segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O 'call center'

A propósito do 'call center' que a PT lançou hoje em Santo Tirso - que vai criar 1200 postos de trabalho e onde esteve o primeiro-ministro - leio:

Será dada prioridade a candidatos que tenham o 12º ano, garantindo desta forma a contratação de emprego qualificado.

O emprego qualificado mudou de sentido: uma empresa de limpezas pode passar a dar prioridade a licenciados que assim garante a contratação de emprego qualificado? Estaremos a ficar perturbados?

Pobre país em que primeiro-ministro se congratula com a criação de emprego num 'call center', o equivalente ao sector têxtil dos tempos modernos.

Pobre país em que uma das maiores empresas de telecomunicações faz do lançamento de um 'call center' um dos seus investimentos criadores de emprego.

7 comentários:

Jeronimo disse...

Um Call Center é um investimento de menor prestígio, é um facto, mas é preciso ter atenção ao local onde vai ser instalado. E aí o destaque é importante sobretudo pelo simbolismo na mudança da actividade económica da região, para além de um alento numa região tão fustigada e desmotivada pelo desinvestimento.

Anónimo disse...

Excelente artigo!
É das poucas coisas que este Governo faz bem,designadamente o sr.PM,é o seu auto-elogio!
Quando se criam perspectivas de criar,nem que seja 50 empregos,é de PM para cima;se fecha uma fábrica que deixa no desemprego 300 ou 400 trabalhadores,só não abafam se não puderem.Mas,dos gabinetes,prometem mundos e fundos:que vão remediar a questão;arranjar novos investidores;reconverter em qualquer coisa,...,até passar ao domínio do esquecimento.

Helena Garrido disse...

Caro Jerónimo,
Tem toda a razão quanto à importância desse investimento para a região de Santo Tirso fustigada pelo encerramento de empresas do sector têxtil.
Mas, infelizmente, revela que o perfil de emprego não qualificado se mantém. Ou, em alternativa, empregos de~transição para outros melhores que é o que se verifica por exemplo em Lisboa, onde há estudantes universitários ou mesmo licenciados a trabalhar em 'call center' à espera de dias melhores.

José Manuel Dias disse...

Caríssima Helena,
Permita-me discordar. A qualificação não tem só a ver como o emprego e trabalho associadao mas também com o modo como o mesmo é desenvolvido. Definir como meta o 12º Ano é dar um sinal claro das exigências: há que melhorar. E não pense que a função de operador de Call Center é uma função menor. Cada vez mais, parte das vendas de grandes empresas é assegurada por esta via, com claros benefícios de eficiência.
Cumps

Pedro Braz Teixeira disse...

Há ainda a questão relevante, levantada pela CGTP (uma fonte suspeita, admita-se) de que esta não é uma criação líquida de emprego, mas uma mera deslocalização de empregos da zona de Lisboa. Um argumento pouco explicitado da deslocalização parece que tem a ver com a redução da rotação do call-center. Em Lisboa muitas pessoas passam pelo call-center temporariamente mas, em Santo Tirso, com a escassez de alternativas, a rotação tenderá a ser menor.

Ricardo Gomes da Silva disse...

Excelente comentário...totalmente de acordo


...como se ter o 12º ano ou o 2º ano do preparatório fosse relevante para a complexidade do trabalho.
O Pais com isto acabou de dar um tiro na exigência curricular..para quê aprender fisica quântica se o máximo que o pais produz apenas exige (e estou a ser simpático) o preparatório

Mas isto não é novidade, quando o IVA foi aplicado pela 1º vez (16%) lembro-me bem que quase ninguém sabia calcular a dita percentagem...felizmente que apareceram as maquinas de calcular com as teclas M+...lol
Não estou a brincar!...lembrem-se que Portugal é o único pais da Eurpa onde mais de 75% da classe empresarial tem a 4º classe

Nem tal poderia ser diferente...se até a PT inventa uma empresa de trabalho temporário (dela) para arranjar trabalho dentro da própria PT (para ficar com a percentagem de uma empresa de trabalho temporário) podemos chegar á conclusão que tudo não passa de um excelente negócio para os espertalhões que governam isto

Qualquer dia exigem licenciatura para varrer ruas!..tal é a oferta desajustada da procura
No fundo vivemos uma especie de economia planificada ao nivél do mercado de trabalho em alguns sectores


bem haja

Anónimo disse...

Eu diria que, se em Santo Tirso se cria um emprego que exige o 12º ano, há boas hipóteses de esse emprego ir ser ocupado por alguém que não é de Santo Tirso.

Os empregos de que os desempregados de Santo Tirso necessitam são empregos para analfabetos ou pessoas com a 4ª classe, não empregos que exijam o 12º ano...

Luís Lavoura