domingo, 13 de abril de 2008

O PSD, a democracia e a ética

Li e não quis acreditar.
O PSD convocou uma conferência de imprensa para as 19 horas de sábado passado:
- Para criticar o acentuado agravamento na desigualdade em Portugal durante a última década, recentemente divulgada pelo INE? E propor medidas? Não.
- Para manifestar preocupação com a subida dos preços dos serviços de saúde devido às taxas moderadoras, propondo medidas para aliviar o orçamento dos mais pobres e idosos? Não.
- Para alertar para os graves desperdícios de dinheiro dos contribuintes nas parcerias com privados no domínio das estradas, revelado pelo Tribunal de Contas? E propor que se reforcem os recursos da Estradas de Portugal para fiscalizar o cumprimento dos contratos entre o Estado e privados onde se poderia poupar milhões? E poupar ainda mais nas obras que se avizinham. Não, nem pensar.
- Para apresentar um conjunto de medidas que previnam o eventual efeito da subida das taxas de juro no orçamento das famílias de classe média endividadas? Tal como recomendou o FMI? Não, claro que não.
- Para desafiar o Governo a apresentar o ponto de situação da banca portuguesa de forma a garantir que não seremos apanhados pela crise financeira? Não.
- Para propor medidas preventivas para o aumento dos produtos alimentares? Claro que não...

A lista poderia continuar.

Mas o vice-presidente do PSD, maior partido da oposição em Portugal, país da União Europeia e da Zona Euro, convocou a conferência de imprensa para criticar a RTP por ter contratado uma produtora externa que por sua vez tinha uma programa sobre bairros sociais a realizar por uma jornalista com carreira afirmada e respeitada na televisão e na imprensa, Fernanda Câncio. E porquê? Porque, diz o vice-presidente do maior partido de oposição em Portugal, a jornalista com carreira afirmada e respeitada tem "um relacionamento pessoal com o primeiro-ministro".

Pior que isto parece impossível.
Ou talvez sim, quando na campanha eleitoral anterior José Sócrates enfrentou uma boataria com a mesma origem.
Será este o país em que vivemos?
Nem nas histórias de caciques mais assustadoras ouvimos disto. Até incomoda pensar que há pessoas assim, quanto mais falar nisto.

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