terça-feira, 26 de abril de 2011

Teixeira dos Santos e José Sócrates

Sobre a manchete deste sábado do Expresso "Sócrates e Teixeira dos Santos em rutura total" vale a pena revisitar o minuto a minuto do dia em que foi anunciado o pedido de ajuda.

O ministro das Finanças, consciente do risco que Portugal estava a correr e depois de ter tentado por todos os meios convencer o primeiro-ministro, precipitou o pedido de ajuda externa.

Depois de o ministro das Finanças ter dito, em resposta à questão sobre o pedido de ajuda externa: "(...)entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à atual situação política", õu demitia o ministro - provocando um terramoto brutal - ou pedia ajuda como o fez.

O ministro das Finanças fez o que tinha de fazer face aos riscos a que Portugal estava a ser exposto pela não decisão do primeiro-ministro. E o país deve estar-lhe agradecido por isso.

O PS, pelo menos uma parte, já se percebeu que não está agradecido. Nem agradecido pelo que Teixeira dos Santos fez nesse dia 6 de Abril, nem pelo que tentou fazer há quase mais de um ano para evitar que Portugal acabasse a pedir assistência financeira.

O que alguns socialistas têm dito sobre a ausência de Teixeira dos Santos das listas de deputados do PS é, no mínimo lamentável. As excepções são Ana Gomes e Edite Estrela.

As democracias não vivem sem partidos. Por isso mesmo os patidos, naquilo em que se transformaram, constituem hoje o maior risco para as democracias - nao apenas em Portugal, claro.

Em linguagem de economistas, a sua função objectivo - conquistar e manter o poder - parece ter ficado sem restrições activas - como por exemplo conquistar o poder desde que não se prejudique os cidadãos do país.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O euro em sucessivos erros

A crise da dívida na zona euro agrava-se. Depois do "ajuda/não ajuda", entrámos agora na fase do reestrutura/não reestrutura.

A reestruturação é agora o debate da moda entre os líderes europeus - começou no fim da semana passada com o mote dado pelo ministro alemão das Finanças.

Na família do euro todos ralham uns com os outros, em publico e sonoramente, sem consciência de que podem estar a abrir a caixa de Pandora que levará ao fim de um projecto que nasceu com grande esforço em Roma, nos idos de 1958.

Os juros da dívida grega a dois anos ultrapassaram hoje os 22%. Os títulos portugueses para o mesmo prazo estão com taxas superiores a 11%. O comportamento de hoje no mercado aqui sintetizado.

É nas maturidades curtas que agora se registam as fugas aos títulos de dívida pública dos ditos países periféricos - reestruturação ou perda efectiva por entrada em vigor do novo mecanismo europeu de ajuda explica esse comportamento.

Aquilo a que se assistiu nos últimos dias revela bem como a família do euro anda pouco amiga.
Apenas um exemplo:
Líderes dos Verdadeiros Finlandeses querem que banca espanhola tamb+em participe na ajuda a Portugal por estar exposta... a Portugal
Se essa regra se aplicasse, também outros países seriam arrastados - como a França e a Alemanha.
Isto não está nada bonito.

domingo, 10 de abril de 2011

A Europa zangada com Portugal, e com toda a razão

O que disseram alguns dos ministros das Finanças europeus em Godollo, na Hungria, mostra bem como devíamos ter vergonha.

Finlândia
O ministro finlandês das Finanças afirma que Portugal só deve ser ajudado se apresentar e cumprir um plano de austeridade mais apertado que o PEC IV.

A Finlândia está a dias de eleições, a extrema direita ganha terreno e a maioria dos finlandeses (60%) é contra  plano de ajuda aos países endividados do euro desenhado pela UE.  A ajuda a Portugal tem de ser aprovada no Parlamento finlandês, condição que Helsinquia colocou para participar no Fundo Europeu de Estabilização Financeira (cada caso é um caso e terá de ser aprovado pelos parlamentares).

Suécia
O ministro das Finanças sueco Anders Borg  afirma que Portugal merece duras criticas. "Os portugueses colocaram-se a si e à Europa numa situação muito difícil", diz, citado pela Reuters. E considera que Portugal já devia ter pedido em finais do ano passado.

No Público podemos ainda ler que Borg afirma que o Governo tem uma grande responsabilidade no que se passou e que lhe foi pedido para enfrentarem a situação em finais do ano passado. Critica ainda o processo de ajuda: chegou na quinta à noite "para tomarmos uma decisão na sexta".

(E, digo eu, mesmo assim, o pedido chegar quinta à noite para uma ajuda que tem de chegar em Junho exigiu um esforço que o ministro sueco não imagina)

O montante em causa, diz ainda Borg, é demasiadó elevado para se para um Estado-membro pedir aos outros que tome uma decisão num período de tempo tão curto.

As estimativas do ministro sueco é de que Portugal precisa de 15 a 20 mil milhões de euros nos próximos meses. No Negócios escrevemos, com base em fontes conhecedoras da situação financeira portuguesa, que Portugal precisa de 25 mil milhões de euros nos próximos seis meses.

Não se faz o que o Governo está a fazer a um país, aos seus cidadãos e ao projecto europeu.
E - mais grave - parece que nem se repara que isto está a acontecer. Quando a Grécia estava a colapsar em Maio e com ela o euro, festejava-se o Benfica. Hoje o Governo festeja o líder.

Devíamos ter vergonha

Sim, "shame on we", pela figura que Portugal está a fazer internacionalmente.
Têm sido dias negros para o país.
Para exemplificar o desprezo que agora merecemos de alguns dos nossos parceiros europeus basta ler

  • o editorial de ontem do FT e a Lex, com o novo termo para dívidas insustentáveis, Portugalling. Eis uma pequena e bastante ilustrativa citação do editorial de 8 de Abril:
If European partners are confident that Lisbon is willing and able to repay its debt at an interest rate above the EFSF’s cost of funding, but below what a panicked market demands, it is irresponsible of them not to lend (and make money in the process).
For Portugal, that willingness is a bigger “if” than even for Greece. Lisbon has shown little appetite for the necessary belt-tightening and structural reforms of the economy to restore its long-lost ability to grow. The rest of Europe should be ready to extend rescue loans, but before it does so, it must demand that Portuguese politicians use the election campaign to seek a mandate from the people for a programme of reform. If this is achieved, and a loan is granted, all sides must accept that if the loan conditions are not met, aid will stop and a default triggered.

  • o que disseram este sábado dia 9 de Abril em Gondollo, perto de Budapeste, o comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários Olli Rehn e o presidente do BCE Jean-Claude Trichet - mandaram, basicamente, as lideranças portuguesas falarem menos e trabalharem mais:
Olli Rehn e Trichet apelam a menos diálogo na praça pública em Portugal

Um país à beira do colapso financeiro, da bancarrota, dá-se ao luxo de brincar com quem o pode ajudar. Já que não existe qualquer preocupação com os cidadãos portugueses - tem de ser Olli Rehn a falar dos cidadãos portugueses -, que pelo menos actuem de outra forma por vergonha de si próprios. Porque com o país, já percebemos, poucos estão preocupados.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

E Portugal pediu ajuda

No dia 6 de Abril de 2011, Portugal pede ajuda financeira à União Europeia. E assim sai dos mercados financeiros - deixa de se financiar no mercado e passa a financiar-se directamente junto da UE/FMI.

Uma ajuda que se tornou inevitável, ditada pela velocidade com que subiram as taxas de juro e desceram os 'ratings' da República desde que o Governo se demitiu na sequência do chumbo do chamado PEC IV.
Um pedido que José Sócrates concretiza contra a sua vontade.

Desde o início da semana assistimos a entrevistas de banqueiros à TVI afirmando em praça pública o que nunca imaginaríamos possíveis.
O presidnete do BCP foi o primeiro a dizer que Portugal devia pedir ajuda já. Seguiu-se o banqueiro dos banqueiros, Ricardo Salgado na terça-feira, afirmando exactamente o memso: Portugal tem de pedir ajuda.

Foram (as entrevistas dos banqueiros), e são, reveladoras da resistência do primeiro-ministro em pedir apoio financeiro à UE, fazendo o país correr um risco de colapso que nos custaria bastante caro.

E todo o calendário de dia 6 de Abril revela bem até que ponto o primeiro-ministro estava disposto a ir na sua recusa em pedir ajuda:

18:00 - O processo de pedido de ajuda começa com a entrevista do ministro das Finanças dada por escrito, e que é publicada praticamente à hora a que chegou ao mail. O objectivo era comentar o leilão de Bilhetes do Tesouro que deu um sinal dramático de encerramento dos mercados para Portugal. Eis que quando questionado sobre o pedido de ajuda responde:
"Perante esta difícil situação, que podia ter sido evitada, entendo que é necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu em termos adequados à actual situação política. Tal exigirá, também, o envolvimento e o comprometimento das principais forças e instituições políticas nacionais".

19:00 - Sabe-se que o primeiro-ministro vai fazer uma comunicação ao país às 20:30

Poucos minutos depois das 19:00 a Comissão Europeia dizia que ainda não tinha recebido um pedido de ajuda de Portugal

Quase às 20 horas sabe-se que foi convocado um Conselho de Ministros extraordinário.

Pouco depois das 20:30 o primeiro-ministro anuncia que pediu ajuda externa.

21:00 em Lisboa, 22:00 em Bruxelas, a Comissão Europeia revela em comunicado que o primeiro-ministro José Sócrates informou o presidente da Comissão que vai pedir ajuda.

Tudo correrá bem - e provavelmente melhor do que esperamos neste momento - se os partidos do arco da governação actuarem responsavelmente. Têm de assumir compromissos em plena campanha eleitoral.
Será a credibilidade desses compromissos que evitará medidas ainda mais duras de austeridade. Quanto mais for a capacidade de os partidos se entenderem, de cooperarem, menos será o aperto do nosso cinto.

Vamos ter de reduzir o nosso nível de vida, mas poderemos fazê-lo à bruta ou mais lentamente - tudo depende dos nossos líderes políticos.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Ainda na Economist, os líderes fragilizados

@Economist Peter Schrank
Líderes cansados, sociedades em mudança e crises que parecem eternas. Vale a pena ler pelo que se diz das tendências das sociedades actuais - os partidos de massas acabaram -, pelos vários factores identificados como fragilizadores da União - por exemplo, o tempo, demasiado, que estão no poder - e especialmente pelo olhar sobre as mudanças no eleitorado - os partidos de massas acabaram, diz-se.
E finalmente pela fantástica síntese final:
"If Mr Sarkozy were less mercurial, Mrs Merkel less prone to panic, Mr Zapatero more convincing and Mr Berlusconi less of a buffoon, Europe would be less handicapped."

A Economist sobre Portugal, Grécia e Irlanda, a ler


"Eles vão rebentar. Reconheçam"
"(...)
These economies [Greece, Ireland and Portugal] are on an unsustainable course, but not for lack of effort by their governments. Greece and Ireland have made heroic budget cuts. Greece is trying hard to free up its rigid economy. Portugal has lagged in scrapping stifling rules, but its fiscal tightening is bold. In all three places the outlook is darkening in large part because of mistakes made in Brussels, Frankfurt and Berlin.

At the EU’s insistence, the peripherals’ priority is to slash their budget deficits regardless of the consequences on growth. But as austerity drags down output, their enormous debts—expected to peak at 160% of GDP for Greece, 125% for Ireland and 100% for Portugal—look ever more unpayable, so bond yields stay high. The result is a downward spiral.

This newspaper has argued that Greece, Ireland and Portugal need their debt burdens cut sooner rather than later.
(...)
The big obstacle is not technical but political. Since many at Europe’s core, particularly the ECB, remain implacably opposed to debt restructuring (...)
It is time the Fund’s top brass said so publicly and, by refusing to lend more without a deal on debt, pushed Europe’s pusillanimous politicians into doing the right thing.