O tempo é de férias. Mas é impossível não pensar. Especialmente quando nos confrontamos com iniciativas importantes para todos nós, portugueses, em tempo de pré-férias. Falo da proposta de reforma de IRC que aponta para uma redução do imposto sobre os lucros das empresas de 31,5% para 29,5% (incluindo a derrama estadual e municipal).
Teoricamente, menos tributação dos lucros (e dos rendimentos de capital em geral) significa mais investimento, quer em empresas já existentes como em novos projectos. São, teoricamente, ambientes mais amigos do investimento que cria emprego. Teoricamente, sim. Porque na prática pode não ser assim:
« A realidade tem demonstrado que só há um efeito significativo no investimento e sobretudo na atracção do investimento estrangeiro quando a descida das taxas é significativa. Descer a taxa marginalmente serve para muito pouco ou nada;
« A situação financeira do Estado não permite uma redução significativa imediata das taxas de IRC. Para que serve então essa descida mínima - pressuponho que as reduções de impostos têm como objectivo aumentar o bem estar global da sociedade e não melhorar a situação apenas de um grupo limitado enquanto os outros ficam na mesma ou pioram;
« Uma descida marginal da taxa de IRC que não não tem um efeito de aumento global do bem estar da sociedade, quando se estão a cortar pensões de reforma e salários, se está a reduzir o Estado social na saúde e na previdência e a aumentar impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre o consumo parece ser uma escolha que favorece grupos com poder junto do poder. E estes são quadros que manifestamente não garantem o desenvolvimento, para dizer o mínimo.
Dois últimos pontos:
« Baixas taxas de imposto não garantem iniciativas de investimento sustentáveis a longo prazo, como aprendemos dolorosamente com o caso da Irlanda;
« Entrar num processo concorrencial de atracção de investimento através de taxas de imposto é equivalente a processos de desvalorização cambial competitiva: todos ficam pior ou na mesma. Ou será que se pensa que os países com que queremos concorrer (Polónia e República Checa, referidos no documento da proposta) com a redução do IRC nada vão fazer?
A simplificação e a estabilidade do regime fiscal é mais urgente do que as medidas de redução da carga fiscal sobre as empresas, quando ainda nada se pode fazer pelos cidadãos em geral, dos mais desfavorecidos aos que pertencem a uma classe média em risco de empobrecimento.
Quando se está a reduzir tão significativamente os rendimentos presentes e futuros, em dinheiro e em espécie, dos cidadãos em geral, aumentar o rendimento de alguns exige uma justificação que demonstre, sem equívocos, os benefícios que daí se retiram para toda a sociedade. Ou seremos de novo uma "sociedade extractiva", aquela que faz "falhar as nações". Já basta o que se tem visto (e compreendido como o mal menor) com as PPP rodoviárias, as rendas da energia, o BPN e os 'swap'.
Teoricamente, menos tributação dos lucros (e dos rendimentos de capital em geral) significa mais investimento, quer em empresas já existentes como em novos projectos. São, teoricamente, ambientes mais amigos do investimento que cria emprego. Teoricamente, sim. Porque na prática pode não ser assim:
« A realidade tem demonstrado que só há um efeito significativo no investimento e sobretudo na atracção do investimento estrangeiro quando a descida das taxas é significativa. Descer a taxa marginalmente serve para muito pouco ou nada;
« A situação financeira do Estado não permite uma redução significativa imediata das taxas de IRC. Para que serve então essa descida mínima - pressuponho que as reduções de impostos têm como objectivo aumentar o bem estar global da sociedade e não melhorar a situação apenas de um grupo limitado enquanto os outros ficam na mesma ou pioram;
« Uma descida marginal da taxa de IRC que não não tem um efeito de aumento global do bem estar da sociedade, quando se estão a cortar pensões de reforma e salários, se está a reduzir o Estado social na saúde e na previdência e a aumentar impostos sobre os rendimentos do trabalho e sobre o consumo parece ser uma escolha que favorece grupos com poder junto do poder. E estes são quadros que manifestamente não garantem o desenvolvimento, para dizer o mínimo.
Dois últimos pontos:
« Baixas taxas de imposto não garantem iniciativas de investimento sustentáveis a longo prazo, como aprendemos dolorosamente com o caso da Irlanda;
« Entrar num processo concorrencial de atracção de investimento através de taxas de imposto é equivalente a processos de desvalorização cambial competitiva: todos ficam pior ou na mesma. Ou será que se pensa que os países com que queremos concorrer (Polónia e República Checa, referidos no documento da proposta) com a redução do IRC nada vão fazer?
A simplificação e a estabilidade do regime fiscal é mais urgente do que as medidas de redução da carga fiscal sobre as empresas, quando ainda nada se pode fazer pelos cidadãos em geral, dos mais desfavorecidos aos que pertencem a uma classe média em risco de empobrecimento.
Quando se está a reduzir tão significativamente os rendimentos presentes e futuros, em dinheiro e em espécie, dos cidadãos em geral, aumentar o rendimento de alguns exige uma justificação que demonstre, sem equívocos, os benefícios que daí se retiram para toda a sociedade. Ou seremos de novo uma "sociedade extractiva", aquela que faz "falhar as nações". Já basta o que se tem visto (e compreendido como o mal menor) com as PPP rodoviárias, as rendas da energia, o BPN e os 'swap'.