domingo, 12 de dezembro de 2010

A Europa incerta

Amanhã o Observatório da Imprensa organiza um seminário para jonalistas subordinado ao tema "Portugal e a Europa: a próxima década".

Os problemas que a Europa enfrenta são o mais importante tema dos dias de hoje pelos efeitos que podem ter nas nossas vidas. Receio que não tenhamos ainda tomado consciência da dimensão do problema que poderemos ter de enfrentar.  A Europa está no meio de uma ponte a cair, como escrevi aqui.

Vale ainda a pena ler o comentário de f. ao post Euro-discordâncias e que aqui deixo, agradecendo, uma parte:
(...)O problema que para mim assume proporções cada vez maiores não é porém europeu. É a segunda fase da crise que ora se avizinha. Que foi uma crise financeira global de dívida privada. E que por causa da subsequente «nacionalização» de muitos incumprimentos privados ameaça tornar-se numa crise financeira global de dívida pública.


Seria muito triste ver a UE incapaz de resolver internamente a dificuldade da distribuição desigual dos saldos nacionais de poupança e de endividamento perante a ameaça duma segunda crise financeira global.

É nestas circunstâncias que se põe a questão de saber se há uma solução para Portugal no contexto duma união monetária. De saber se há uma solução simples para Portugal abandonar o acordo actual e enveredar por um novo curso sem perda de soberania económica e financeira (e política, também) e sem custos económicos proibitivos. (...)"

1 comentário:

Anónimo disse...

A «construção» dum consenso é um fenómeno que deve ser estudado também pelos economistas para quem a Verdade é algo que é ou não é. A Verdade no dia-a-dia nem é nem deixa de ser. A Verdade é o último estádio dum consenso. Porque o consenso é uma Verdade em fase de construção.

Há hoje dois consensos em fase de acabamento. O primeiro é de que a Grécia tem um problema de falta de controlo orçamental.

O segundo é de que a Irlanda tem um problema bancário em resultado da especulação imobiliária. O problema irlandês não era orçamental à primeira vista mas passou a ser quando o Governo estendeu as garantias a todo o sistema bancário.

Há um outro consenso ainda em fase de construção. É de que a Espanha tem um problema sério com as caixas de aforro regionais também em resultado da especulação imobiliária. O problema espanhol não é orçamental à primeira vista porque as caixas pertencem às Regiões mas ainda pode acabar sendo.

Seria importante compreender o consenso que se está a construir em relação a Portugal. Houve um esforço grande de retórica para eliminar as semelhanças com os outros países. Há hoje uma sugestão para classificar o problema de Portugal como um problema de dívida privada.

É muito provavelmente um problema de dívida bancária que foi «classificada» como privada. Com efeito, dos quase 498 mil milhões de dólares da posição total no fim do segundo trimestre de 2010, 224 mil milhões de dólares ou 45 por cento é dívida bancária. O Estado tem cerca de 22 por cento da dívida externa total.

Para ser um problema de dívida privada seria preciso que aquela dívida estivesse prometida sem qualquer «conforto» do Estado. Seria então dívida exclusivamente de Empresas e Famílias.

A dívida das Famílias é sobretudo crédito à primeira habitação. Aparte as modalidades paroquiais de qualidade «subprime» que não podem ser importantes, a qualidade é regra geral adequada porque não houve uma «bolha» e (NÃO ESQUECER) há activos dados em garantia.

Fica de fora a dívida das Empresas à Banca. Faz-me voltar ao parágrafo anterior: é preciso que esta dívida esteja prometida sem qualquer «conforto» do Estado. Além disso, faz-me pensar na dívida levantada para comprar bancos. Faz-me pensar ainda nas novas cadeias de hotéis nacionais cuja ocupação deve andar baixa. Faz-me pensar também nas novas fábricas de talento, produto mais de empreendedores mediáticos do que planos de actividade bem discutidos. Esta dívida bancária vai precisar de mais trabalho.

Assim se constroem os consensos. Na concessão do crédito. No diagnóstico do incumprimento. Tal como nas terapias sugeridas.

Obrigado.

F