Acabaram as reformas estruturais dolorosas.
Passámos do confronto e do ambiente de tensão para o diálogo e a sedução.
Um Governo que revela as qualidades políticas de José Sócrates - "a política é a arte do possível". E sem maioria absoluta, o possível é dialogar, é não ameaçar nem retirar direitos das corporações.
E disciplinado e persistente como se tem revelado o primeiro-ministro, é elevadíssima a probabilidade de conseguir ser um novo primeiro-ministro, mais frio e menos "animal feroz" quando discordam dele ou o questionam.
O novo Governo de José Sócrates tem como núcleo duro as Finanças - Fernando Teixeira dos Santos - e a Economia (com o QREN, os fundos comunitários) - Vieira da Silva.
Fernando Teixeira dos Santos terminou a difícil legislatura que foi o governo de José Sócrates com a mais elevada nota de popularidade entre os seus pares. E foi assim praticamente durante toda a legislatura.
Notável. Face ao que fez. Na primeira parte da legislatura - antes da crise internacional nos bater à porta - reduziu direitos aos funcionários públicos, cortou despesas e até aumentou impostos. Na segunda fase conseguiu evitar ser a face da crise, como aconteceu aos seus pares noutros países. Tem até conseguido distanciar-se do complicado processo político, financeiro e judicial do BPN.
Conheciam-se as suas qualidades técnicas desde que foi secretário de Estado de Sousa Franco no primeiro governo de António Guterres. As suas qualidades políticas revelaram-se muito acima da média nos últimos quatro anos.
Vieira da Silva teve a habilidade de realizar profundas reformas com acentuadas reduções de direitos sem qualquer contestação.
Foi o ministro que mais direitos retirou aos portugueses - basta pensar no Código do Trabalho e na Reforma da Segurança Social. E como ministro do Trabalho agradou mais aos patrões que aos sindicatos.
Como diz João Cândido da Silva, Vieira da Silva abandona a defesa dos trabalhadores para passar a defender os patrões. Que, digo eu, segundo os sindicatos, sempre defendeu (os patrões, bem entendido).
Com os milhões do QREN nas mãos e a sua capacidade executiva, estão reunidas as condições de sucesso numa área fundamental para a recuperação da actividade económica. Esperemos é que não se concentre apenas nos grandes negócios - aqueles que não vivem sem o Estado mesmo em tempo de prosperidade.
As reformas que exigirem confronto, como é o caso da Saúde, terão de esperar por melhores dias.
Talvez - e é mais um desejo do que uma convicção - se consiga melhorar a Justiça. Ainda que o curriculum governamental passado de Alberto Martins não prometa nada.
Para a conjuntura económica e política que o país atravessa, as escolhas de Sócrates parecem muito acertadas. A violência das reformas realizadas na última legislatura - quer na forma como foram concretizadas como no seu conteúdo - também recomendava uma nova etapa de mais serenidade.
1 comentário:
Cara dra. helena Garrido: Gostei de seu comentário mas, como já ontem havia comentado com minha mulher, ao assisti-la no Jornal da RTP2, eu, que não morro de amores pelo Vieira da Silva, antes, pelo contrário, gostaria de externar meu ponto de vista, absoluta e completamente jurídico. Este Sr. não subtraiu direitos a ninguém. No que ele andou a mexer foi na expectativa de direito que grande parte da população portuguesa têm. Nem poderia. O direito adquirido é consagrado na Constituição, já a expectativa do mesmo, não. Veja-se, ao extremo, exagero, portanto, o caso de um feto gerado sem que a mãe quisesse o ter. Este ente teria a expectativa de direito de nascer. Pode-se mudar a legislação, a falar que não o poderá fazer. Mas é um feto. Aguarda o facto do nascimento. O complementar das devidas semanas de gestação. Outra coisa é uma criança, já com vida, ou seja, com todos os direitos que adquire com o nascimento, ser morta pelo pai ou pela mãe, por não ser suportável economicamente pela família. É homicídio, puro e duro. Expectativa de Direito é uma coisa. Direito, outra. Pode parecer uma simples nuance, mas não é, posso lhe asseverar. Assim como só brincamos com quem quermos bem, também discordamos daqueles a quem admiramos. É o meu caso, em relação a esta simples frase, de tão bom artigo de argumentação. Fique bem. PS: A mensagem vai como anónimo, mas quem escreve é Ariosto, que aparece, às vezes, a fazer comentários no JdeN. Pode parecer pouco, mas é a diferença entre o voto em branco e o nulo. No branco, qualquer um me satisfaz. No nulo, dou minha opinião, ou seja, não quero nenhum deles...
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