segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

A recessão e o jornalismo




Dia 14 de Novembro de 2008 a primeira página do Negócios:

"Portugal vai terminar 2008 em recessão"

o segundo título mais importante do Negócios no dia em que o INE publicou a estimativa rápida da evolução do PIB no terceiro trimestre. O trabalho estava fundamentado com as previsões da Comissão Europeia e alguns economistas da banca.

Estava o jornal na bancas com este título quando saíram os números do INE. Parecia que o Negócios se tinha enganado. O Instituto dizia que a economia tinha estagnado.

O primeiro-ministro manifestou nesse dia, em publico, o seu desagrado com o título de primeira página do Negócios.
Ainda que o texto estivesse inatacável - citava fontes credíveis como a Comissão Europeia.

Aos jornalistas disse: "A nossa economia resiste e continuará a resistir", afirmou José Sócrates, à margem de uma conferência promovida pela Caixa Geral de Depósitos.

Dia 9 de Dezembro o INE publica os dados finais do PIB do terceiro trimestre e afinal a economia tinha caído ligeiramente face ao trimestre anterior (menos 0,1%).

E dia 13 de Fevereiro o INE revela que o PIB caiu 2% no quarto trimestre face ao trimestre anterior.

De acordo com a definição simplista de recessão Portugal terminou o ano em recessão, como antecipou o Negócios usando apenas as regras jornalísticas - citando fontes como a Comissão Europeia. Fizémos o nosso trabalho e é pena que mesmo quando é feito com toda a seriedade o poder - qualquer poder - seja tão irascível.

Os governos têm o direito e até o dever de gerir as expectativas. Os economistas têm o dever de analisar tecnicamente a conjuntura. Os jornalistas têm o dever de informar como uns e outros lêem a realidade.

O que os governos não têm o direito é de querer que também os jornalistas façam gestão de expectativas. Se o fizessem não estavam a cumprir o seu dever de informar/ relatar o que se passa de forma tão rigorosa como lhes seja possível.

Ninguém está feliz com o estado de recessão agravada pela queda da inflação em que o país vive. Bem pelo contrário. Quem me dera que estivéssemos errados.

Declaração de interesses: Sou jornalista e assumo neste momento funções como directora-adjunta do Negócios.

10 comentários:

Yuppie Boy disse...

O governo de Sócrates vive de aparências e de uma máquina de marketing incansável. É normal que se irritem quando alguem chapa em números a sua incompetência...

Anónimo disse...

"...Cavaco Silva tem de perceber que, por este andar, vai acabar salpicado pelas trapalhadas de Dias Loureiro (que até pode ser acusado de perjúrio).

Sendo assim, por que o mantém no cargo? Porque Loureiro esteve do seu lado, no PSD, e porque foi, alegadamente, uma das pessoas-chave nos financiamentos da campanha presidencial (como se diz nos bastidores)?..."

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS_OPINION&id=354574

Anónimo disse...

"Santander suspende dos años los reembolsos en un fondo de Banif.

La gestora asegura a la CNMV que "carece actualmente de la liquidez necesaria" tras recibir solicitudes de sus clientes por 2.617 millones."

http://www.elpais.com/articulo/economia/Santander/suspende/anos/reembolsos/fondo/Banif/elpepueco/20090216elpepueco_10/Tes

Anónimo disse...

Cara Helena,
não me parece justo vir apontar dados que foram publicados 1 mês e 4 meses depois, para mostrar que "tinha razão".

O que não me faz de modo nenhum discordar de todo o resto que escreve. Se o título estava bem fundamentado, o PM nunca o deveria ter criticado, nem sequer esperado que ele não aparecesse.

Cumps

Anónimo disse...

#One analyst said the spectacle of central banks slashing rates to zero across the world and buying government debt as if there was no tomorrow feels like the "beginning of the 'Zimbabwe-isation' of the global economy".#

http://www.telegraph.co.uk/finance/4682554/Gold-hits-record-against-euro-on-fear-of-Zimbabwean-style-response-to-bank-crisis.html

Anónimo disse...

(POR CLARA FERREIRA ALVES)

Não admira que num país assim emerjam cavalgaduras, que chegam ao topo, dizendo ter formação, que nunca adquiriram, que usem dinheiros públicos (fortunas escandalosas) para se promoverem pessoalmente face a um público acrítico, burro e embrutecido.

Este é um país em que a Câmara Municipal de Lisboa, desde o 25 de Abril distribui casas de RENDA ECONÓMICA - mas não de construção económica - aos seus altos funcionários e jornalistas, em que estes últimos, em atitude de gratidão, passaram a esconder as verdadeiras notícias e passaram a "prostituir-se" na sua dignidade profissional, a troco de participar nos roubos de dinheiros públicos, destinados a gente carenciada, mas mais honesta que estes bandalhos.

Em dado momento a actividade do jornalismo constituiu-se como O VERDADEIRO PODER. Só pela sua acção se sabia a verdade sobre os podres forjados pelos políticos e pelo poder judicial. Agora contínua a ser o VERDADEIRO PODER mas senta-se à mesa dos corruptos e com eles partilha os despojos, rapando os ossos ao esqueleto deste povo burro e embrutecido. Para garantir que vai continuar burro o grande cavallia (que em português significa cavalgadura) desferiu o golpe de morte ao ensino público e coroou a acção com a criação das Novas Oportunidades.

Gente assim mal formada vai aceitar tudo e o país será o pátio de recreio dos mafiosos.

A justiça portuguesa não é apenas cega. É surda, muda, coxa e marreca.


Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso, apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção. Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros. Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso. Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia, que se sabe que, nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas Consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou, nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços de enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal, e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogs, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga Parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém quem acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muitos alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos?

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém?

As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não têm substância.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu? E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente "importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria, suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento.

Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças , de protecções e lavagens , de corporações e famílias , de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade.


Este é o maior fracasso da democracia portuguesa

Clara Ferreira Alves - "Expresso"

Anónimo disse...

"...the collapse is the worst in recorded Ukrainian history, exceeding the darkest days after the Bolshevik revolution..."

http://www.telegraph.co.uk/finance/4691108/EU-mulls-action-as-Ukraine-crumble-triggers-contagion-fears-for-Europe.html

Anónimo disse...

Lembro-me de em setembro deste ano uma big four presente no mercado anunciar a contratação de "130 novos colaboradores numa altura de crise" ... na passada semana foram dispensados 41 colaboradores dessa grande empresa, curioso é que tal facto não transpareceu. "a recessão e o jornalismo", trabalho com a referida empresa, e eu prórpio já estive na mesma ... cada vez mais um activo estratégico (colaborador) é considerado simplesmente como um número.

Anónimo disse...

Dias Loureiro..........


Sem comentários.

Anónimo disse...

Eu aplico o termo "mediocridade recessiva". É através deste ponto de vista que retrato o tipo de governação e algumas personalidades de alguns agentes da oposição.

Um bem haja,

Marco Rodrigues