domingo, 1 de fevereiro de 2009

Jornalista Google

Nos últimos dias andei a fazer um levantamento dos despedimentos anunciados em Portugal em buscas pela blogosfera - sim, fazendo de jornalista Google.

Deparei-me com um conjunto de textos todos iguais mas em sítios diferentes sem que conseguisse encontrar:
  1. As fontes originais do levantamento
  2. O texto original

Nem todos os textos eram de meios de comunicação social.

A cópia está generalizada como actividade jornalística?

As agências noticiosas eram, até há uns anos, a única fonte não primária - isto é, a única fonte já intermediada - que usávamos, sem necessidade de confirmação. Hoje parece não ser assim. Qualquer informação googlada ou ouvida, vista ou lida noutro meio é usada como absolutamente fidedigna.

E assim podemos estar a transformar uma informação menos rigorosa ou mesmo errada em "informação".

Um outro exemplo:

O mesmo verifiquei no caso do processo contra o BPP que marcou a última semana. As fontes do Negócios - que tinham de facto informação - garantiam que o processo do Ministério Público estava numa fase muito preliminar não sendo possível ainda configurar o crime. Foi exactamente isso que o Negócios transmitiu aos seus leitores.

Mas vi, li e ouvi vários órgãos de comunicação social afirmarem quais eram os crimes.

Poderia ter concluído duas coisas:

  1. Têm melhores fontes que nós - hipótese provável, já que os jornais de economia raramente têm - excepção feita ao tempo presente - casos de polícia
  2. Confiar nas nossas fontes e ignorar o que os nossos colegas dizem.

Optámos pela segunda hipótese. E assim fomos um dos únicos a não dizer os crimes em causa. (Obviamente que poderíamos sempre dizer os crimes prováveis com base nos Códigos).

Foi uma boa decisão? Do ponto de vista do rigor da informação, sem dúvida que sim. Do ponto de vista do que exigem os consumidores de informação, não sei. Ou, mais directamente, se um caso como este se repetisse várias vezes, como não existe o factor de validação no mercado, quem dá menos passos em frente pode ser o mais prejudicado.

Usando linguagem económica, há falhas de mercado no mercado da informação. Falhas que premeiam a quantidade de informação e podem castigar o rigor e a qualidade - até pelo tempo que esses atributos por vezes levam a ser obtidos. E que, como consequência, podem retirar do mercado quem oferece informação rigorosa e de qualidade.

3 comentários:

Diogo disse...

Bush lamenta-se no Daily Show: "Porquê eu? Que fardo! Porque é que o colapso financeiro teve de acontecer comigo?"


George Bush: Pensei muito no Katrina. Será que eu poderia ter agido de forma diferente?

Jon Stewart: Que tal ter mostrado alguma preocupação? Ter voltado de férias e não ter dito ao director do FEMA que estava a sair-se bem? Ou até não ter esse tipo como responsável do FEMA? Ter havido coordenação nas operações de salvamento em vez de fingir que ninguém sabia que os diques podiam ceder? Essas coisas.

George Bush: Será que eu poderia ter agido de forma diferente? Como aterrar o Air Force One (avião presidencial) em Nova Orleães? O problema aí é que as autoridades seriam afastadas da missão e suspeito que as vossas perguntas seriam: "Como foi capaz de levar o Air Force One para Nova Orleães, afastando os polícias necessários para controlar Nova Orleães da sua missão, para o proteger? "

Jon Stewart: Não faz ideia do porquê da revolta das pessoas à volta do Katrina, pois não? Achou que foi por causa do avião? É como o tipo cuja mulher chega a casa e o apanha a papar a irmã dela, e acha que ela está zangada porque ele não lhe disse que ia chegar mais cedo.

George Bush: Porquê eu? Que fardo! Porque é que o colapso financeiro teve de acontecer comigo? Termos pena de nós próprios é uma coisa patética.

VÍDEO legendado em português.

Anónimo disse...

Quando quero alguma informação credivel leio: o "Telegraph", o "Der Spiegel", o "Finantial Times".

Quando quero um jornalismo mais consistente do que o nosso, mas igualmente muito manupulado, leio o"EL País", o "El Mundo",o"Le Figaro",ou o "Le Monde".
Os espanhois também têm vários jornais económicos "bem controlados", que falavam em maravilhas numa altura em que já se adivinhavam desgraças.
Curiosamente, foi no "Le Monde Diplomatique", numa altura em que nem os mais alucinados falavam do que quer que fosse, que lí um artigo muito consistente e premonitório sobre o carácter "Ponzi" do capitalismo actual.
Quanto aos jornais portugueses, a coisa é de fugir.
Mesmo o "Público" e o "Expresso", são autenticas tretas para deficientes.
Não é para lhe agradar, mas o "Jornal de Negócios", por vezes consegue brilhar um pouco,
mas a seguir a uns artigos mais pujantes, vêm sempre umas tretas, para cortar o vigor( não vá o nosso 1º pôr alguém no quarto escuro).
Resumindo:
há muita informação, imensa desinformação e pouca informação rigorosa e credível.

Anónimo disse...

O futuro passará, certamente, pelo negócio da validação da informação. E talvez, depois da euforia da Internet, se volte a descobrir que a informação tem valor que, ao contrário do que indiciam as migrações do papel para a rede, não é de borla.