sexta-feira, 28 de março de 2008

O IVA e a assimetria da mentira

José Sócrates em campanha eleitoral prometeu que não aumentaria impostos. Acabou por subir o IVA de 19% para 21%. Compreendeu-se na altura que assim tinha de ser por causa da situação orçamental.

O primeiro -ministro foi dizendo nos últimos tempos que só desceria impostos quando estivesse seguro que tal não comprometia os resultados alcançados até agora.
"É tão fácil falar em descida de impostos e prometer descida de impostos, mas acho que os portugueses têm bem consciência que só deve ser feita se tiver claro e estivermos seguros de que tudo aquilo que ganhámos nestes dois anos não será posto em causa" (...) Quem fala em baixar os impostos, desconhecendo os principais dados da economia portuguesa, "demonstra apenas uma grande leviandade e irresponsabilidade".
José Sócrates a 14 de Março de 2008
Dia 26 de Março José Sócrates anuncia a descida do IVA em 1 pontos percentual, de 21% para 20% apanhando toda a gente de surpresa.
Confrontado com a expectativa criada de que não desceria tão cedo os impostos, contra-argumenta dizendo que o défice público foi inferior ao esperado - em vez de 3% foi de 2,6% - e que os indicadores dos primeiros dois meses do ano da execução orçamental e da conjuntura permitem também adoptar esta decisão.
Tal como antes de ganhar as eleições, foi a nova realidade que o fez mudar a decisão. Só não mudam os burros, diz o povo cheio de razão. Mas mudanças repentinas da realidade... é verdade que vivemos num mundo de grande velocidade na mudança, mas ainda não estamos a esse ritmo.
Pode ser que José Sócrates consiga tirar dividendos políticos desta decisão. A sua maneira de actuar politicamente começa a ser já demasiado clara: cria expectativas contrárias àquilo que pretende fazer obrigando os adversários a mostrar o jogo. Depois destes exporem todas as suas cartas coloca o seu jogo na mesa, condicionando a reacção.
Para a actividade económica este jogo é muito negativo. Os empresários actuam com expectativas criadas pelas autoridades. Se na política é bom apanhar de surpresa os adversários, na economia é o pior que se pode fazer.
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Parece-nos menos "mentira" esta decisão de baixar o IVA do que a decisão de o aumentar. Mas é igualmente negativa para a economia, com a certeza que 1 ponto percentual não é nada.

domingo, 16 de março de 2008

O Bear... e o pouco mercado

A Reserva Federal abriu uma caixa de Pandora ao aprovar a "salvação" do Bear Stearns, uma instituição não bancária. Obviamente que agora muitos outros querem e um grupo de financiadores está a questionar a legalidade da iniciativa da Fed uma vez que o Bear é, na prática, uma sociedade corretora.
O apoio ao Bear foi aprovado na sexta-feira de manhã correspondendo a um empréstimo a 28 dias concretizado pela Fed através da JP Morgan que hoje começava a ser apresentada como potencial compradora da corretora com 85 anos de idade que, como dizem os analistas, resistiu à Grande Depressão e à segunda Guerra Mundial mas não aguentou a sub-prime.
A intervenção da Fed está a ser muito criticada mas o secretário de Estado do Tesouro já veio em sua defesa, considerando que a actuação foi correcta. O argumento é: receio de que as dificuldades do Bear se contagiassem a outras instituições.

Vai ser preciso reflectir sobre o que é afinal o mercado... mais para uns que para outros.

quarta-feira, 12 de março de 2008

A mania da construção e o ministro Vieira da Silva

A TSF levou hoje o ministro Vieira da Silva ao seu fórum da manhã para responder a perguntas dos ouvintes, numa excelente ideia.
Telefonou um ouvinte de Trás-os-Montes - não, não era daqueles que se via logo que era do PSD ou do PS, fez perguntas genuínas:
1. Porque não tinham recebido as instituições de solidariedade da zona que apoiavam idoso nem um cêntimo de apoio há dois anos:
2. E porque não iam os médicos consultar os doentes oncológicos onde eles estavam em vez de os obrigar a acordar de madrugada para irem ao médico.

As respostas do ministro foram espantosas:
À primeira pergunta respondeu assim:
-Estamos a construir novos equipamentos - (leia-se construções) - para apoiar os idosos e há agora um programa para fazer obras nas casas dos idosos de forma a terem apoio domiciliário.
Mas quando é que se começa a perceber que não é preciso mais dos ditos "equipamentos"? Que já chega de construção, que precisamos é de organizar os serviços que prestamos e ter fundos para as despesas correntes?

E não é que a resposta à segunda pergunta também envolveu equipamentos? Que era preciso concentrar mais os serviços para oferecer melhores equipamentos.

Esta mania da construção persegue-nos... Desde os tempos em que andámos a construir fortalezas megalómanas.

terça-feira, 11 de março de 2008

'Subprime' na BBC

Vale a pena ver e ler como a BBC tratou o tema da sub-prime.

Nova onda 'subprime'

Chegou a nova onda da crise desencadeada pela falta de juízo na concessão d ecrédito nso Estados Unidos. Tal como muitos analistas preconizaram, inclusivamente neste espaço - F., por exemplo.

A Reserva Federal anunciou hoje a colocação de 200 mil milhões de dólares aceitando como contrapartida títulos de dívida hipotecária privada com 'rating' AAA e uma acção coordenada com os bancos centrais europeu e do Canadá no montante de 45 mil milhões de dólares, como se pode ler em síntese na Bloomberg.

Este novo 'tsunami' foi aparentemente desencadeado pela pressão dos bancos norte-americanos junto de credores como 'hedge fund' para amortizarem os seus créditos.

A perspectiva de que se iria assistir a réplicas da crise iniciada em Agosto do ano passado baseou-se no facto de muitas famílias norte-americanas verem o seu período de carência terminado nos primeiros meses deste ano. Não consigo ainda perceber se isso se está, de facto a verificar.

A reacção dos mercados à iniciativa da Fed foi obviamente de festa.
O fim desta crise está, parece, ainda longe.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Um ano menos mau, o de 2007


O investimento registou em 2007 a mais elevada taxa de crescimento desde 1999, contribuindo para o reforço do crescimento da economia o ano passado, segundo números hoje divulgados pelo INE.
A economia portuguesa cresceu 1,9%, ligeiramente mais que os 1,3% de 2006. A primeira década do século XXI está irremediavelmente perdida em matéria de convergência para o rendimento médio da União Europeia.
A dinâmica do investimento, que se reforçou no último trimestre do ano, é a boa notícia de 2007. Mas será sustentável em 2008?
O indicador coincidente de Formação Bruta de Capital Fixo divulgado pelo Ministério das Finanças aponta para um abrandamento do investimento em Janeiro. Pode ser apenas um "incidente estatístico" digo eu.
Hoje foi mais um dia de grandes anúncios de investimentos: o plano da Galp.
Amanhã será a vez da Abertis com o primeiro-ministro a lançar a primeira pedra para a criação de uma plataforma de distribuição de produtos.
Além disso, há ainda os projectos públicos, com o regresso - infelizmente - de mais auto-estradas. E da entrada em vigor do novo quadro comunitário de apoio, o QREN.
Se Espanha conseguir não entrar em recessão, esta crise financeira internacional pode ser ultrapassada com estes medíocres crescimentos que temos tido, com os olhos postos em 2009 para o relançamento da economia portuguesa num crescimento mais dinâmico. Pode é já não ir a tempo para garantir a vitória eleitoral com maioria absoluta do PS.

domingo, 9 de março de 2008

EUA em políticas heterodoxas

Um excelente artigo no NYT - simples como devem ser os artigos dos jornais - sobre a dificuldade em combater a crise norte-americana, depois de as autoridades´já terem usado (quase) toda a artilharia pesada: redução de taxas de juro, desvalorização do dólar e estímulos fiscais.

A partir daqui entrarem no domínio das medidas heterodoxas:
- O apelo do presidente da Reserva Federal aos bancos para que ajudem a combater a crise financeira avançando com perdões de dívida e reescalonameno, alargando os períodos de amortização. Inédito num banqueiro central. Uma lição de pragmatismo para os ortodoxos europeus. Vale a pena ler Luisa Bessa.
- A possibilidade de o Governo adquirir o crédito mal parado, assumindo as perdas ou os custos de reescalonamento, numa proposta do senador Barney Frank que preside ao comité de Serviços Financeiros. A Reserva Federal não aceitou - 'por enquanto', diz o NYT - esta proposta.

O terror que se vive é ver os Estados Unidos a repetirem a história do Japão na década de 90: uma crise que durou uma década desencadeada também por empréstimos fáceis que empolaram os preços do imobiliário.

Professores

Dias de silêncio não desejado. Estou de regresso.
Impressionada com a manifestação de professores.
Mas espero que o primeiro-ministro não ceda. Estamos há tempo de mais à espera que a educação melhore.
Mesmo que o modelo de avaliação e o de gestão da escola tenha alguns problemas vale mais esses que nenhuns ou o que existia até agora.

Gostei de ver a ministra da Educação a afirmar que a sáída mais fácil é substituir ministros e recuar nas reformas.

Espero que José Sócrates pense o mesmo. Esta política pode custar-se a eleição ou a maioria em 2009.