quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O Banco Privado e os incentivos perversos

Foi publicado o Despacho com a garantia ao Banco Privado Português.

Oficialmente continuamos sem saber quais as garantias que o Estado recebeu.

Porque vale a pena reflectir sobre os efeitos perversos deste apoio ao BPP tomo a liberdade de sintetizar alguns dos comentários que estão aqui:

De NG
  • "As «lideranças portuguesas» podem defender os princípios que quiserem e podem não ser obrigadas a fazer o aumento de capital indispensável para salvar o banco (até porque podem não ter o dinheiro necessário). (...) O que não podem é passar por este sarilho em que comprometeram todos os contribuintes portugueses sem uma proporcional punição moral e patrimonial. Sob pena de, de hoje para amanhã, deixar de haver gente interessada em cultivar os campos, investir em fábricas, construir casas, por a actividade com menor risco em Portugal passar a ser a economia da fantasia de comprar activos com dinheiro emprestado a contar que eles se valorizem no dia seguinte (e dar-lhe uns nomes bonitos como alavancagem, Private Banking ou Corporate Advisory para disfarçar)."

Ainda de NG:

  • "Só existe uma (causa para esta crise), global e transversal: Nome técnico - Alavancagem. Alguns sinónimos: «com as calças do meu pai também eu pareço um homem», «gastar hoje o que talvez venha a ganhar um dia», «querer parecer mais do que aquilo que se é», «ganância», «gastar o que não se tem», «jogar com o dinheiro de outros», «armar-se aos cucos», «parecer mais que do ser», «contar com o ovo no da galinha», «arriscar mais do que se deve»,«aventureirismo», «economia de fantasia», «ganhar 20 e gastar 100», «vencedor dos mercados», e por aí fora..."

E o que se está a fazer ainda segundo NG:

  • "O mercado não é tonto por muito tempo e, tarde ou cedo, fala e gosta de ser ouvido. Mascarar a sua mensagem com bailouts e intervenções artificiais sem retirar consequências das imprudências é adiar e agravar as soluções.Ou esta crise consegue devolver uma certa humildade e sobriedade às pessoas, às empresas e aos mercados ou o que sobrar dela e o pouco que se consiga criar entretanto será por completo arrasado na seguinte."

Subscrevo inteiramente os alertas de NG. A questão é que solução?

  • Os accionistas do BPP - como de outros bancos por esse mundo fora - estão a beneficiar a externalidade extremamente negativa da sua falência. Os governos não têm outra alternativa - têm de intervir.
  • A questão pode estar em Como intervir? Estarão a intervir da forma mais adequada, aquela que minimiza o "moral hazard"? Estarão a minimizar os incentivos perversos de que fala NG? Absolutamente não.
  • A única via que vejo de combater os incentivos que vão germinar numa nova crise, ainda mais grave, seria ficar com os activos desses investidores: nacionalizar sem direito a indmenização. Do ponto de vista da racionalidade económica faz todo o sentido: o banco transformou-se num bem público, não peas sua características de indivisibilidade e não-rivalidade mas pelas externalidades negativas geradas pela sua falência.

5 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado pelo destaque.
Concordo consigo. Será benéfico tudo o que for feito que sinalize os agentes do mercado de que os riscos são reais e para todos, de um pedinte ao W. Buffet, para ganhar e para perder. Tudo o que se afaste disso será retirar coerência e confiança ao sistema e capacidade de se regenerar.

Anónimo disse...

O que se passa com o BPI?

Anónimo disse...

Há ainda outra solução: convidar estes «homens de sucesso», de camisa branca e gravata de seda, a subir a estátua de D. João I na Praça da Figueira e obrigá-los a ler em voz alta os livros de Nicholas Nassim Taleb.

Anónimo disse...

...ou a percorrer este site de joelhos...
http://www.fooledbyrandomness.com/

Anónimo disse...

... ou a distribuir de porta em porta, por todos os lares deste país, a deliciosa entrevista de João Rendeiro ao Jornal de Negócios, em 2006...