sexta-feira, 31 de outubro de 2008

VW - O erro de previsão dos 'shorters'



É a acção da semana, como se escreve hoje no Negócios.
Em duas sessões as acções da VW foram multiplicadas por mais de quatro, passando de pouco mais de 200 euros para mais de 900. Chegou a ser negociada a 1.005,01 euros.
A loucura tem origem na comunicação da Porsche: anunciou no domingo passado que detinha mais de 74,1% da empresa.
Como antes disso as perspectivas eram de queda do título (afinal todo o sector automóvel esta em queda) - grande parte dos investidores estavam posicionados para a desvalorização e não para a subida. Ou seja, o título estava muito "shortado" - investidores tinham pedido acções emprestadas, tinham-nas vendido e estavam a comprar na baixa para devolver os títulos.
Repentinamente viram que iam perder dinheiro. Com a posição que a Porsche já detinha, sobrava 5,8% do capital no mercado para ser transaccionado livremente. De repente os títulos da VW transformaram-se num bem escasso: todos em busca de acções para satisfazer os compromissos. Os fundos de alto risco - hedge funds - foram os mais castigados. Estimam-se perdas de 30 mil milhões de euros.
Por aqui a história.

domingo, 26 de outubro de 2008

Samuelson, o mestre


Adeus ao capitalismo de Friedman e Hayek
de Paul Samuelson
via Câmara Corporativa.

Um extraordinário artigo do mestre dos mestres em Economia.

Diria apenas que não se pode apenas responsabilizar a falta de regulação - houve défice de regulação em algumas áreas, que foram fatais - mas tivémos também reguladores capturados pelos regulados como alerta Nuno Garoupa em "A mentira dos mercados desregulados".

Regularam-se as colheres de pau, os galheteiros, as bolas de Berlim, as matrículas dos automóveis... enfim... uma longa lista que todos os dias vai crescendo, basta etsar atento à Comissão Europeia.
Enquanto o sistema financeiro - tão muito mais importante para a sanidade do mundo - foi deixado entregue a si próprio, mesmo nas áreas em que era regulado.

O mistério da Garantia do Estado

Via Blasfémias
Garantia do Estado a bancos: mas que formosura!... de Tavares Moreira na Quarta República.

A ler e reflectir ainda propósito da sucessão de comunicados dos cinco grandes bancos nacionais.
Ficamos sem perceber se os bancos precisam ou não da garantia.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Garantia de Estado em acordo

Os cinco maiores bancos, um por um, afirmaram ao longo da tarde de hoje que a vão usar a garantia de Estado para se refinanciarem.


O Governo regista com agrado essa decisão.

O presidente do BPI Fernando Ulrich em dia de apresentação de resultados, confirma que Governo, Banco de Portugal e os cinco maiores bancos conversaram para adoptarem em conjunto esta posição.

No início da semana cada um dos bancos por si tinha dito que não previa usar a garantia.

Interessante esta história. A que se aplica bem a teoria de jogos, o jogo do Dilema do Prisioneiro.

Há (mesmo) coisas muito boas na net

Fantástico o site de Paulo Querido sobre o Orçamento do Estado para 2009.
Só hoje o encontrei.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Quem me dera...

... Ter comprado uma casa que não podia pagar
... Ter pedido ainda mais dinheiro emprestado por conta da casa para comprar carro, mobilar a casa e fazer as férias de sonho
... Ter emprestado a quem não podia pagar, se fosse banqueiro
....Ter emprestado 100% do valor da casa para que pudessem comprar também o carro e mobilar a casa, se fosse banqueiro

Hoje estaria o Estado a premiar a minha irresponsabilidade com os impostos que todos pagam.

(Sim, é um post agressivo. Mais triste que agressivo...Porque não se está a medir a grave dimensão dos incentivos perversos que se estão a construir só porque não se quer expor as dificuldades efectivas da banca).

O sistema financeiro tem de ser ajudado com o dinheiro que for necessário. O impacto de não o ajudar é muitíssimo mais grave para todos nós.
Mas é preciso desenhar apoios que evitem seriamente incentivos perversos. O Fundo de Arrendamento, consagrado no OE 2009, não respeita esse princípio.
Sofre de graves incentivos perversos para a banca e para as famílias. A factura chegará no futuro. Com mais irresponsabilidade...

O capitalismo está morto! Viva o capitalismo


O cartoon de Kal no Economist

domingo, 19 de outubro de 2008

A crise e o pêndulo

imagem retirada daqui
Andamos de facto muito confundidos:
O fim do Socialismo via Atlântico
O fim do Capitalismo, de alguma forma a ante-visão que marca o Ladrões de Bicicletas.

Visões que trazem à memória conversas antigas:

Todos os anos há alguns anos Ernâni Lopes promove um encontro com um grupo de jornalistas. Nós jornalistas estamos sempre focados no curto prazo - não é uma auto-critica, é uma constatação ditada pela natureza do que é em parte o que temos obrigação de oferecer aos nossos leitores.

Ernâni Lopes detesta em geral essa abordagem - do tipo quanto vai crescer a economia este ano? O desemprego vai subir este ano? O que pensa do Orçamento do Estado? As taxas de juro... a taxa de câmbio... o petróleo... vão subir, vão descer? Ou deve-se privatizar isto ou aquilo...

Num desses encontros - não me recordo exactamente qual era o tema mediático na moda mas era algo relacionado com privatizações e liberalização.

Ernâni Lopes usou a metáfora do pêndulo que levado longe de mais no seu movimento regressaria ao outro lado mais cedo ou mais tarde.

O pêndulo foi levado longe de mais na desregulamentação e liberalização. Como antes tinha sido levado longe de mais nas nacionalizações e regulamentação.

A tentação é grande, infelizmente, para levar também agora o pêndulo longe de mais na regulamentação e nacionalização - em linha com a lei da física.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Mais um banco em França...

Hoje foi a Caisse d'Epargne em França por uma aposta erra de três operadores do banco. Apostaram que a bolsa subia e a voltailidade caía e aconteceu o contrário. Foram perdidos 600 milhões de euros. É um acontecimento mais parecido com o caso Jerome Kerviel do início do ano que com a crise financeira. Mas ninguém esperaria que alguém na banca se metesse em aventuras em tempos tão complicados.

Ontem foi o dia do grande UBS - mais 3,9 mil milhões de euros de dinheiro do Governo. Depois do seu rival Credit Suisse ter recebido dinheiro dos seus investidores.

A doença do crédito tratada com ... crédito

De João Pinto e Castro copio:

"In other words, the way to make sure Americans don't live beyond their means is to give them back the means."

Que como diz se aplica totalmente a Portugal.

Como se estivéssemos a tentar pôr sóbrio quem já bebeu demasiado dando-lhe mais uns copos.

Mas poderá ser de outra maneira?

Se a bolha do crédito rebentar repentinamente temos todos de ir... "à pesca", como recomendou o primeiro-ministro da Islândia.

O momento é muito perigoso. E o Plano Sócrates/Teixeira tem algumas fragilidades mas é em linhas gerais bastante sensato, racional e com poucos incentivos perversos.

Metodologias e Orçamento

O Público, num trabalho de Sérgio Aníbal revela o efeito dos presentes do Governo no Orçamento: um aumento da despesa pública acima do crescimento do PIB, invertendo-se a tendência do passado.

A política orçamental deve ser anti-cíclica - e esta está a ser.

A critica não é a subida da despesa - é preocupante porque ainda era e é elevada para os serviços que o Estado presta e é preciso ter cuidado com estes expansionismos.

A critica é para a lamentável alteração da metodologia que exigiu um paciente trabalho de Sérgio Aníbal para fazer as comparações com 2009.
Porque contrariamente ao que acontece há vários anos - diria décadas - o Ministério das Finanças não publicou este ano os quadros da despesa e receita do Sector Público Administrativo por sub-sectores na óptica da contabilidade pública e nacional nem alertou que os grandes agregados que construiu não são comparáveis. Lamentável.

Não discuto a metodologia. Mas quando se alteram metodologias devem-se colocar os alertas nos quadros em que essas mudanças tiveram efeitos dizendo que os números não são comparáveis.
E continuo sem compreender porque não divulga o Ministério das Finanças os habituais quadros.

Eleições e Orçamento

Olhar para as políticas e ciclos económicas e os ciclos políticos é sempre muito interessante.

Só conheço um trabalho para Portugal de Manuel Agria em que confronta as despesas de investimento com os calendários eleitorais - lá seguem o padrão esperado, aumentam os investimentos quando se aproximam as eleições.

Outros trabalhos internacionais - não me recordo exactamente das referências - mostram que a decisão do eleitor tem um racional - a sedução não pode ser feita nem muito perto das eleições (demasiado descarada?) nem muito afastada (a memória é curta) para que o voto vá para quem usou as políticas económicas para ganhar as eleições.

O PS pode ter a sua vitória eleitoral assegurada por causa da crise - é cedo para o dizer porque, apesar da longa lista de presentes no Orçamento a crise económica chegará aos nossos bolsos com gravidade já em 2009 - já o eleitor se pode ter esquecido destas ofertas - e a violência da crise pode ser tal que a decisão de votar acabe por ser uma decisão de castigar.

Se as eleições fossem no início do ano de 2009 dificilmente o PS perderia o poder. A crise, neste momento parece que salvou o Governo. Vamos no fim de 2009.

A crise não salvou os Republicanos de George W. Bush

Mas a crise pode ter salvo Gordon Brown - menos mediático que Tony Blair, Browm identificou bem o problema - um dos maiores segredos para encontrar as soluções.

Entrevistas - rumores e opiniões

A propósito de jornalismo:

Deve um jornalista fazer uma pergunta apoiada num rumor?

Perguntas como: "O crescimento previsto para a economia não é optimista?" Valem a pena?

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Um Orçamento de fartura... Para quem a factura?

A proposta de lei do Orçamento do Estado para 2009 distribui benefícios por todos.
Até os funcionários públicos vão ter, no mínimo, um aumento salarial de 2,9%, o maior da década.

Como é possível? Quem paga?
Como não tivémos ainda acesso ao Relatório do Orçamento é difícil de compreender. Só s epode ler a proposta de lei.
Para já acabou a mensagem da redução do défice.
A crise casou com eleições.

Um desabafo:
Mais um Orçamento, mais um dia de loucura nos jornais.
Os governos sabem que todos os anos têm de fazer o Orçamento para entregar até 15 de Outubro à Assembleia da República. E todos os anos se atrasam. E todos os anos há incidentes de última hora. Enfim... pouco muda. Mesmo com "pen" e muitos computadores.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Fome que dá em fartura

Hoje é dia de entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2009.
Com a informação que já existe parece que vamos estar perante um Orçamento historicamente expansionista. Ver em Negócios

No segundo dia após a o fim de semana de Washington e Paris as bolsas continuam bastante animadas e mais importante ainda as taxas de juro Euribor e Libor caem significativamente.

Fomes e farturas...

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A boa notícia


Conhece bem a economia portuguesa, esteve cá como aluno do MIT após o 25 de Abril e quem lidou com ele como Silva Lopes, ex-ministro das Finanças e ex-governador do Banco de Portugal, viu nele já um génio.
Muito critico da administração Bush, foi igualmente muito critico do Plano Paulson e elogiou o programa de Gordon Brown que acabou por servir de inspiração à iniciativa europeia para combater a crise e será também seguido por Paulson, como o disse na sexta-feira após a reunião do Grupo dos Sete. Como se pode ler no seu blogue no NYT.
Um dos livros dele que gostava de reencontrar é sobre comércio internacional e localização da indústria em que usa como exemplo Portugal e Espanha. Já nessa altura previa que a abertura do mercado iria gerar um período de divergência em Portugal.
Há muito que se esperava que fosse Nobel mas é muito novo para Nobel, é mais keynesiano que liberal... ajustado aos tempos que correm. Como alguém disse, o Prémio Nobel é pró-cíclico.

Os mercados gostaram... do apoio do Estado

A iniciativa dos Quinze no Acordo de Paris deste domingo agradou aos investidores e aos bancos:

Que fizeram os Governos?

  • Comprometem-se com dinheiro em cima da mesa a garantir a emissão de dívida por parte dos bancos - e não como inicialmente se disse, na sequência das declarações de alguns líderes europeus, garantias para as operações de mercado monetário interbancário
  • Comprometem-se com dinheiro também em cima da mesa e dos contribuintes a injectar dinheiro nos bancos

Muito há a dizer sobre o que se passou e está a passar. Por enquanto ainda estamos a apagar o fogo. Quando se começar a reconstruir é preciso repensar o sistema financeiro - como criar um mercado num sector onde as empresas/os bancos não podem falir?

Para já as emissões de dívida pública vão aumentar, a dívida que deveria ser dos bancos, isto é, dos seus accionistas, passa a ser do Estado, isto é, dos contribuintes.

Não me parece que se possam esperar efeitos inflacionistas desta actuação dos governos e bancos centrais. Houve uma brutal destruição de liquidez com a desvalorização de activos com os efeitos que já se começam a sentir na queda da actividade económica.

Portugal não poderia deixar de oferecer uma garantia, mesmo que a banca não precisasse. O elevado endividamento português intermediado pela banca recomendava toda a cautela. E se todos os outros países fizeram o mesmo, a banca portuguesa não poderia ter a desvantagem de não ter a possibilidade de ter a sua emissão de dívida com garantia de Estado.

domingo, 12 de outubro de 2008

A Europa mais unida pela necessidade



A Cimeira da Zona Euro mantém o "cada um por si" mas com orientações coordenadas.
Aqui se pode ler o comunicado que estabelece duas grandes áreas de acção:
  1. Mercados interbancários por via de garantias aos bancos para reactivar o mercado de crédito;
  2. Recapitalização dos bancos nas mais diversas formas, desde a entrada no capital - como os ingleses estão a fazer - até á aquisição de activos de qualidade - a opção dos espanhóis.

O Governo português aprovou hoje em Conselho de Ministros uma garantia no montante global de 20 mil milhões de euros à qual podem aceder os bancos com dificuldade de acesso a liquidez no mercado monetário interbancário.

Vamos ver como abre a bolsa de Tóquio e depois as bolsas europeias. Mais importante ainda é preciso ver os efeitos nas taxas de juro interbancárias na Europa. O efeito no mercado da Euribor e da Libor.

Seis semanas depois da crise esta é a acção mais coerente, focada e com uma abordagem global respeitando as especificidades de cada país e, de alguma forma, também seguida pelos Estados Unidos como se ouviu na sexta-feira pela voz de Paulson.

Se esta actuação não tiver efeitos...enfim. Vamos ver.

Gordon Brown está na fotografia da Zona Euro por ter participado no início da reunião. O Plano de Paris foi inspirado no Plano britânico.

sábado, 11 de outubro de 2008

As (inevitáveis) nacionalizações na banca

Quando as armas tradicionais de mercado não funcionam entra em acção a artilharia pesada: a nacionalização.
Mais de um mês depois da violenta réplica da crise financeira iniciada há quase 15 meses, as autoridades da Europa e dos Estados Unidos deixam cair a ilusão de conseguirem resolver o problema "cada um por si" e desistem das convicções.
  • Preparam-se para um plano global e em cooperação. George W. Bush e Angela Merkel enganaram-se na capacidade de lidar com o problema ao nível nacional.
  • Preparam-se para entrar nos capitais dos bancos, ou seja, para nacionalizarem a banca, adoptando o modelo do Reino Unido como se pode ler aqui e aqui na declaração do Grupo dos Sete. A nacionalização foi pela primeira vez colocada como solução para o problema por Willem Buiter e depois acabou por ser subscrita pela esmagadora maioria dos economistas, incluindo Martin Wolf. Paul Krugman também. E os 750 mil milhões de dólares do Plano Paulson podem servir exactamente para isso, para nacionalizar.

A intervenção directa, via nacionalizações ou mesmo via administração das taxas de juro, face à dimensão da catástrofe parece-me ser a única solução. Um modelo seguido pela Suécia nos anos 90.

Devemos estar satisfeitos? Claro que não. Vai sair-nos do bolso - dos contribuintes. Mas é a melhor de todas as soluções, embora não seja igualmente negativa:

  1. Deixar cair os bancos era, 'by the book', a melhor solução: quem correu riscos excessivos e não soube gerir o seu negócio perdia o dinheiro; desincentiva aventuras futuras. MAS o efeito do ajustamento teria um custo tal que poderia matar o doente - a população em geral - com a cura.
  2. Compra activos tóxicos, como prevê (ou previa) o Plano Paulson é de longe a pior das soluções: premiavas com o dinheiro dos contribuintes, quem tinha feito mais asneiras e incentivava a novas e mais asneiras no futuro abrindo portas para uma próxima crise pior ainda que esta.
  3. Nacionalizar ou mesmo confiscar é um "castigo" tão violento para os accionistas como a falência. Há um racional para o dinheiro dos contribuintes: estão a pagar para não perderem as suas poupanças - e não para salvar quem fez asneira -, estão a pagar para minorar os efeitos económicos da crise financeira, enfim, estão a pagar para que as perdas de emprego sejam as mais baixas possíveis.

Mas a seguir deve proceder-se a privatizações sem premiar os que se revelaram incapazes de serem accionistas dos bancos.

As notícias da semana foram péssimas: Wall Street teve a pior semana desde 1933; a bolsa portuguesa regista a pior semana de sempre tal como as bolsas mundiais e com bolsas suspensas em alguns países.

Vamos ver se as autoridades conseguem trazer a calma neste fim de semana: Grupo dos 15 do euro reunidos domingo em Paris; Bush apela a uma resposta séria à escala global e Angela Merkel parece ter mudado de ideias e está com Nicolas Sarkozy na defesa de um plano europeu à inglesa e não à americana.

E ainda a instabilidade entre vizinhos ou a guerra dos depósitos entre o Reino Unido e a Islândia.

Optimimo e realismo

Várias criticas têm sido feitas à falta de realismo e excesso de optimismo sobre a actual crise financeira.
Dante critica aqui dizendo, nomeadamente que "o optimismo inculcado há uma semana, não foi útil. Eram necessários sim, um realismo e uma informação completa, simples e acessíveis à população portuguesa."
Diria que:
  1. É espantoso como as autoridades dos EUA e Europa levaram tanto tempo a perceber a dimensão da crise. É preciso lembrar que esta crise começou em Agosto do ano passado - para quem acompanha os mercados bolsistas em Julho de 2007.
  2. A subavaliação que, hoje se vê, foi feita leva a concluir que as autoridades, designadamente os reguladores desconheciam grande parte do que os bancos andavam a fazer (coloco de parte a hipótese de serem irresponsáveis pois os problemas viriam sempre a cair-lhes em cima)
  3. A desorientação que revelaram desde a intervenção na Freedie e Fannie a 7 de Setembro - já lá vai mais de um mês - é mais um indicador de que foram apanhados de surpresa pela violência desta réplica da crise financeira.
  4. A reunião dos Quatro grandes europeus - França. Alemanha, Itália e Reino Unido - na semana passada foi um gravíssimo erro. Se não tinham acordo não se deveriam ter reunido.
  5. As declarações do tipo "faremos tudo o que for necessário para garantir os depositantes" - dita por todos como sintetiza Buiter de nada serviram para reanimar o mercado de crédito. Mas serviram para impedir que a situação se agravasse com um pânico bancário.
  6. Até agora não tenho razões para considerar que o Governo português não está a gerir bem a situação. Há pouca informação, é verdade, mas não há grandes sinais de instabilidade. E quem conhece os grandes números da economia portuguesa sabe que esta crise é particularmente perigosa para um país com um elevado nível de endividamento. Quanto à arrogância do primeiro-ministro, não é muito diferente do que sempre foi.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A revolta das taxas de juro



O mecanismo de transmissão das taxas dos bancos centrais às taxas de mercado está seriamente danificado. Os bancos centrais baixaram as taxas de referência e as taxas de mercado - as Libor e Euribor - subiram alargando a sua distância das taxas de referência como se pode ver nos gráficos para a Área do Euro e para os Estados Unidos.
A política monetária não está a funcionar. A política orçamental está teoricamente limitada pelo Pacto de Estabilidade e não tem os melhores instrumentos para combater esta crise.
Começam a surgir as medidas de excepção:
- O membro da Comissão Executiva do BCE Lorenzo Bini Smaghi defendeu em entrevista ao Il Sole 24 Ore a fixação administrativa de uma taxa de juro para o crédito às famílias, uma vez que a Euribor deixou de companhar a taxa do BCE.
As nacionalizações parciais de bancos a que temos assistido começam a parecer naturais face a actuações que se perspectivam de administração de mercados.
A rapidez com que a organização da economia está a mudar...


quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Um receio confirmado - juros de mercado não caem

Como ontem receei, a descida das taxas de juro por parte dos bancos centrais não foi acompanhada pela redução das taxas de mercado - pelo contrário, as taxas subiram, as Euribor e as Libor.

Presidente do BCP em entrevista na RTP

O presidente do BCP deu uma entrevista à RTP - não consigo encontrar o vídeo online.

ACTUALIZAÇÃO - o vídeo pode ser visto aqui
De memória:
Carlos Santos Ferreia afirma que a banca portuguesa não terá problemas, que já terá sido tudo escrutinado pelos bancos e pelas autoridades, que não há planos de contigênia e que em princípio a banca já fez o que tinha a fazer para enfrentar os tempos que correm e ainda que a liquidez está a ser gerida com extrema cautela e sem cortes cegos no crédito.

A crise - Começa a ser preocupante

Confesso que começo a construir perspectivas bastante sombrias para a economia. Esta crise financeira está a ser muito difícil de resolver.
Hoje os sinais foram especialmente preocupantes e espero que quinta-feira estas nuvens se desvaneçam:

- seis bancos centrais baixaram as taxas de juro mas as bolsas caíram e, mais grave, as taxas de juro formadas nos empréstimos entre os bancos não deram sinais de queda, pelo contrário, parecem ter alargado a diferença em relação às taxas, no caso, do Banco Central Europeu.
Este sinal tem de ser confirmado hoje, quinta-feira, às dez da manhã quando os bancos, nas suas transacções fixarem a Euribor e a Libor.

- se as taxas de juro de mercado, as Euribor, não descerem, aproximando-se da taxa de referência do BCE - agora em 3,75% - a política monetária revela-se ineficaz para baixar o preço do dinheiro tal como as cedências de recursos (liquidez) pelos bancos centrais, que também não parecem conseguir estabilizar o mercado do crédito. Como se existisse um buraco negro que absorve todo o dinheiro do sistema.

- as taxas de juro dos bancos centrais começam a aproximar-se perigosamente de zero - a dos Estados Unidos está já em 1,5%. A eventual necessidade de novas descidas - como aliás já prevêem alguns analistas quer para os EUA como para a zona euro - tornam esta perspectiva de ineficácia ainda mais assustadora - está demasiado presente o que se passou da "Década Perdida" do Japão. Ou, mais grave, como se pode ler que foi a Grande Depressão e que Nicholas Bloom compara.

Vamos ver hoje como reagem os bancos na definição das taxas de juro interbancárias. Quem faz previsões não está muito animado:
``All the rate cuts in the world are not going to get the capital markets to start to
function,'' said David Brownlee who oversees $15 billion as head of fixed income
at Sentinel Asset Management in Montpelier, Vermont. ``The economic numbers are going to look horrific and injecting more liquidity is not going to help it.''

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Crise financeira com humor

Gosto especialmente

- da última parte quando o investidor diz que a crise será resolvida se os governos lhes derem o dinheiro que perderam;

- do reempacotamento do empréstimo ao quase sem abrigo em fundos com nome muito criativos.

- do aborrecimento que foi perguntarem: mas afinal quanto vale a casa.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Quando quem sabe está perplexo

Quando quem sabe e tem experiência viu neste 6 de Outubro um dia sem racional ...

Aqui no Especulador Prudente:
"Nos mais de 25 anos de acompanhamento dos mercados, NUNCA assisti a algo tão perigoso como o que estamos a viver. Aconteceram quedas brutais e Bear Markets sim senhor, mas nunca o sistema financeiro esteve tão seco como o está hoje.
O comportamento de hoje assemelha-se à Capitulação, termo que descreve a venda de activos ao desbarato e em grandes quantidades, com que termina um Bear Market, faltando unicamente o volume, pois os volumes negociados foram "normais"."

E quando quem sabe e tem experiência, sem racional em que se apoiar olha para as estrelas, via Especuldor Prudente no Trader Tom:
"(...)why are they so reluctant to lend even at high rates???
--also GE capital had to go to warren buffet and issue more stock to raise capital--GE is AAA rated and should have been able to raise this amount easily-I sent an article about the panic of 1837 which was based on the same thing that is going on now-A WORLD WIDE SQUEEZE ON CREDIT-what is also interesting is that the astro aspects from 1837 are present now in the same positions--this is why i am so cautious--"


A "astroeconomics" foi usada também nos tempos de elevada volatilidade que se seguiram ao 'crash' das dotcom em 2000.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Segunda-feira negra - 6 de Outubro

"Aconteça o que acontecer as poupanças dos portugueses em qualquer banco em Portugal estão garantidas"
Ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos no Luxemburgo hoje

Não há um aumento do limite de garantia dos depósitos - 25 mil euros - mas sim uma afirmação política de que se salvará qualquer banco em território português que enfrente dificuldades. Como aliás já se antevia e já se tinha dito aqui.Depois de o Reino Unido ter salvo o Northern Rock é politicamente impossível deixar cair um banco.

Hoje foi mais um dia de loucura - pânico absoluto nas bolsas do mundo inteiro, da Ásia, a primeira a entrar na semana, aos Estados Unidos.
A bolsa de Lisboa foi uma das que mais desceu com a EDP e a Galp a liderarem as quedas. Um símbolo dessa irracionalidade: empresas como estas são, quando a racionalidade impera, activos de investimento a longo prazo já que têm proveitos praticamente estáveis - ainda que reguladas não registam perdas de clientes, ninguém deixa de ter luz ou reduz drasticamente o consumo de combustível.

Porquê? E Porquê?
Resposta difícil. Depois da aprovação do Plano Paulson esperava-se alguma acalmia.
No fim-de-semana o que se passou?
Sim, viu-se a Europa desunida, exposta na sua falta de instrumentos para enfrentar uma crise destas.
O encontro do Grupo dos Quatro parece hoje ter sido um erro. França, Alemanha, Reino Unido e Itália não se deveriam ter reunido à margem dos 27 numa altura em que os cidadãos em geral precisam de confiança, de sinais de estabilidade.
Um problema ainda mais grave quando se viu os países da UE a entrarem numa espécie de "guerra dos depósitos" - como dizia o El Pais , num processo iniciado pela Irlanda - mas com dinheiro na mesa - e prosseguido pela Grécia e no fim de semana pela Alemanha.
E ainda a lançar incerteza quando se viu a Holanda a nacionalizar o braço holandês do Fortis numa decisão unilateral quando se estava a prosseguir uma acção conjunta Holanda, Bélgica Luxemburgo.
Somando a isto assistimos no fim-de-semana a Alemanha a não conseguir salvar o Hypo Real State - acabou por chegar a acordo ontem à noite numa corrida contra o tempo da abertura das bolsas asiáticas. E depois de verificar que o buraco era maior do que o inicialmente contabilizado.

Enfim. Quando se pensa que a instabilidade se está acalmar ela regressa com mais violência.

O Presidente e a crise

Vale a pena ler o discurso do Presidente da República neste 5 de Outubro.
O Presidente está preocupado com a crise financeira, considera que o Governo não está a ter a melhor actuação nesta conjuntura e ainda que se está a distanciar da realidade dos problemas que os portugueses enfrentam. E ficam ainda recomendações para o Orçamento do Estado de 2009.

Confesso que não compreendo as razões que levam o Governo a evitar falar sobre a crise financeira, a dizer formalmente como a vê e como a está a enfrentar.

O fim de semana foi marcado por mais instabilidade na Europa.
Na Alemanha o Governo já chegou a acordo - já no início da noite - para apoiar o Hypo Real State em conjunto com bancos privados.
O caso Fortis: a Holanda decidiu nacionalizar o braço holandês do banco o que inclui a parcela relativa ao ABN Amro. Há quem analise esta acção como uma vingança de Haia à compra do seu banco.

A Alemanha anunciou também no fim de semana que garante os depósitos bancários a cem por cento. É o terceiro país da UE a fazê-lo. Primeiro foi a Irlanda e depois a Grécia. Angela Merkel foi indiferente às criticas do Reino Unido à Irlanda e aos alertas da Comissão Europeia.

Em Paris no sábado ficou decidido que cada país tratará dos seus bancos em coordenação com os outros Estados membros.

Hoje, segunda-feira há reunião dos ministros das Finanças dos Vinte Sete.
A vida na União não está fácil. A União sabe que está incompleta para enfrentar esta crise.

Em Portugal o Governo parece não saber o que dizer sobre a crise financeira.

domingo, 5 de outubro de 2008

A depressão - uma visão

Via Causa Liberal uma visão de America's Great Depression

A banca está sólida?

Este meu post desencadeou algumas reacções criticas - Gaston fala em optimismo da vontade, anónimos acusam mensagens de manipulação rapidamente verificadas pelo cruzamento de informação.

Há uma reflexão que se poderia fazer sobre como devem actuar os media em situações de extrema instabilidade - como a que vivemos nestes tempos no mundo financeiro.
Numa reflexão rápida diria que o caminho é simples: recusar a manipulação, cingir-se aos factos, analisar com base em factos e declarações das autoridades, evitar fazer previsões e/ou, em suma, contribuir para o esclarecimento da situação respondendo a questões concretas. Foi o que o
Negócios fez lançando um fórum e respondendo a perguntas dos leitores, algumas das quais com respostas dos bancos às quais eram dirigidas. É simplesmente jornalismo, como sempre deve ser.

Quanto à situações europeia e portuguesa reafirmo que não existem razões para nos preocuparmos. O que significa:
  1. que podem obviamente existir alguns bancos em Portugal com problemas de acesso a liquidez - é óbvio que serão aqueles que não captam depósitos ou têm um número reduzido de balcões; Veja-se aqui o que diz o FMI sobre a banca portuguesa (ponto 28) e aqui uma síntese
  2. que os bancos em geral registarão perdas -algumas determinadas pelo facto de terem de contabilizar os seus activos por valores de mercado - e que poderão de precisar de reforçar capitais;
  3. que também na Europa, como se viu e se poderá ainda ver, haverá bancos com problemas.

Mas face ao que já se passou até agora nos países europeus, nenhum país vai deixar cair um banco. Como já me afirmaram, depois do que o Reino Unido fez com o Northern Rock - garantindo a totalidade dos depósitos dos clientes e salvando o banco -, nenhum governo tem margem política para deixar cair um banco no seu país. Obviamente que tudo isto será caro e pago pelos contribuintes.

Os países europeus vão resolver os problemas caso a caso o que lhes dá mais margem - era um erro tentar elaborar neste momento, com a casa a arder um plano centralizado, o «não» da Alemanha e do BCE a um Plano tipo Paulson é muito sensato. Veja-se a confusão que deu o plano Paulson nos Estados Unidos, até ser aprovado na sexta-feira. E como vai sair caro, com todas as cedências que foi ainda preciso fazer para garantir os votos necessários.

Por último: a crise financeira ainda não passou e segue-se a crise económica, neste momento já tornada inevitável. O próximo ano promete dificuldades, para Portugal e para a Europa. A economia portuguesa vai estagnar, é já a previsão do Fundo.

Uma semana negra para a banca


A semana foi violenta, preocupante mas menos assustadora que a anterior, no dia 16 de Setembro terça-feira em que vimos as taxas de juro interbancária nos Estados Unidos - a Libor do dólar 'overnight' - chegar aos 6% quando a taxa de referência está nos 2%. Um violento sinal da falta de liquidez.



Nesta última semana o furacão com o olho em Washington - como titulava na terça-feira o The Times - chegou com violência à Europa.
Reino Unido, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, França e ainda Islândia viram-se envolvidos em operações de salvação de bancos. A Irlanda, num plano que ataca directamente o problema - a falta de confiança - resolveu garantir a 100% os depósitos bancários e algumas dívidas dos seus maiores bancos - o que envolve 400 mil milhões de euros. Veja-se aqui os montantes já injectados ou comprometidos - neste último caso a Irlanda.
Vivemos a pior crise financeira desde 1929. Disso não parecem existir dúvidas.