo. Mas esse resto do mundo consome depois produtos americanos.
Um modelo estático - que olhe apenas para os efeitos de primeira ordem - não me parece que apanhe o impacto global de uma política orçamental. Ganham os outros mas ganham também os americanos.
No caso português, o proteccionismo ainda faz menos sentido. Como economia fechada seríamos indiscutivelmente mais pobres.
O Presidente da República falou sobre isso hoje (ontem).:
E o que escreveu há dias sobre Willem Buiter sobre "Buy American" e "British jobs for British workers"... o caminho para a depressão.
4 comentários:
A interpretação das respostas parece-me excessiva/abusiva. A pergunta não implica obrigatoriamente proteccionismo e remete mais para uma "obrigação moral". São coisas muito diferentes e com efeitos económicos também muito diferentes. Simpatizo com a opção de compra preferencial por produtos portugueses desde que possa escolher outros se me apetecer ou se vir que há vantagens significativas de preço/qualidade nos produtos estrangeiros correspondentes.
Não faz sentido criticar ou louvar genericamente o proteccionismo. Há casos em que faz sentido e outros em que não faz. Temos que enterrar as doutrinas pronto-a-vestir.
Acho que o Movimento 560 e a campanha da AEP ("compro o que é nosso") não devem ser interpretados à luz da dicotomia rígida liberalismo/proteccionismo. Interpreto a mensagem dos portugueses comprarem português como um convite para eles serem rigorosos com os produtos estrangeiros que estão disponíveis nas prateleiras dos supermercados.
"Comprar português" quando os produtos nacionais estão em ligeira desvantagem face aos produtos estrangeiros corresponde, nalguns casos, a uma socialização do "subsídio à indústria nascente". Não vejo que isso possa comprometer o crescimento futuro da economia portuguesa - antes pelo contrário. Até porque a concorrência internacional não vai desaparecer.
O proteccionismo pode não fazer muito sentido. Mas menos sentido faz ser anti-proteccionista quando todos os outros o são, de forma mais ou menos visível e, muito bem, procuram defender o seu sector produtivo. Num país onde não se produz metade do que se come constrange observar muita gente iluminada com aquela atitude saloia de «compro estrangeiro porque é melhor e mais barato» típica de terceiro mundo. Não acredito neste género de milagres, nem acho que os portugueses sejam menos inteligentes ou menos empreededores do que os outros. O que há é alguns que são capazes de defender melhor os seus interessesdo do que outros. É fácil compreender isto comparando a evolução da nossa agricultura e pecuária e das nossas pescas com as de Espanha ou França nos últimos anos.
Podem chover biliões de Bruxelas, podemos ser todos doutores e engenheiros, podem retraçar Portugal com aeroportos e TGVs ou transformar o país numa colónia para a terceira idade do Norte da Europa. Nada disso será suficiente. A Economia portuguesa só tem uma solução e essa está na mão das donas de casa ou de quem faz as compras no supermercado. Onde essa mão pousar ou o que ela exigir ditará o nosso futuro.
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